sexta-feira, 1 de junho de 2012

Arranhões


* Por Rodrigo Ramazzinii

- Amor! Vem cá, rápido! Rápido!

- O que é, Gérson?

- Coça as minhas costas, por favor!

- Era só o que me faltava!

- Por favor, amor! A coceira está grande e eu não estou alcançando...

- Em qual lugar?

- Bem no meio!

- Aqui?

- Não! Mais para o lado...

- Tira essa camisa para facilitar...

- Tá!

- Aqui?

- Mais um pouco...

- Aqui?

- Mais para baixo um pouquinho... Isso aí! Coça... Coisa boa! Que coceira xarope!

- Mais?

- Mais um pouquinho... Isso... Por isso que eu te amo!

- Sei.

- O que foi? Por que essa cara?

- Gérson! Tu podes me explicar o que são essas marcas de unhas no meio das tuas costas?

- Marcas de quê?

- Unhas, Gérson! Unhas!

- Hã... Hã... Deve ser tuas mesmo!

- Minhas?

- Claro! Na hora “h” tu sempre perdes a cabeça e me arranha!

- Não mesmo! As minhas unhas estão até curtinhas...

- Sei lá! Essas marcas podem... Podem ser da semana passada...

- Não mesmo!

- Não?

- Não...

- Ah! Sei lá! Pode ser que eu tenha me arranhado no jogo de futebol... É! Foi lá...

- Gérson! Eu não sou boba, Gérson! Isso são marcas de unhas de mulher!

- Não!

- É sim!

- Não!

- É sim! Mulher com unhas bem compridas!

- Não! Estou dizendo que não!

- Quem é a vagabunda?

- Não tem outra mulher! Tu estás louca? Sei lá como essas marcas foram parar nas minhas costas... Deixa eu ir até lá no banheiro e ver isso direito no espelho!

- Não mesmo! Fica parado aí e confessa!

- Confessar o que se eu não fiz nada, hein?

- Confessa...

- Confessar o quê?

- Quem fez essas marcas, Gérson? Quem é a vagabunda?

- Eu não fiz nada! Pára de encher o saco!

- Fala de uma vez, Gérson! Se não eu...

- Tu o quê?

- Tu sabes bem...

- Sei o quê?

- Não distorce o assunto! Quem é a vagabunda?

- Não vou dizer!

- Não vai dizer?

- Não!

- Se não vai dizer é porque tem uma vagabunda, né? Faz quanto tempo?

- Não viaja! Não tem mulher nenhuma!

- Tu mesmo acabaste de dizer que tem?

- Eu?

- Fala, Gérson! Quem é a mulher?

- Não tem mulher nenhuma já disse!

- Como esses arranhões foram parar nas tuas costas, então? Fala...

- Agora me irritei! Tu queres saber, mesmo? Queres?

- Quero?

- Esses dias eu fui lá na Boate da Lucinda, que fica na beira da rodovia! Pronto! Falei! Pára de encher, agora! Vou sair...

- Não mesmo! Volta aqui agora! Nojento! Sem-vergonha!

Em uma mesa de bar, no dia seguinte à discussão, depois do expediente, Gérson conversa com um amigo sobre o assunto.

- Foi mais ou menos assim a discussão...

- Tu devias ter negado até o final! Não podias ter confessado, Gérson!

- Eu sei! Eu sei! Errei...

- Tem que se negar até o fim! Com mulher é assim... Daí, logo depois elas param de encher o saco...

- Eu sei! Mas é que eu me irritei na hora e explodi!

- Pois é... Ela nem fala contigo?

- Não! Desde ontem. Dormi no sofá...

- Sei... Mas, ela se acalma... É só não provocar mais a fera!

- Tomara...

- Se acalma, sim!

- Mas a pior parte dessa história tu ainda não sabes...

- Tem pior?

- Tem! Depois dessa discussão toda, eu saí de casa, certo?

- Certo!

- Fui na casa da minha mãe e corri no banheiro para ver as tais marcas de arranhões... Que até então eu não tinha visto...

- E?

- Parei em frente ao espelho... E...

- E?

- Cadê as marcas de arranhões?

- A tua mulher tinha inventado!

- Bingo!

- E tu caíste direitinho!

- Fazer o que agora...

• Jornalista e contista gaúcho

Um comentário:

  1. Ela jogou verde e foi você quem colheu uma ou várias dormidas no sofá. Boa!

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