segunda-feira, 30 de agosto de 2010


Replicante

* Por Alberto Cohen

Por incrível que pareça, ainda estou aqui.
Pálido, disforme, transparente,
escondido nos becos e vielas,
soluçando um sorriso e um palavrão,
mas, inexplicavelmente, ainda estou aqui.
Sobrevivente de mim, sobrevivente
de tudo que sonhei e que não fiz,
gritando olás que ninguém mais escuta,
desmesuradamente além do tempo estou aqui.
Sou menino, juro sou menino
que não conhece vias transversais,
ao mesmo tempo um fantasma que não sabe
e se ocultou com medo de morrer.
Das minhas ruas não conheço o novo nome,
nem consigo meu nome soletrar,
faço caretas, pulo e me disfarço
tentando ser igual aos desiguais.
Os olhos não me vêem e, no entanto,
enxergo todos neste mesmo olhar
enternecido com folhas que caem,
com borboletas e com verbo amar.
Estou bem aqui, você que passa
e não me vê na minha transparência,
já sou de ontem, mas de forma incrível,
invisível, ainda estou aqui... Possivelmente...

• Poeta e advogado de Belém/PA

Um comentário:

  1. Acho que somos todos replicantes...quando não nos
    enxergam, não nos ouvem.
    Abraços

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