

Bodas de prata
* Por Aliene Coutinho
Bodas de prata. 25 anos de casada, ou melhor, de relacionamento. Ana programou tudo com antecedência. Comprou um pacote para Buenos Aires, com direito a passar um dia em Colônia Del Sacramento no Uruguai e claro, lingeries novas. Passaporte renovado, e um saque nas economias. Duas semanas antes estava tudo pronto. Depois de tantos anos juntos era o mínimo para passarem alguns dias juntos, longe de tudo e de todos.
Na véspera do embarque checou todos os itens, repassou com o marido os lugares que gostariam de visitar e conhecer, marcas de vinho, restaurantes e casas de tango. A cidade portenha os esperava com aquele friozinho típico de meio de ano. Abriu a mala mais uma vez e decidiu levar apenas um casaco, compraria outro e acessórios por lá, já estava mesmo levando um par de luvas, dois cachecóis, um chapéu de camurça de uma viagem anterior ao Canadá, e uma touca de lã que lhe dava um ar de francesa. Ah, as botas, uma nos pés e outra sem salto na bagagem. Calças jeans e de lã, dois vestidos chiques e blusinhas.
Quis conferir o que levava o marido, mas ele todo cheio de pose disse que não precisava. Alertou-a sobre o excesso de bagagem e como todo homem disse que levaria o necessário e com certeza bem menos peça que ela que sempre levava roupas demais e não usava nem a metade. Ana sorriu com a paciência que os anos lhe ensinaram para manter um relacionamento durante tantos anos.
Sim, eles tiveram seus altos e baixos. Todas as crises mencionadas em livros e revistas, as dos sete, catorze anos e por aí vai, mas ainda se gostavam do jeito deles, aprenderam a viver juntos, embora fossem muito diferentes. Ana era extrovertida, e um tanto estressada no sentido que tudo era para ontem. Ele quase introspecto, e em ritmo bem mais lento. Meio que se completavam. Muitas vezes ela “viajava” em sonhos e planos, e era ele que a chamava para terra. Eram assim e pronto. Os filhos preenchiam as lacunas. Os amigos os divertiam. E juntos curtiam as coisas boas que a vida os proporcionavam: teatro, cinema, shows, livros e viagens, como aquela que fariam.
No dia do embarque, quase perderam a hora. O celular não tocou, mas foi só pular da cama, tomar um banho rápido, chamar um táxi e sair correndo para o aeroporto. No guichê da companhia aérea, Ana se enrolou para achar o passaporte. O marido rapidamente sacou a identidade e aí veio a surpresa: a mocinha muito sem graça disse que ele não poderia embarcar. Sem renovar o passaporte, e com uma RG de mais de 20 anos, não seria aquela de militar da reserva que liberaria sua passagem. Sem tempo, eles se entreolharam buscando uma saída. Não havia. Cheio de remorso por não ter ouvido a mulher em relação aos documentos, a abraçou com carinho e disse: vai! Você merece descansar. Eu fico lhe esperando.
Até hoje Ana não sabe o que passou em sua cabeça. Deu-lhe um beijo e foi. Ficou cinco dias em Buenos Aires. Trouxe mimos e lembranças, tirou mais fotos do que de costume para mostrar até os detalhes quando voltasse, e cada taça de vinho foi saboreada com gosto de saudade.
* Por Aliene Coutinho
Bodas de prata. 25 anos de casada, ou melhor, de relacionamento. Ana programou tudo com antecedência. Comprou um pacote para Buenos Aires, com direito a passar um dia em Colônia Del Sacramento no Uruguai e claro, lingeries novas. Passaporte renovado, e um saque nas economias. Duas semanas antes estava tudo pronto. Depois de tantos anos juntos era o mínimo para passarem alguns dias juntos, longe de tudo e de todos.
Na véspera do embarque checou todos os itens, repassou com o marido os lugares que gostariam de visitar e conhecer, marcas de vinho, restaurantes e casas de tango. A cidade portenha os esperava com aquele friozinho típico de meio de ano. Abriu a mala mais uma vez e decidiu levar apenas um casaco, compraria outro e acessórios por lá, já estava mesmo levando um par de luvas, dois cachecóis, um chapéu de camurça de uma viagem anterior ao Canadá, e uma touca de lã que lhe dava um ar de francesa. Ah, as botas, uma nos pés e outra sem salto na bagagem. Calças jeans e de lã, dois vestidos chiques e blusinhas.
Quis conferir o que levava o marido, mas ele todo cheio de pose disse que não precisava. Alertou-a sobre o excesso de bagagem e como todo homem disse que levaria o necessário e com certeza bem menos peça que ela que sempre levava roupas demais e não usava nem a metade. Ana sorriu com a paciência que os anos lhe ensinaram para manter um relacionamento durante tantos anos.
Sim, eles tiveram seus altos e baixos. Todas as crises mencionadas em livros e revistas, as dos sete, catorze anos e por aí vai, mas ainda se gostavam do jeito deles, aprenderam a viver juntos, embora fossem muito diferentes. Ana era extrovertida, e um tanto estressada no sentido que tudo era para ontem. Ele quase introspecto, e em ritmo bem mais lento. Meio que se completavam. Muitas vezes ela “viajava” em sonhos e planos, e era ele que a chamava para terra. Eram assim e pronto. Os filhos preenchiam as lacunas. Os amigos os divertiam. E juntos curtiam as coisas boas que a vida os proporcionavam: teatro, cinema, shows, livros e viagens, como aquela que fariam.
No dia do embarque, quase perderam a hora. O celular não tocou, mas foi só pular da cama, tomar um banho rápido, chamar um táxi e sair correndo para o aeroporto. No guichê da companhia aérea, Ana se enrolou para achar o passaporte. O marido rapidamente sacou a identidade e aí veio a surpresa: a mocinha muito sem graça disse que ele não poderia embarcar. Sem renovar o passaporte, e com uma RG de mais de 20 anos, não seria aquela de militar da reserva que liberaria sua passagem. Sem tempo, eles se entreolharam buscando uma saída. Não havia. Cheio de remorso por não ter ouvido a mulher em relação aos documentos, a abraçou com carinho e disse: vai! Você merece descansar. Eu fico lhe esperando.
Até hoje Ana não sabe o que passou em sua cabeça. Deu-lhe um beijo e foi. Ficou cinco dias em Buenos Aires. Trouxe mimos e lembranças, tirou mais fotos do que de costume para mostrar até os detalhes quando voltasse, e cada taça de vinho foi saboreada com gosto de saudade.
* Jornalista e professora de Telejornalismo
Imaginei que o final fosse mais apimentado. Em vez de trazer fotos, trouxesse saudades de algum argentino.
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