sexta-feira, 22 de junho de 2012

A namorada do Raul

* Por Rodrigo Ramazzini

Primeiro dia de aula. E como sempre acontece nesta ocasião, muitas apresentações foram feitas, muitos amigos revistos nos corredores e etc. Mas o principal (e o que gera maior ansiedade) é para ver quem serão os colegas de aula. Neste ano, poucos se conheciam dentre a turma, por isso o primeiro intervalo já serviu para iniciar um contato mais íntimo.

Reuniram-se para conversar em frente à sala o Eduardo, o Gilmar, o Leonardo, o José, o César e o Raul. Falavam das suas preferências futebolísticas, quando passou pelo grupo a Tatiana, uma morena conhecida pelo seu belo par de nádegas. Foi o Eduardo exclamar um – “Nossa!”, que o assunto mulher entrou em pauta. Começaram pelas suas colegas:

- O que vocês acharam da nossa colega Rafaela?

- Gatinha!

- É... Gatinha.

- Bonita!

Mas o Raul foi de opinião contrária:

- Vocês estão loucos! Até o nariz torto ela tem...

A turma apenas olhou-se. Passaram então para a Manoela.

- E a ruivinha do canto. Gostosa né?

- Manoela é o nome dela.

- Gostosa mesmo!

- Bem gostosa de corpo. E bem bonitinha de rosto!

- Tem uns peitões, né?

E novamente o Raul sentenciou a sua opinião:

- Aposto que ela é cheia de celulite...

E assim seguiu. A turma analisando as mulheres e o Raul opinando opostamente ao grupo, sempre destacando um defeito da avaliada. No instante em que ele se ausentou para ir ao banheiro, o Eduardo não perdeu a oportunidade e comentou:

- A namorada do Raul deve ser muito linda, pois o cara colocou defeito em todas as gatas que por aqui passaram. Muitas para casar e ele esnoba desse jeito.

Todos concordaram. Os dias seguintes foram da mesma forma. O grupo falava em uma mulher e logo o Raul dava um jeito de “desmistificá-la”, apontando um defeito ou coisa que havia feito. Foi então que, certa terça-feira, o Gilmar entrou correndo na sala de aula, e mesmo resfolegante, conseguiu proferir:

- O Raul vem vindo com a namorada no carro. Só não consegui ver o rosto.

O grupo prontamente sai e pára em frente à sala para ver a suposta beldade. Quando a enxergam ficam pasmados. Era com certeza uma das mulheres mais feias que já haviam visto, tanto de rosto como de corpo. Chamá-la de gorda seria até um elogio. Usava um vestido floreado que logo foi comparado à “capinha” colocada nos botijões de gás. Um saliente “bigodinho” era visto de longe, sem falar nos óculos “fundo de garrafa”. Raul passa pela turma e apenas acena com a cabeça. Um silêncio paira no ar. Então, o José deixa escapar um:

- Só pode ser...

Todos olham-no. Eduardo indaga:

- Só pode ser o quê?

E ele, sem conhecimento de causa, e esquecendo dos anos que fora coroinha da igreja, sentencia, em tom profético, como se achasse o motivo:

- Macumba! Isso só pode ser macumba!

* Jornalista e contista gaúcho

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