Saliva
* Por Gustavo do Carmo
Lucrécio estava sentado em um quiosque
no calçadão de Copacabana. De frente para a praia. Na areia crianças brincavam,
um homem falava sozinho, um ambulante pregava o seu “Olha o Mate!” e um casal
namorava perto do mar enquanto ouvia a arrebentação forte das ondas. O rapaz
solitário assistia a tudo isso.
Ao mesmo tempo sentia o cheiro de
maresia que logo era substituído pelo aroma de pizza vindo do restaurante da
orla, lá do outro lado da calçada, mesmo afastado pelas seis faixas da Atlântica
por onde os carros riscavam o asfalto e buzinavam.
O côco esquentava esquecido sobre
a mesa da barraca. Pediu agora um refrigerante bem gelado. Voltou a observar o
casal de namorados na areia. O clima romântico foi interrompido pelo barulho de
britadeira da obra do calçadão, que exalava uma poeira que fez Lucrécio
espirrar.
Depois chorou pensando em Zuleide
ficando com outro quando sentiu alguém lhe tocar nas costas. Era Zuleide. Não
pensou duas vezes. Agarrou-lhe e deu um beijo que misturou saliva ao gosto de
refrigerante bebericado há cinco minutos. Levou um tapa na cara que deixou o
nariz sangrando.
* Jornalista
e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance “Notícias
que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos -
Entre outros contos”.
Seu blog, “Tudo cultural” - www.tudocultural.blogspot.com é bastante freqüentado por leitores
Nenhum comentário:
Postar um comentário