Traições
* Por Rodrigo
Ramazzini
Sábado. 15h37mim. Casa do Marlon.
- Tenho uma para te contar...
- Fala...
- A Mariana me falou uma coisa ontem que...
Que...
- O quê? Desembucha, Rafael!
- Marlon... Ontem, eu e ela estávamos no
carro e tal...
- Tu não me disseste que iria largar
esta mulher de mão? Que não queria mais?
- Pois é... Pois é... Mas, acabamos
saindo de novo e quando eu fui largá-la em frente a sua casa, ela me deu um
beijo e sussurrou no meu ouvido “sabia que eu te amo?”...
- Putz! Agora fudeu, cara! Fudeu...
Mulher quando diz “eu te amo” nunca mais larga do pé! Estás enrascado...
- Pois é...
- E o que tu respondeste?
- Pois é...
- Eu não estou acreditando!
- É que ficou aquele silêncio no
carro... E eu retribuí o carinho!
- Putz, velho! Se tu não gostas da
mulher por que disseste isso para ela?
- Foi no impulso! Para agradá-la! Sei lá
o que meu deu na hora...
- Ou gosta e não quer me falar?
- É que...
- Estou vendo que perdi o parceiro para
a festa de hoje à noite, não?
- Não! Não...
- Tu não estás pensando em namorar a
Mariana. Estás?
- Assim...
- Faz quanto tempo que vocês estão
saindo?
- Uns dois meses...
- Sinceramente, eu acho que tu não tens
que se apegar a esta mulher. Já te falei sobre o passado dela. Além do mais, tu
estás novo para andar por aí “casado”... Vamos aproveitar a nossa solteirice,
parceiro! Olha o monte de mulher que tem por aí dando sopa...
- Pois é...
- Festa de hoje confirmada? Não vais me
deixar na mão, né?
- Está bem... Está bem... Convenceu!
Festa confirmada. Te pego aqui às 23 horas...
- Ok!
- Então, vou lá...
- Ah! Não se esquece de enrolar a
Mariana. Não quero que ela apareça lá e faça um barraco, pois tu tens que ver
as mulheres que irão com a gente. Só modelo! Como diz um amigo: só “mulher
série A”...
- Pode deixar...
Rafael e Marlon se despediram. Logo que
chegou a sua casa Rafael ligou para Mariana e inventou a desculpa da morte de
um tio por parte de pai. Com isso, teriam que cancelar o cinema marcado para
aquela noite de sábado. Ela prontamente compreendeu e ofereceu qualquer ajuda
necessária. Enquanto isso, Marlon criava um perfil falso no Facebook e deixava um
recado para Mariana dizendo que Rafael estaria à noite em uma balada, no endereço
X. Nascia a dúvida na cabeça de Mariana.
Sábado. 23h59mim. Na balada.
- Rafael! Eu não te disse que as
mulheres eram top, hein?
- Pois é...
- Te solta, meu irmão! Hoje, tudo é
festa!
Rafael e Marlon começaram a ingerir
bebidas alcoólicas e a dançarem com o grupo de mulheres que os acompanhavam na
balada. Rapidamente, estavam integrados e interagindo. Apresentada por Marlon,
Rafael começou a conversar com uma morena de cabelos longos, pele clara e que
usava aparelho ortodôntico. À medida que o tempo passava e os efeitos etílicos
eram sentidos, a intimidade e a atração de Rafael pela morena aumentavam. O “empurrãozinho”
que faltava foi incentivado por Marlon:
- Vocês vão esperar a festa toda para se
beijarem?
Rafael e a morena trocaram olhares e se
beijaram. Neste instante, Mariana entrou na balada e flagrou a cena.
Transtornada, em um impulso que mesclava ciúmes e ódio, beijou como retaliação o
primeiro homem que lhe cruzou o caminho. Rafael desmoronou ao vê-la nos braços
de outro. Mariana encarou-lhe e se dirigiu em direção à porta da balada. Rafael
fez menção de ir atrás, mas Marlon o impediu:
- Não! Eu tinha te avisado sobre a
Mariana...
Domingo. 16h17mim. Porta da casa da
Mariana.
- Oi, Marlon! Você aqui?
- Pois é, Mariana! Vim ver como você
está... Fiquei preocupado... Sei que a gente não tem muita intimidade... Mas,
eu assisti tudo que aconteceu ontem na balada e tal...
- Ah, sim! Pois é... Entra... Vamos ao meu
quarto...
Domingo. 16h19mim. Quarto da Mariana.
- Obrigado pela sua preocupação, Marlon!
- Que isso! Como você está?
- Mal! Muito mal! Arrasada!
Decepcionada!
- O Rafael viajou na tua... Bem que eu o
avisei... Eu disse que tu eras uma mulher especial, linda, que merecia respeito
e ser tratada com carinho...
- Obrigado pelas palavras!
- Ele quem insistiu para irmos à
festa...
- Ah, é?
- Foi... Eu falei: tu estás praticamente
namorando a Mariana... Ele respondeu: eu não tenho namorada! Vamos para a
festa!
- É um cachorro! Sem vergonha! Como eu
pude me enganar tanto...
- Eu, sinceramente, nunca faria isso
contigo... Eu não sei como ele teve coragem... É meu amigo, mas ele fez uma
burrada... Tu és uma mulher para amar a vida inteira, Mariana!
- Obrigado!
- Eu quero que tu saibas que pode contar
comigo, Ok?
- Ok! Obrigada.
- Pode contar comigo para tudo mesmo,
viu? Tu nem sabes o carinho que tenho por ti...
- Marlon...
- Sério! É um sentimento...
- Chega! Eu não acredito nisso! Tu
vieste na minha casa para dar em cima de mim? Achando que eu carente iria cair
na tua lábia e nos teus braços? Que horror! Que falta de consideração com o
Rafael... Saí daqui agora!
- Mariana! Não é isso...
- Agora!
Domingo. 17h23mim. Ligação de Marlon
para Rafael.
- Alô!
- Rafael! Pode falar?
- Claro!
- Tenho uma coisa não muito boa para te
contar...
- Fala...
- A Mariana está espalhando boatos de ti
por toda a cidade. Falou que...
Marlon encerrou a ligação e sorriu.
Rafael não acreditaria em Mariana quando ela contasse que ele dera em cima
dela. Perturbado pelo fato narrado por Marlon, associado ao episódio na balada,
Rafael decidiu ir atrás de Mariana e tirar satisfações. Foi até a sua casa. Lá,
por cerca de meia-hora, eles discutiram a relação e “lavaram a roupa suja”,
dirigindo-se com acusações e palavras ofensivas um ao outro. Não conseguiram se
entender. O fim do relacionamento estava decretado. Rafael deixou a casa de
Mariana e rumou para a sua residência. Já Mariana sentiu uma intensa crise de
stress e falta de ar, tendo que ser levada pelo serviço de urgência para o
hospital da cidade.
Dias depois.
No hospital, Mariana passou por uma
bateria de exames, sendo diagnosticada com uma doença grave e em estágio
avançado no coração. Os médicos não entendiam como a enfermidade não fora
detectada anteriormente e não apresentara nenhum sintoma. Ela teria que ficar
hospitalizada e se a medicação não surtisse efeito, apenas um transplante do
órgão resolveria a situação.
A notícia sobre a doença de Mariana
deixou Rafael transtornado. O sentimento de culpa apoderou-se da sua
consciência. Chorou copiosamente por vários dias seguidos. A dúvida se a
visitaria ou não no hospital rodeava os seus pensamentos. Quantas coisas
ficaram por serem ditas, desculpas pedidas e a declaração que no fundo a amava.
Teria uma nova chance de dizer isso a ela? Quando decidiu ir ao hospital, era
tarde demais. Mariana sofrera uma parada cardíaca na tarde de uma terça-feira e
os médicos não conseguiram reanimá-la.
No velório.
Em frente ao caixão de Mariana, Rafael
chorava intensamente pela perda da amada e pela carga de culpa que carregaria
pelo resto da vida. Enquanto isso era abraçado por Marlon, que tentava
consolá-lo:
- Deus quis assim. É o destino...
* Jornalista
e contista gaúcho
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