quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Criança diz cada uma...

* Por Mário Prata

Há muito tempo atrás o jornalista e dramaturgo Pedro Bloch tinha uma página na revista Manchete com o título acima. Contava histórias engraçadas e inusitadas acontecidas com crianças que passavam pelo seu consultório.

Outro dia achei uma revista dos anos 60 e me diverti muito com o Bloch. E me lembrei de histórias recentes com filhos ou filhas de amigos meus que, tenho certeza, o velho jornalista não titubearia em manchetá-las.

***

O protagonista da primeira delas é o Antonio (homenagem ao meu filho?), filho da velha amiga Maria Emília Bender, digníssima editora da Companhia das Letras e o grande italiano Lorenzo, ilustre professor de música na Universidade de São Paulo.

Antonio, seis ou sete anos tinha o aniversário de um amigo, o Bruno, lá num daqueles bufês no Itaim. Festa das seis às nove da noite. O pai Lorenzo, conhecido por suas distrações cá no Brasil, ficou de levar o garoto ao tal bufê. Depois iria pegar a Emília, iriam a um cinema e voltariam para buscar o menino.

E assim foi feito. Lorenzo deixou Antonio no bufê, pegou a esposa e foram para o cinema. Nove da noite, conforme o combinado, foram buscar o pimpolho. Tocaram a companhia, veio o menino.

Já no carro:
- Tava boa a festa do Bruno, filho?
- A festa tava boa, só que você errou de bufê. Era aniversário de uma menina que eu nunca tinha visto na vida. Mas foi legal. Ajudei até o mágico. O nome dela é Andréa.

***

A segunda história é da minha mais recente afilhada, a Maria Shirts, filha do Mateus e da Silvinha.

Deu-se que o pai da Silvia morreu, o velho e bom Lori. Maria, cinco anos, insistiu em ir ao velório ver o avô morto. Foi levada (nos dois sentidos).

No colo da mãe ficou ali alguns segundos, olhando para o avô. A sala cheia. De repente ela pergunta bem alto, como são, geralmente, as perguntas impertinentes:
- Mãe, como é que ele sabe que morreu?

Risadas filosóficas e generalizadas.

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Já disse que meu filho se chama Antonio. Um dia, ele tinha uns quatro anos, dei uma bronca nele sei lá porque e ele me xingou, feroz:
- Você é uma anta!!!

No que eu, sem perder a calma, perguntei:
- Ah, é? E quem é filho de anta, o que que é?

Pensou dois segundos e me desarmou completamente:
- Filho de anta é... é... Antonio!

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E mais uma:

Uma minha prima, hoje já casada e com dois filhos, quando tinha uns doze anos a mãe a chamou para um reservado:
- Hoje eu vou lhe ensinar o que é sexo.

A menina já fez cara feia. E a mãe começou lá pelo princípio com a história da maçã.
- Uma vez Adão e Eva estavam no paraíso e...
- Isso eu já sei. Pula.
- O homem tem uma sementinha e...
- Isso eu já sei. Vai mais para a frente.
- Bem, para nascer uma criança é preciso que...
- Pô, mãe, eu sei como é. Pode pular essa parte.
- Bem, a mulher ter um órgão chamado útero...
- Grande novidade, mãe.
- O espermatozoide tem umas substâncias...
- A porra.
- Isso. Escuta aqui, menina. O que é que você não sabe?
- O que é que a senhora quer saber? Pode perguntar, mãe. Pergunta!

***

E tinha um garotinho que era infernal. Brigava todo dia na escola. Um dia, no almoço, o pai, para testar seus conhecimentos bíblicos (ele estudava num colégio de padre), perguntou:
- Meu filho, me diz quem foi que jogou a pedra no Golias.

O garoto desatou a chorar.
- Tá vendo, mãe? Tudo eu. Tudo eu. Juro, pai, juro pelo que é de mais sagrado que eu nem conheço esse menino.

***

E aquela religiosa mãe que pegou o filho e um amiguinho dentro do banheiro fazendo um troca-troca? Só que, quando ela entrou, o filho queridinho e santo levava uma nítida desvantagem no ato. Mas o pequeno pecador não se abalou:
- Mas mãe, eu comi primeiro!!!

• Escritor e jornalista

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