sexta-feira, 18 de dezembro de 2009




Nas entranhas

* Por Núbia Araújo Nonato do Amaral

Tinha acabado de atravessar a rua quando tive a nítida sensação de tê-lo visto... Entrei no prédio da Faculdade às pressas fugindo do sol tórrido do meio-dia. Fui direto para o elevador quando ouvi alguém pedindo que o esperasse. O meu coração bateu acelerado, aos pulos... eu sabia que era ele, não podia estar enganada.

Ele ficou atrás de mim, senti o seu perfume... era o mesmo. Esperava desesperadamente que tivesse me esquecido. Nem ousava respirar direito. Senti seus dedos me tocando de leve no braço e depois subindo para a minha nuca. Ele não me esqueceu...

Sua mão pesada acariciava meu pescoço enquanto eu ia perdendo o compasso da minha respiração. A porta do elevador abriu-se, mas ele não me deixou sair:
- Espera – pediu-me suavemente, segurando meu braço.

Sem olhar nos seus olhos, obedeci. Ele me puxou para uma pequena sala do nono andar, virou-me bruscamente forçando um beijo que a todo custo queria evitar, eu sabia que sucumbiria... Ele forçou-me a entreabrir os lábios com tamanha urgência que feriu-me. Fiz um último esforço para tentar desvencilhar-me, inútil, ele jamais medira a força que tinha e só o instiguei mais ainda.

Senti sua língua urgente, a saliva quente em minha boca. Colei meu corpo ao dele me entregando sem pudores. Ouvi seu gemido de satisfação quando eu o segurei pelos
cabelos. Deixei-me possuir ali mesmo e tudo que estava a nossa volta desapareceu.

Tocava seu corpo com medo, mas com a mesma fome de ontem.. Inúmeras centelhas acendiam meu corpo num calor insuportável e aquela ardência despudorada que subia e subia..até que explodimos em gozo, risos e lágrimas.

Ele continuou dentro de mim tentando perpetuar aquele momento. Eu nada lhe perguntei...nem ele. Saímos do prédio de mãos dadas. Ele me abraçou forte. Eu beijei-lhe a palma das mãos. Seguimos caminhos opostos, pois o tempo há muito fugira de nós e no meu corpo, impregnado de seu perfume, ficou sua a última lembrança.

* Poetisa e colaboradora do Literário

4 comentários:

  1. Belo texto, Núbia. Você abordou com perícia, delicadeza e bom-gosto um tema que costuma derrubar muita gente. Gostei da abordagem. Parabéns, querida poetisa!!!

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  2. Meu querido editor.


    Conseguiu tirar de mim um grande sorriso pois
    hoje acordei com muitas saudades...
    Obrigado pelo estímulo, para mim sempre valioso.
    beijos

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  3. Quem tem coragem para uma última, ou quem sabe penútima despedida assim? Quem faz sexo pela última vez, sabe que será a última, mas o outro, aquele que se diz vítima de um fato inesperado, aquele que se diz abandonado, nunca sabe dessa triste verdade. Assim, quando se vê de cara com a possibilidade de reprise, parte para cima. Emocionei-me. Foi na medida Núbia!

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  4. Obrigado Mara.
    Ganhei meu dia!
    Valeu pelas palavras, isso me incentiva
    cada vez mais.
    beijos

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