sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Pílulas literárias 222


* Por Eduardo Oliveira Freire


NUDEZ

O Brasil não é para principiantes.”  TOM JOBIM
Jovem estrangeira faz topless na praia e é chamada de vagabunda por um grupo. Não entende a hostilidade, já que aqui é o país do carnaval, onde várias mulheres desnudas desfilam na Sapucaí. A turista percebe que o nu cultuado neste lugar é uma fantasia de símbolos e significados, logo, aceitável. Diferente da nudez vazia de conceitos.

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LIVRE

Adorava a época do carnaval, pois podia sair por aí sem que as pessoas prestassem tanta atenção nele. Como todos estavam fantasiados, seu rosto deformado se passava por uma fantasia de monstro. Quando a semana da folia passava, enquanto todos retiravam as máscaras, ele colocava novamente uma para ocultar seu rosto desfigurado.
Assim, travestia-se o resto do ano.

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DECISÃO

Talvez já exista uma história parecida com esta que acabei de escrever. Mas, publicarei assim mesmo e fim de papo.

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MÃE

 – Estamos sozinhos no prédio, fechei bem as portas. Mãe quer comer alguma coisa? O Ricardo ligou ontem. Vou ligar a tevê. Contei-lhe que o síndico brigou com a vizinha de cima? Ela não queria a vaga sorteada, foi um bafafá. Mãe, ontem tive pesadelo. A tarde está bonita, não acha? Outro dia andava pelas ruas do centro e evitava ver o meu reflexo nas vitrines, não queria saber o que me desejavam revelar. De repente, vi uma pessoa conhecida que me observava. Pena. Saí da rua principal e caminhei pelas ruelas adjacentes. Mas ganhei o dia, entrei na livraria e comprei o livro que tanto queria. Mãe o telefone toca, já volto... Era um colega da faculdade, me perguntava do dia da entrega do trabalho, por falar nisso nem comecei o meu. Lembra, mãe, na época do colégio ficava em cima de mim para cumprir os prazos? Tá me ouvindo mãe? Não quer dá uma olhada na janela? Só tem figura engraçada pulando carnaval. A música alta faz vibrar o vidro da janela. Ricardo levou a família pra Angra, foi convidado por um amigo do trabalho. Mas, disse que podia ligar a hora que eu quisesse. É um bom irmão, apesar de não sermos amigos. O único elo que temos é você, mãe. Tem certeza que não quer comer algo? Novamente o telefone... Dispensei logo, é a chata da Candinha. Só sabe dizer coisas desagradáveis, por isso você nunca gostou dela. Mãe, hoje você está estranha... Vou ligar pro Ricardo.

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* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/



Um comentário:

  1. O diálogo com a mãe fez-me lembrar de "Psicose" no estilo de Hitchcock.Os outros eu comentei no Facebook.

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