segunda-feira, 18 de junho de 2012

A perigosa sociedade Carpe Diem...

* Por Gustavo Pilizari

Quem aceita um chá de paciência com o tempo? Tem sabor amargo no começo talvez, mas, com o tempo, você começa a perceber a sua docilidade..

Levante a mão quem não sofre pelo desespero da urgência! As últimas décadas têm sentido na pele uma das sensações, quiçá, nunca antes percebida com tanta borbulha e que tanto nos mata: a urgência das coisas prontas, das necessidades rápidas e das coisas a serem consumidas de forma desesperadoramente aceleradas... Quem diria, não?

Tudo é veloz, tudo é rápido, tudo fica pronto em três minutos – ou menos – ou melhor, é bom que fique pronto em menos tempo ainda para o nosso prazer esgotado em instantes aflitivos de uma busca pelas coisas, como se fossemos a qualquer sopro, ser levados desta existência! Há verdade nisto!: nunca sabemos a hora de nossa partida, do pó viemos ao pó retornaremos, mas, precisava ser tão angustiante assim? Estamos correndo em busca do fim?

Vivemos numa sociedade do consumo de tudo, e este consumo deve ser feito de forma tão rápida quanto o piscar dos olhos: parece que todos os humanos se apegaram àquela frase de Horácio: “Carpe diem quam minimum credula póstero” – aproveita o dia, não espere pelo amanhã.

Que besteira! A vida não pode ser resumida ao consumo dos momentos de forma sempre inesgotável, como se um amanhã não fosse trazer sua aurora. Imagina se você pudesse consumir suas energias a tal ponto de sentir-se como um corpo sem ossos? E se após esgotá-la ao último você ainda tivesse chance de um novo dia? Quererá você esbanjar seu corpo e mente em um esgotamento de novo? Temos que pensar que tal Filosofia não se justifica; temos que caminhar, preparar a nossa vida a cada dia, aproveitando-a de forma serena, plena, organizada, para que um novo amanhã possa florescer sempre melhor, com mais sabedoria, com mais vigor, disposição! Esgotar-se todo dia é achar-se incapaz de viver – até porque se fossemos raciocinar, o corpo/mente nunca está satisfeito com o consumo. Os filósofos já disseram: o ser humano sempre desejará algo; ele terá o desejado, esgotará este desejo em um momento e, no outro, sentirá este mesmo desejo – o eterno retorno: sempre vamos querer... É bom pensarmos no que escreveu o grande Zygmunt Bauman: “a sociedade de consumo consegue tornar permanente a insatisfação”.

O problema de tudo isto não é o consumo, a urgência; o problema é interno e pertinente a cada um – estamos criando indivíduos insatisfeitos com eles mesmos! Isto é muito perigoso!

A necessidade da urgência e do consumo rápido de hoje só nos levará a um completo estado de angústia, com perda de valores essências a todo ser humano... Pense bem, para tudo na vida é indispensável uma balança de percepções em nossa mente...

“Ando devagar porque já tive pressa”... É isto...

• Jornalista

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