quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A tênue densidade dos corpos

* Por Ronaldo Werneck

Ainda hoje é comum os americanos se indagarem sobre o que faziam no dia em que John Kennedy foi assassinado. Foi um novembro inesquecível, aquele novembro de 63, aquele dia de frente para a morte. Na noite em que Rosário Fusco morreu, falei com o Ziraldo pelo telefone e combinamos que eu faria um artigo pro Pasquim. Estava no Rio – e com a casa cheia: minha mulher ensaiava com outros atores a peça Apaguem os Lampiões, que seria encenada no mês seguinte, setembro, em Cataguases. Desliguei o telefone ainda chorando e ainda chorando tranquei-me no escritório: um maço de Minister, um litro de Cutty Sark e a velha e às vezes infalível Lettera 22.

A mesma Lettera 22 que trouxe do Rio e onde escrevo agora, quase 19 anos depois, longe de Copacabana e do meu PC-486. Daqui da casa de minha irmã, de volta ao passado, mais uma vez cavalgando a imbatível Lettera 22 com seu teclado magicamente ajustado ao ritmo de meus poemas. Daqui deste terraço de frente pro verde, pros verdes matos e montes gerais, nesta manhã de maio em Cataguases, muito, muito perto do velho Rosário que avisto lá naquele morro, aquele lá pra onde vou também juntar-me a ele que ali já se encontra junto com Annie.

Estamos em agosto de 1977, na virada de 17 pra 18, dia em que Rosário Fusco será enterrado em Cataguases. Eu acabara de chegar do exterior, onde estivera a trabalho durante longo período – se é que podemos chamar Asunción del Paraguay de “exterior”. De qualquer forma, estava isolado do país e há mais de três meses não via ou tinha qualquer notícia de Rosário Fusco. Movido a lágrima e uísque a caubói, exatamente como com ele tantas vezes bebi, só consegui sair do escritório no “cu da aurora” (d’aprés R.F.), trazendo debaixo do sovaco um texto emocionado que o Pasquim publicaria na semana seguinte. Não consegui viajar pro funeral: sem condições. No ano anterior, março de 1976, há exatos vinte anos, portanto, o Pasquim publicava a entrevista que eu e Joaquim Branco fizemos com Fusco e que vai em parte reproduzida neste jornal. Deu um bode dos diabos.

No mesmo dia em que saiu a entrevista, 19.03.76, um Rosário Fusco puto da vida – e sob a chancela “Reservadíssimo” – mandava-me carta de Cataguases: “... o que v. chamou de montagem de textos e o Pasquim divulgou como entrevista é furo jornalístico de foca provinciano”. E por aí seguia o velho e ferino Fusco, ameaçador: “... Mas pode ter consequências, pelas quais o responsabilizarei no momento oportuno, se for o caso”. A entrevista mencionava vários medalhões literários de forma inédita e bem-humorada, entre eles Lawrence Durrel e... Grace Kelly, a própria. Fusco temia inacreditáveis represálias sobre o que havia dito (e dito várias vezes), como se os dois, a “princesa” e “o autor internacional” fossem algum dia ler o Pasquim.

Apesar de outros envolvidos no, vamos dizer, quiproquó (o próprio Ziraldo, o Jaguar, o Joaquim, a Adriana Montheiro, que havia feito as fotos), ele não livrava minha cara: “Tirei o Joaquim Branco da jogada porque o estilo dos comentários – inconfundível pelos cacoetes – tenho certeza de que são seus”. O velho bruxo da Granjaria estava realmente puto da vida. Por absoluto mistério do correio cataguasense, a carta só chegou às minhas mãos em abril. Devolvi "de bate-pronto" numa longa resposta onde mostrava meu espanto com sua reação em cima de coisas já sovadas de tão ditas e repetidas para o fechadíssimo círculo que frequentava sua casa da Granjaria. E sobre as quais ele nunca pedira segredo.

O dito & o escrito

O próprio Fusco chegara mesmo a ver grande parte do texto publicado pelo Pasquim: “Foca provinciano – eu dizia em minha resposta – é no mínimo muito engraçado. ‘Foi uma das melhores entrevistas do Pasquim’ (Ziraldo), a única que mereceu seis páginas e todo aquele aparato fotográfico. Certamente (e falando sério) pelo talento & fotogenia do (suposto?) entrevistado. Mas se o ‘foca provinciano’ que editou a matéria (‘com seus comentários inconfundíveis pelos cacoetes’) não tivesse as fotos de primeira qualidade da Adriana, algumas perguntas (respondidas por escrito) do Joaquim Branco ou os fragmentos (já publicados) das cartas de RF para Laís Correia de Araújo, a entrevista possivelmente ficaria esquecida na gaveta de algum pasquim provinciano. O que teria sido melhor: para RF, para RW... A imaginação do romancista (maior) pode – isso sim – ter sido por demais fértil”.

Era na verdade uma briga de amor onde eu terminava dizendo que “o Ronaldo manda um abraço pro Fusco (como normalmente nos chamávamos) e pra tribo inteira, como de hábito (isso porque, na carta, ele me chamava de “Ronaldo Werneck” e assinava “Rosário Fusco”, procurando manter total distanciamento). Em maio daquele ano não pude ir a Cataguases, tomado pelo nascimento de meu filho Pablo e de Selva Selvaggia, meu primeiro livro. No início de junho, recebo carta, agora sim, de meu velho amigo, que merece transcrição:

“Ronaldo: nada de ressentimentos, tanto mais que o dito ficou dito e, o falado, escrito. Velho aposentado não dispõe de tempo pra cartear, pois que o elenco de doenças que carrega lhe consome o tempo: entende? Vai entender, daqui a trinta anos. Parabéns (extensivos à Adriana) pelo duplo parto: do filho de papel e do filho do amor. Ambos são válidos e, às vezes, até se confundem nas nuvens do sonho igual. Você me cita no prefácio do livro do Quincas (Joaquim Branco) e o Cabral (Francisco Marcelo) me cita no prefácio de seu livro. Isso dá a impressão de que existe uma igrejinha cataguasense, mais nordestina do que mineira – o que não é bom. Creio que seu amigo Ezra Pound, na conjuntura, lhe proporia a seguinte charada inconsequente que psicografo por estranha força do astral: 'eu te cito/ você me cita/ na área do consumito/ você apita/ se eu apito/ no mesmo apito/ nada comum/ pois que o dito/ só clama aflito/ o pobre mito/ de cada um'. Abraços do Rosário (02.06.76)

“Ronaldo: veja, por favor, se descobre o endereço do famoso Dr. Ruper(?), considerado o maior urologista das três Américas... estou projetando um artigo comprido sobre sua poesia: mandarei. Não convém que a turma do Pasquim apareça. Pelo menos, por enquanto. Assim que eu melhorar de, ao menos, uma de minhas mazelas (acho que todas já se instalaram em mim pra ficar até o dia do Juízo) avisarei. Annie se junta a mim para abraçar o, agora, quarteto Werneck. Do velho, Rosário (18.08.76).

Não me perguntem como, mas devo ter achado o endereço do "famoso Dr. Ruper", pois em 30.09.76 ele me agradecia em meio ao intenso sofrimento físico e a comentários sobre uma revista que lhe enviara. Prometia também terminar um artigo sobre meu livro Selva Selvaggia, que nunca vi: “De pleno acordo com você quanto à paginação da revista (José): limpa e fria, monótona como uma viagem de trem no escuro. Também a matéria não rima com o formato nem com a indicação pomposa da tríplice especialidade: 'literatura, crítica e arte'... Doente outra vez – ou como sempre – mas, desta feita, obrigado a uma viagem diária a J. de Fora (aplicações de raio x nas mamas), ando sem ânimo pra cuidar das coisas de que mais gosto: ler, escrever e, até, ...beber. Não acabei o artigo sobre Selva: mas quero publicá-lo até o fim do mês: antes, submeterei o trololó à sua apreciação, ou ao seu entendimento, como diria o mulato Machado”.

Que coisa é Rosário Fusco?

Era o velho Fusco que voltava à toda e me fascinava como sempre, como na primeira vez em que o vi, absolutamente só (Annie ficara em Friburgo, enquanto ele construía a casa em que iriam morar no bairro da Granjaria), numa sala nas proximidades do campo de futebol do Colégio Cataguases, lá pelos meados dos anos 1960. A cabeça surgindo imensa e se destacando no cipoal de garrafas sobre a mesa, a cabeçorra de Rosário Fusco que emergia por entre o mar de martinis e gin, muito gin, imaginem. Remexo na memória, num velho envelope escrito "R.F.", que trouxe do Rio.

Estão aqui, neste terraço cataguasense, os vestígios do velho Rosário que carrego comigo. Onde anda Rosário Fusco? Onde andam o vozeirão, a velha e rombuda Parker 51, o imponderável bigode mexicano, a larga risada, o humor, as lágrimas, o uísque, o cigarro, a imensa caixa de fósforos marca Olho, a panela com água fazendo de cinzeiro (magnífica invenção!), a lustradíssima bota do menino Rosário sobre a mesa do escritório, como a de Van Gogh, o mesmo daquele auto-retrato ali no fundo, primorosa reprodução feita pela Annie. Mas que coisa é Rosário Fusco? Que coisa entre coisas, entre todas as coisas é R.F.?

“Jamais descobri porque, aos 17 anos, fiquei sofrendo do peito, por solidariedade a Manuel Bandeira (que deve possuir uma carta minha a respeito)”.

“Tenho perdido ônibus, bondes, empregos, amizades. Nunca perdi a vontade de escrever”.

“Amor é doença, como escrever. Não sei, em verdade, porque escrevo, se todos escrevem, se há tantas coisas na vida menos melancólicas e mais eficientes”.

“Vivo – quem não vive? – sob o signo do imprevisto, que manda chuva e manda guerra, protesto de títulos e cobradores à porta, falta de manteiga e falta de afeição, aumento do preço do cinema ou dores de cabeça irremovíveis”.

“Vivo num mundo onde poucos penetram e, se penetram, faço tudo para não deixá-los sair”.

“Escrever é um mal, é um bem, é um erro? É tudo isso e não é nada disso: é uma fatalidade, para encurtar palavras”.

Começo a futucar essas coisas “fuscais”, esses velhos papéis que me ofuscam e quase planam na memória – não fora a irreversível “densidade dos corpos” que ele gostava sempre de lembrar. E remexo com a hierática postura que ele me ensinou um dia – solene, entre uma tragada e uma talagada: “Meu caro poeta, para ler, mas ler mesmo, comme il faut, aproveitando o que se lê, aprendendo, é preciso apreender, é preciso estar com os cotovelos sobre a mesa, a cabeça apoiada em uma das mãos, a caneta na outra, anotando o ‘anotável’, digerindo o ‘digerível’, ou o dirigível, como queira”. É o que eu hoje chamo de “leitura fuscal cotovelar” – a que fica e nos justifica.

Então, "cotovelemos" juntos com as palavras de Rosário Fusco: “Ronaldo: Lamento sinceramente não me ter encontrado com você. Com um febrão danado (39,5 à sombra), até o sagrado mijo eu o mictava na cama (num ‘compadre’, claro). Obrigado pela trazida do Processo (?): ainda não o abri, nem o abrirei tão cedo, com o rabo ruim e a alma pior. Reli seus poemas: acho que v. já tem idade para editar-se. Não falemos da entrevista nem de O Anunciador (Longa-metragem realizado em Cataguases em 1967, dirigido por Paulo Bastos Martins). Gostaria que v. me mandasse:

1 quilo de bacalhau ‘Neptun’s (dinamarquês, em pacote).
6 garrafas de ‘Merlot’ (Granja União).
6 garrafas de ‘Cabernet’ (idem).

Se tiver tipo ‘Medoc’, pode meter 6 também. Pagarei aqui, ou aí, como quiser. Abraços apressados e hemorroidários do R.” (26.08.70).

As mamas do Finnicius

Era assim, totalmente imprevisto, misturando tudo, poemas, bacalhau e vinho, muito vinho, de uma só ‘cambulhada’, como gostava de dizer. Foi mais ou menos por aí, meados de 1972, que ele esteve no Rio, rumo a Paris. Passou um mês no Apa Hotel, em Copacabana, junto com Annie, a francesa com quem se casou cinco vezes e que o acompanhou sempre – e ainda agora está a seu lado no campo santo do alto daquele morro que avisto daqui. Annie que lhe deu François, o Rosário François Petitjean Fusco de Souza Guerra, então um menino de pouco mais de dez anos. Fusco passou um mês absolutamente de porre, não querendo embarcar por absoluta paúra de voar, “até mesmo de elevador”: hospedou-se no 2º andar e só transitava pelas escadas, sempre para o hall onde bebíamos, onde bebíamos, onde bebíamos. Ele dava generosas gorjetas aos empregados do Apa para levarem François ao circo, ao Tívoli Parque, aos cambaus infanto-juvenis. Nós nos víamos quase todos os dias noite adentro. Annie me pedia, aflita, para convencer o "Rosárr" a pegar o avião logo, pois o dinheiro que haviam trazido para a temporada européia estava indo embora entre garrafas & gorjetas.

Pouco antes de finalmente embarcada para Paris a tribo Fusco, eu e meu amigo fomos ao tradicional almoço das sextas-feiras na Livraria José Olympio. Rosário queria rever amigos e lá fomos nós, devidamente calibrados, a pé pela praia de Botafogo, após deixarmos Annie e François na Sears. Duas figuras de almanaque: Fusco muito alto, de terno escuro, sem gravata e... sem sapatos (os pés inchados há muito não permitiam essa “modernidade”). Eu muito baixo perto daquele mulato gigantesco, trôpego, possivelmente tropeçando em minhas próprias barbas. Ainda não dera meio-dia e já havíamos bebido “todas” segundo o jargão de hoje. Fusco brilhou, ofuscou a todos no almoço coalhado de literatos de vários calibres. Lá pelas tantas, Zé Olympio me chamou em seu escritório. Queria saber, em particular, sobre as mamas de Rosário, que estavam muito inchadas. Sua preocupação não era infundada: as mamas inchadas já eram um indício do início do fim ou do reinício de tudo, do “finnicius” do, segundo ele, “sovado Joyce”. Mas, antes, vamos a Paris:

“... Já voltamos da Bretagne. Pra Annie e François, uma festa. Pra mim, uma bosta. Quinze dias sem comer. Uísque (baratíssimo): um litro por 24 horas... Abraços de tribo pra tribo. Rosário” (Paris, 18.07.72).

Corta pra alguns anos depois, talvez 1975. Eu estava em Cataguases e minha mulher foi internada por causa de uma desidratação. Nada sério. Relia alguns contos de Machado no quarto do hospital e, engraçado, pensara no Fusco, pois o “mulato” era uma de suas admirações, do “rol das confessáveis” (as outras: Van Gogh, Dostoievski, Beethoven, não necessariamente nessa ordem). Saí pra fumar no corredor e dei com uma enfermeira que me conhecia (eu, não) e fez a maior festa, pegando-me pela mão, prometendo uma surpresa inacreditável. Era mesmo.

Ao abrir a porta de um dos quartos, a madrugada em meio, deparamos com a seguinte cena: um enfermeiro, duas enfermeiras, uma garrafa, duas garrafas, várias garrafas, muita fumaça e baforadas e um alegre Rosário Fusco regendo o porre hospitalar. Ele subornara todos & todas. Abriu nova garrafa pra comemorar minha chegada e... “mergulhamos de vez no materialismo histórico”, como ele gostava de dizer, citando Oswald de Andrade.

Creme de Pérolas

Foi também aí, meados dos anos 1970, que Fusco me mostrou alguns poemas de um volume inédito sobre a Lapa. Praticamente impublicável na época, o livro (Creme de Pérolas, que ótimo título!) está inédito até hoje. Tenho aqui, à minha frente, um de seus poemas, o de que mais gosto, ainda impublicável em jornal, ditado por ele e datilografado por mim numa manhã etílica da Granjaria. Transcrevo alguns trechos, dos publicáveis. O título é “Edital de demissão e ponto” e foi manuscrito pelo próprio com a velha Parker 51:

Meu caro poeta:
Meta
a lira no cu
(mesmo que doa)
e vê se te aquieta.
O mundo mudou tanto que
amanhã
a lua será lixeira à toa,
privada e refúgio da terra
emudecida,
seu Orfeu.
Erra,
quem pensa que as palavras valem
hoje em dia
– pois a palavra é poesia
e a poesia morreu.
São cibernéticos os contatos
dos homens com os homens
e dos homens com as coisas.
Números.

(...)

Nada vale nada com algemas,
e os filhos das pílulas,
feitos ou desfeitos pelas ditas,
são tão filhos da puta que
dispensam
o pai
a mãe

( ...)

Sobretudo
o teu gorjeio inútil,
de inusitados sons concretos,
montagens de ruídos antissemânticos.

( ...)

Não é possível mais cantar:
o canto entope,
engasga e sufoca.
Radar.
A poesia do cosmo chega em vibrações secretas
do telstar:
omite
e
demite poetas.

Ora, pra quem se acreditava "somente" romancista (“Sempre fui um desprezível poeta – mamãe dizia que versos não enchem barriga”) este é um poema que nos chega com a força do grande poeta. Creme de Pérolas pede urgente publicação, principalmente por se tratar de uma faceta desconhecida de Rosário Fusco. Meu amigo era também um crítico arguto de poesia, como se vê pelos trechos desta carta, a última que me enviou, em 19.05.77:

“Seu poema não precisa de apresentação (ele falava de uma versão inicial que lhe havia enviado de meu livro “Pomba Poema”, homenagem ao centenário de Cataguases, que seria lançado em setembro de 1977). Ele se apresenta em tons de ‘martelo’ (nordestino) e ‘carretilha’ (mineiro). No que se refere ao ritmo. Quanto à forma é uma explosão subconsciente (supra-realista) dominada, dirigida, como faziam os primeiros modernistas (Mário, principalmente) e, hoje, até o Chico Anísio nos seus poedramas (da TV) sincronizados, acentuando as rimas... No formato pretendido por v. não há economia de papel, custo etc: duas páginas de sua paginação se reduzem a uma, no formato tradicional. Lembre-se da disposição gráfica do Coup de dés. Não siga o conselho de seu amigo (o designer cataguasense Dounê, que fez a programação visual): a estatística só funciona no campo da ciência. O número é restrição, corte de asas. E você está voando, meu poeta. Eu tenho uma edição de Mallarmé que poderá orientá-lo tipograficamente. É de 914 e repete o poema do homem como foi composto e publicado originariamente, em vida do poeta. Não posso me estender mais, com dores tremendas – e sincopadas – em todo o esqueleto (Fusco morreria três meses depois): ossoporose (sic: ele grafou e grifou ‘osteoporose’ de forma trocada). Venha conversar comigo, ou telefone. Seu velho, quadrado e anti-modernista Rosário”.

Ah, sim: no dia 22 de novembro de 1963, enquanto John Kennedy morria em Dallas, eu viajava de ônibus do Rio para Cataguases. Soube na parada de Além Paraíba. Traguei forte meu Luiz XV sem filtro e soltei a fumaça em espiral sobre o rio Paraíba. Tinha exatamente vinte anos e um mês – e a vida parecia uma parada maior que a morte, até mesmo a de Kennedy. Não era.

Suplemento Especial “Cataguarte”, Cataguases, 1996

• Poeta, cronista, editor, assessor de comunicação e produtor cultural, autor de nove livros publicados

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