sábado, 25 de agosto de 2012

Sexo, o culpado

* Por Júlio de Queiroz

No mês de janeiro de 1952, o pai da computação, sem cuja atuação a Inglaterra e seus aliados teriam perdido a II Guerra, fez sexo com um prostituto de Londres. Este, às escondidas, furtou objetos. O matemático Alan Turing, fez um 'BO' policial. O prostituto foi esquecido, Turing fo...i processado por "sexo indecente". Condenado ou a se deixar castrar quimicamente ou a uns anos de prisão, suicidou-se.

Agora, a polícia britânica cercou a embaixada do Equador para impedir que dela saia um australiano, Assange, que nela se abrigou ao ser oficiosamente acusado de espionagem. Em um sistema sofisticado de "hackeagem", relatou os crimes internacionais e as lambanças diplomáticas dos Estados Unidos. Nada pôde ser desmentido.

Como nem podem acusar o Assange de trair um país ao qual nunca foi, nem a Inglaterra, onde viveu até entrar na embaixada do Equador, o governo norte-americano encarregou a Suécia de processá-lo por ter feito sexo com suecas de maior idade. Digamos assim, na maior moral masculina. Quem sabe alguma coisa dos países europeus, também sabe que sexo na Suécia não escandaliza ninguém, a não ser em filme de Bergman.

Quando a Espanha resolveu sair da Idade Média e abrir suas praias mediterrâneas para o turismo internacional, sua propaganda oficiosa na Suécia era que as nórdicas se desnudassem ao sol das praias e à atenção dos guapos garotões ibéricos. Fez mais, proibiu que carolas frequentassem as praias onde as suecas rebolassem.

Quer dizer, na Inglaterra, Alan Turing foi obrigado a suicidar-se por ter feito sexo com um prostituto ladrão. E a Suécia quer mandar para os Estados Unidos a fim de que lá o matem o fundador do WiliLeaks por ter feito sexo, com mulheres de maior idade, que só se lembraram de reclamar anos depois.

As desgraças incontáveis no Oriente Médio; os horrores praticados no Iraque não podem ser divulgados; os esforços de um primeiro-ministro para jogar bombas atômicas no Irã fazem parte da democracia. Mas fazer sexo? Ah, isto tem que ser punido!

Diário Catarinense (18/8/2012)

• Escritor, filósofo e tradutor, autor de mais de 20 livros, membro da Academia Catarinense de Letras

Um comentário:

  1. Parabéns, muito bom, na minha humilde opinião o maior e mais latente sentimento das pessoas, no mundo atual, é a hipocrisia. Abraços.

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