quarta-feira, 23 de dezembro de 2009




Seu Cícero

* Por Núbia Araújo Nonato do Amaral

Garimpeiro aposentado
cheio de experiência.
Viveu de tudo um pouco
de milionário a louco.
Em Serra pelada
ele enriqueceu,
mas o dinheiro vinha fácil
e então tudo perdeu.
Dos seus dias de glória
restou-lhe apenas
a boca ornada de ouro,
seu orgulho e tesouro.
Hoje, avô de tantos netos
com tantas histórias pra contar
de que vale essa experiência
se nada pode comprar?
Decretou que esse ano
seria diferente
que a todos presentearia
neto a neto
sem exceção.
Mas, com os bolsos vazios
o que faria então?
Ocorreu lembrar-se
que em sua boca
estava a solução
e, sem pensar duas vezes
arrancou-os com precisão.
Desse louco apaixonado
que tomo por meu avô,
fica uma saudade imensa
do seu sorriso murcho
e do brilho dos seus olhos
plenos de amor.

* Poetisa e colaboradora do Literário

6 comentários:

  1. Uhm...Um poema cheio de significados, pois não é à toa que de uma boca de ouro a neta tenha herdado palavras tão preciosas para cantar os seus. Quanta fortuna, hein, Núbia? Parabéns.

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  2. Obrigado Daniel, Pedro.
    Estar no literário e poder dividir meus sonhos
    com vocês é um presente e uma honra.
    Beijos aos dois e um Feliz Natal a todos do
    Literário.

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  3. Nossa Núbia! Que linda lição e desprendimento, de idealismo e até de servidão. Mesmo após ficar sem os dentes, o Seu Cícero continua rico, de amor, e de muitas outras virtudes raras hoje em dia.

    Parabéns Núbia, por tamanha inspiração. E caso seja caso real, obrigada por nos mostrar tão edificante história.

    PS: Não comentei ontem por que o Bloggler estava problemático e não consegui acessar o blog Literário.

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  4. Mara querida!

    Feliz Natal pra ti e sua família!
    Obrigado pelo comentário sempre tão
    valioso.
    beijos

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  5. Que incrível, Núbia! Extrair os próprios dentes para poder dar presentes aos netos...Lindo!
    Beijos

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