sábado, 31 de maio de 2014

Infinito e eternidade


O infinito e a eternidade são dois conceitos muito citados, mas não compreendidos por ninguém. Não há como compreendê-los. Um, refere-se ao espaço, tão extenso que não teria início e nem fim. Você consegue entender, mas entender mesmo algo assim? Claro que não, ora, ora. Já a eternidade tem a ver com tempo. Como o infinito, nunca começou e jamais terminará. Como conceitos desse porte podem caber em mentes limitadíssimas, como as nossas, de dimensões ínfimas e, sobretudo, perecíveis? Não cabem. Sempre que quero exercitar o cérebro à exaustão, antes de empreender algum novo projeto literário, medito nisso. Não chego a nenhuma conclusão, claro. Mas considero essa atividade insuperável exercício mental.
  
Andei comparando as opiniões de alguns gênios a esse propósito; Fernando Pessoa, por exemplo, aposta em nossa impossibilidade de entender esses conceitos. Concordo com ele. O notável escritor dos heterônimos escreveu: “Se o nosso espírito pudesse compreender a eternidade, ou o infinito, saberíamos tudo. Até podermos entender esse fato, não podemos saber nada”. Os cientistas, todavia, acham que entendem os dois conceitos. E negam a existência de ambos. “Determinam”, por exemplo, os limites do universo, que volta e meia são forçados a revisar, sempre que os telescópios alcançam mais longe. Não faz muito, afirmavam que o ponto final dessa imensidão absurda situava-se a oito bilhões de anos-luz. Atualmente, estenderam-no a por volta de treze bilhões de anos-luz. Tolice. Admitam que isso não passa de mero “chute”, ora bolas.

O pitoresco é que, quando você questiona essa delimitação, é olhado com menosprezo, como se fosse o suprassumo da ignorância. Esses cientistas recorrem a complexos cálculos matemáticos, portanto lógicos, para fundamentarem suas conclusões. Mas quem garante que a lógica rege o universo? Ou, pelo menos, que se trata desta “lógica” humana, e não de outra, infinitamente mais complexa e misteriosa? Assim como a noção de infinito, cuja existência os cientistas negam, também a eternidade é negada. Parece-lhes absurda. E para rebater o que lhes parece sem sentido, recorrem a outro absurdo ainda maior, o tal do “Big Bang”.

Afirmam, com a convicção de quem tivesse testemunhado todo o processo, que tudo o que compõe o universo – galáxias, estrelas, planetas, cometas, meteoros etc,etc,etc – estava tão comprimido que sua dimensão era equivalente a uma ínfima cabeça de alfinete ou algo menor. A pressão de tamanha compressão era, no seu entender, absurda de tão elevada. Era tanta, que “explodiu” espetacularmente, dando origem a tudo o que existe. Minha mente cartesiana teima em não aceitar essa teoria, que atualmente atinge foros de “verdade”. Ora, ora, ora.

Algumas coisas os adeptos dessa “explicação” das origens de tudo o que há, nunca conseguiram (e duvido que consigam) explicar. Por exemplo, onde estava essa matéria sumamente concentrada e comprimida antes do dito “Big Bang”? Estava, afinal, em algum lugar, em algum espaço. E quando esse aglomerado tão comprimido começou a se formar? E antes da sua formação, o que havia? Não, eles não explicam coisíssima alguma com sua teoria. Somente complicam as coisas já tão complicadas por si sós. Sobre a impossibilidade de entendimento do conceito de infinito, o escritor português, Almeida Garrett, tem uma teoria que até faz sentido. Escreveu: “A culpa é talvez da palavra, que é abstrata demais. Saúde, riqueza, miséria, pobreza e ainda coisas mais materiais, como o frio e o calor, não são senão estados comparativos, aproximativos. Ao infinito não se chega, porque deixava de o ser em se chegando a ele”. Querem coisa mais lógica?

José Saramago, por seu turno, nega a eternidade. Raciocina, claro, em termos humanos, cuja vida tem fim e não raro até precocemente. Racionalmente, não conseguimos conceber algo ou alguém que nunca teve início e jamais terminará. “Como?!”, perguntamos perplexos, mas com uma infinidade de exclamações, quando pensamos a respeito. Sim, como?!!!! Saramago escreveu: "A eternidade não existe. Um dia o planeta desaparecerá e o Universo não saberá que nós existimos". Bem, saber, saber, não saberá mesmo. Mas a eternidade que não existe é a humana. Outras... Não ponho a mão no fogo.

Albert Einstein, cuja Teoria da Relatividade revolucionou as ciências, acreditava em infinito. E, para ele, duas coisas tinham essa característica: o universo e a estupidez humana. Claro que esta última se tratava de metáfora do genial, e também bem-humorado cientista. Para reforçar o efeito de sua observação, Einstein aduziu: “Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta”. Ou seja, deu a entender que certo, mas certo mesmo, estava somente de que a estupidez humana era infinita. Não sei se ela não tem fim (provavelmente terá, se ou quando a espécie humana se extinguir), mas que é ostensiva e que incomoda demais, disso não há como duvidar. Voltarei oportunamente ao tema.

Boa leitura.


O Editor

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk.

2 comentários:

  1. Um ótimo tema para quem gosta de pensar. Eu, ingênua, engoli o Big Bang direitinho, sem fazer nenhuma perguntinha. Deve ser fruto da minha estupidez.

    ResponderExcluir
  2. Nunca acreditei no Big Bang. Creio que a matéria é integrada e desintegrada, sempre de forma diferente e contínua. Daí a crença na eternidade, mesmo para humanos.

    ResponderExcluir