terça-feira, 22 de dezembro de 2009




Desejo atendido

* Por Aliene Coutinho

E
la estava disposta a passar a noite em claro. Esperava o Papai Noel. Pendurou na árvore de Natal de plástico e bolas de isopor todos os seus desejos. Coisas simples como um par de sapatos novo, um vestido de festa, um batom, um perfume, e um amor.

Para ela, tudo tinha o mesmo significado e importância. Seria fácil realizar seus sonhos. Vira na TV, lera em jornais e revistas que Papai Noel é capaz de tudo, é só pedir. E ela quase nunca pedia nada. Sorvia da vida o que era oferecido, sejam pedaços, migalhas, pequenas chances. O que vinha, vinha bem, e assim era feliz.

Naquele Natal quis ousar, um pouquinho. E fez tudo como mandava o figurino. Enfeitou a casa, ligou todas as luzes, fez uma ceia mais caprichada, e sentou-se ao lado da janela de onde via as luzes do centro da cidade que pareciam um parque de diversões. Sozinha. Sempre fora assim desde sempre. Nunca tivera família. Crescera de casa em casa, nem sabia como veio ao mundo e também não se preocupava com isso.

Sentia-se uma vencedora por ter chegado aonde chegou. Agora, queria pela primeira vez apostar num sonho. O comercial da TV foi muito claro ao repetir por todo mês de dezembro que no Natal todos os desejos seriam realizados. E se ela viu a mensagem poderia muito bem ser incluída na lista do Papai Noel.

Ela sabia que era uma lista longa de muitos pedidos e endereços. Imagina, sozinho percorrer todas as casas do mundo? Paciência era sua maior virtude. Sentiu frio, buscou um casaco e continuou contando estrelas.

Inventou um rápido diálogo, “será que poderia dar um abraço de agradecimento”? Lá pelas tantas adormeceu. Um sono de pedra, que durou mais que o normal e lhe deixou o corpo moído. Levantou-se num pulo. Olhou ao redor e nada mudara. Estava tudo como antes. Será que Papai Noel estivera lá e ficou chateado por tê-la encontrado dormindo?

Desesperou-se. Abriu portas, afastou os móveis, foi até a rua, correu, esbarrou em alguém e caiu. Levantou-se graças ao apoio de um braço forte. Ele a olhou e sorriu. Perguntou se estava bem e ofereceu um café na padaria da esquina. Juntos tomaram o pingado com pão. Jogaram conversa fora por horas. Esqueceram do tempo.

Assim como ela, vivia sozinho e sem família. Morava perto dali e nunca a vira. Ele a deixou em casa. Marcaram um novo encontro. Foi só fechar a porta para dar piruetas e sorrir. Tinha certeza que pelo menos um dos seus pedidos foi realizado.

* Jornalista e professora de Telejornalismo

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