quinta-feira, 2 de setembro de 2010




A bem da verdade

* Por Marcelo Sguassábia

Ninguém há de negar que entre a história oficial e a real há sempre um abismo enorme. Nos fatos a que me atenho, alguns historiadores avaliam seu tamanho em 28 metros de altura por 12 de largura. Outros estudiosos afirmam serem superestimadas as dimensões do referido fosso, que não devem ultrapassar, segundo eles, 26,5 metros por 11,4.
Controvérsias métricas à parte, o que vem ao caso no momento são alguns episódios que urge serem publicamente reparados, especialmente aqueles relativos aos mais de 120 anos de desavenças bélicas entre o Reino de Patavina e o Condado de Lhufas.

Para que não se perpetuem injustiças, seguem alguns pontos finalmente elucidados, que desmistificam um sem número de embustes e falácias perpetrados mundo afora, o mais das vezes por gente que não tem o que fazer.
Está definitivamente comprovado que Olavinho Vai-Não-Vai, assim chamado por seu temperamento titubeante na função executiva de maneira geral e no trato com os amotinados do Levante de Aragão de modo particular, teve como conselheiro o Arquiduque de Chorumelas, e não Zolostro, o Precipitado.
A greve dos monges copistas pelo direito à meia passagem nas carroças foi na verdade julgada abusiva pelo Tribunal da Inquisição, sob o argumento de que eram desnecessários aos reivindicantes quaisquer meios de locomoção, por viverem na clausura.
Tomaso Vietri, o Flambado, recebeu essa alcunha por ter sido imolado na fogueira entre outubro de 1502 e março de 1503 (não que o supra-citado tivesse permanecido todo esse período ardendo em chamas; o intervalo de tempo refere-se à imprecisão da data de execução do mesmo).
Aqui se faça também a necessária errata e o desagravo a Isabel, a Dadivosa, durante a conhecidíssima porém nunca suficientemente estudada Batalha dos Aleijões. Célebre por introduzir no cardápio luso o mingau de serigüela, sabe-se agora que tinha por hábito tocaiar ambidestros e alocá-los nos serviços da Corte, como descascadores de beterraba, pajens dos infantes ou auxiliares dos alquimistas na produção de cicuta. Os demais – destros ou canhotos - eram mantidos nos calabouços de cabeça para baixo até que viessem a óbito por congestão cerebral ou inanição – o que ocorresse primeiro, conforme item 5, parágrafo 3 do regulamento encontrado no sítio arqueológico de Quatá
Não obstante a veemente reprovação do Barão de Almofadinhas, coube ao cônsul Onderóques instituir em Barbapácia a lei que regulamentou a obrigatoriedade dos crachás nas armaduras, para que não se dizimasse por engano os guerreiros aliados ao invés dos inimigos. O expediente, prático e eficaz, poupou milhares de combatentes das fileiras dos Habsburgos em terras catalãs.
Lulalah, o Oneroso, cuja sangria imposta ao erário público em muito superou o volume de sangue derramado em todas as cruzadas, foi o principal responsável pela disseminação da peste marrom-clara, mais amena que a negra, sua sucessora imediata.
A afirmação, tida como fidedigna pela comunidade acadêmica, consta no diário de Catarina, a Enxerida, amante do monarca.

* Redator publicitário há mais de 20 anos, cronista de várias revistas eletrônicas, entre as quais a “Paradoxo”

2 comentários:

  1. Onderóques, Barbapácia, Lulalah, o oneroso. Com esses nomes, até mesmo a temível Inquisição se reveste de humor, mesmo que negro, e sem contar o "flambado". Ai ai, Marcelo!

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  2. Maravilha de texto. No início estava levando a sério...rs.Nada como um belo texto onde o humor predomina. A ideia dos descascadores ambidestros é genial.Eu precisaria ser ambidestra pra dar conta de tudo que preciso fazer. Parabéns, Marcelo!

    Abraços

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