sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Futebol na infância

* Por Rodrigo Ramazzini

Foi-se esse tempo...

Recordo-me bem daquela semana de junho. Ansiosamente aguardávamos pelo sábado. Era quando estava marcado o confronto mais esperado do nosso jovem time. Jogaríamos com nada mais, nada menos, do que com o time do Moscão, digo, o time dos guris da vila São Marcos, considerados os melhores da cidade.

Durante a semana na escola, trocamos provocações com alguns atletas da equipe adversária, e depois da aula, todo o time religiosamente se reunia para treinar, e discutir qual a melhor tática a ser usada no jogo mais importante das nossas vidas. Como tínhamos onze jogadores, ou melhor, doze, computando o gordo (por consideração ao grande amigo que ele era, o incluímos nesta “conta”, porque se dependesse do futebol...), pois bem, escalar a equipe não fora difícil para o Mateus, que além de centroavante, era o técnico, por ser o mais velho.

Despertei cedo naquele sábado cinzento. Apelei para todos os santos, a fim de ajudarem-me, evitando que caísse a chuva que se “prenunciava” no céu. E deu certo. Pela manhã, e como o campo ficava em frente à minha casa, fui preparar o palco do grande espetáculo. Rodeei o gramado tirando alguns cacos de vidros, latas de azeite e alguns galhos de árvore no costado da linha de fundo. Repregamos (a essa “altura”, já tinham chegado o Gil, o José Luiz e o Alan) as madeiras das antigas goleiras; cavamos pequenos buracos para marcar as linhas das grandes e pequenas áreas. Nas linhas de fundos e laterais, ganhamos um pouco de cal do Seu Dada, um dos meus vizinhos, e delineamos o campo.

A partida estava agendada para as 17h00min, mas o nosso time já estava todo reunido desde as 15h00min. Estrearia a bola que ganhara de aniversário atrasado da minha avó. Contratamos o Beto de juiz. Que sorteou os lados do campo (trinta minutos de jogo para cada lado, com cinco de intervalo), e já definiu que jogaríamos, por ter perdido no par ou ímpar, sem camisa.

A disputa começou equilibrada, com faltas duras, sendo a pior delas, quando o José Luiz pisou de Kichute no pé do Amarildo, do time da São Marcos, que estava descalço, de “pé-no-chão”. A tática de jogo que elaboramos cuidadosamente durante a semana, foi destruída ao apitar do árbitro. Corremos atrás daquela bola como se fosse o últimos jogo de nossas vidas. E assim, apesar de levar uma bola na trave, seguramos o empate na primeira etapa.

No intervalo, o Gordo esperava-nos com várias garrafas de vidro de Pepsi 1 litro com água. Decidimos colocar o Alan de centroavante, e recuar o Mateus, para dar mais velocidade no meio, e ter uma referência no ataque. Assim iniciamos o segundo tempo.

A nossa estratégia dera certo, ganhamos rapidez nos contra-ataques e presença na grande área. E foi assim, em uma roubada de bola no meio de campo, que saímos para um contra-golpe mortal. Com a posse de bola recuperada, o Mateus lança-me na ponta direita de ataque, e com a bola dominada, cruzo-a para a área. No meio do trajeto, onde o destino seria a cabeça do Alan, é interceptada com a mão pelo zagueiro adversário. É pênalti! Apesar das reclamações com o árbitro, a penalidade está assinalada. Preparo-me para a cobrança. Bola na marca da cal. Tensão dentre todos. Olho para o goleiro. Estou entre a consagração e a tragédia. Então, ouço aos gritos, aquela voz familiar:
- Rodrigo! Passa para dentro. Vem tomar o teu banho de uma vez, já está tarde, eu não vou falar de novo. Se tiver, vou aí te buscar...

 
* Jornalista e contista gaúcho.

Um comentário:

  1. Desobedeceria e bateria o pênalti, e depois arcaria com as consequências. Valeria a pena, embora tenha havido uma perda de concentração.

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