sábado, 30 de junho de 2012

Os feios não envelhecem

* Por Ruth Barros

Não faz muito tempo, conversando com amigas, aquele papo entre garotas onde não sai muita coisa que presta, tirando homens, dinheiro, roupas, como emagrecer e outras coisinhas sim que prestam muito, fundamentais para vida de qualquer uma, descobri que os homens feios têm alguma coisa em comum com os sonhos. No caso, estou falando dos sonhos que não envelhecem, aqueles cantados pelo nosso Milton Nascimento, o Bituca – que aliás não posso chamá-lo assim, de Bituca, nunca privei de grande intimidade com nosso cantor maior.

Mas isso é muita digressão até pra cabeça tonta dessa escriba. O assunto começou quando fomos passando em revista os bonitões de nossa adolescência e primeira juventude. Com raríssimas e honrosíssimas exceções os símbolos sexuais da vida real de outrora estão medonhos, caidaços, barrigudos, enfim, lembram pouco as figuras por quem suspirávamos, apesar de serem os mesmos apenas alguns anos passados (e olha que não contamos nem o quesito careca, que independe da vontade de cada um, já demos um desconto de cara).

Primeira e óbvia observação – o homem brasileiro deve ser o maior cultivador de barriga do planeta. É impressionante, é quase uma unanimidade, todos praticamente ficaram barrigudos, e muito barrigudos. A barriga tornou-se uma espécie de apêndice, que parece ser cultivada com carinho e para muitos virou uma espécie de passaporte que dá direito a uma namorada ninfeta e bem sequinha. Deve ser prêmio de consolação (mas isso já é outro assunto e eu jurei que vou segurar a franga no primeiro).

Em compensação, os feios chocam menos quando envelhecem. Primeiro nunca chamaram muita atenção no quesito físico, justamente por serem feios, então não dão tanto susto quando a gente vai revê-los tantos anos passados, ao contrário dos bonitões, triste ruína do que foram a confrontar o presente. E a maioria realmente está melhor. Uma amiga minha foi casada com um cara muito feio de rosto, desses carecas que sempre rasparam a cabeça mesmo antes do Ronaldinho e com um corpo enxuto, além de ser medico nota 10, super legal. A constatação é dela:

- De cara ele não piorou, mesmo porque não tinha muito por onde. O cabelo, ou a falta de, continua o mesmo, agora até melhor porque virou moda, mesmo os cabeludos bonitões raspam a cabeça. E como ele não engordou e sempre teve um corpo bárbaro, continua mais ou menos a mesma coisa.

E tomando fôlego: - Em compensação vários de meus namorados que eram lindos de morrer hoje são de morrer mesmo, ou melhor, de matar, de tanto susto que tomo quando trombo com um deles na rua. Teve um que encontrei outro dia em uma festa e perguntou se eu lembrava dele, respondi que sim, claro, e fiquei fazendo força escarafunchando a memória, no que a bebedeira de festa não ajudava muito. Quando finalmente bateu quem era, um dos caras mais bonitos com quem já sassariquei quase caí dura, o cara virou uma jamanta – e olha que nem careca ficou.

Depois desse e outros casos mais ou menos do mesmo teor, chegamos à conclusão de que os feios não envelhecem, assim como os sonhos, ou pelo menos se nota bem menos em relação aos bonitos. Além de serem mais simpáticos em sua grande maioria e boa parte bem melhor na horizontal que os galãs, mesmo porque eles têm que ter algum diferencial e um bom desempenho entre quatro paredes é uma belíssima recomendação.

Anabel Serranegra dedica essa coluna a Bussunda, inesquecível com sua barriga e seu bom humor.

* Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.

2 comentários:

  1. "Os feios não envelhecem". Faz sentido mesmo. (rs)
    Seu discurso, além de divertido, segue num tom bem coloquial, adorei. Parabéns!

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  2. O tempo muda todas as caras de um modo geralmente nada doce. O que a jamanta pensou? Teria sido um susto mútuo?

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