segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Literário: Um blog que pensa

LINHA DO TEMPO: 8 anos e cinco meses de existência.

Leia nesta edição:

Editorial – Epopéia para materializar uma idéia

Coluna Em Verso e Prosa – Núbia Araujo Nonato do Amaral, poema “Resgate”..

Coluna Lira de Sete Cordas – Talis Andrade, poema, “O rei leão”.

Coluna Pássaros da mesma gaiola – Daniel Santos, crônica, “Ressentimento”.

Coluna Porta Aberta – Lêda Selma, poema “Fragmentos”.

Coluna Porta Abertas – Isabel Furini, crônica, “Carlinhos e Carlão”.

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Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária” – José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com  
“Aprendizagem pelo Avesso” – Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br
“Um dia como outro qualquer” – Fernando Yanmar Narciso. 
 “Cronos e Narciso” – Pedro J. Bondaczuk – Contato: WWW.editorabarauna.com.br
“Lance Fatal” – Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br


Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.



Epopéia para materializar uma idéia

A produção do romance “1984” exigiu tamanho esforço de George Orwell, seu autor, que se diz, em muitos círculos (e sou induzido a concordar com essa afirmação), que o livro “matou” o escritor. Não literalmente, óbvio. “Mas como?!”, perguntará, atônito, o leitor (como eu perguntei um dia), achando a afirmação exagerada. Bem, reitero, ela não deve ser interpretada literalmente. Exageros a parte, uma coisa não se pode negar: a redação dessa obra levou o autor a se descuidar da saúde, já bastante fragilizada (ele tinha tuberculose em estado adiantado) e a não buscar o devido tratamento. E esse descuido... custou-lhe a vida. Foi, por isso, uma epopéia para a materialização de uma idéia. Essa história, que poucos conhecem, é contada, em detalhes, em um primoroso texto do editor do semanário britânico “The Observer”, Robert McCrum, publicado no Brasil pela revista “Bula”, com tradução de Amanda Gorski.

Os comentários que me proponho a fazer a propósito baseiam-se em informações colhidas nesse magnífico ensaio. O livro “1984” foi escrito em 1946, na fazenda do editor David Astor, que a emprestou a George Orwell, para que ele tivesse o desejável isolamento para escrever em paz, sem que fosse interrompido por ninguém. Ocorre que essa propriedade ficava em uma ilha isolada da Escócia, chamada Jura, de clima inclemente, impróprio, portanto, para uma pessoa saudável, imaginem para um portador de tuberculose, e ainda por cima em estágio avançado! Para complicar, o inverno de 1946/1947 foi dos mais rigorosos do século XX na Europa.

McCrum observa a propósito: “Ali estava um escritor inglês, desesperadamente doente, lutando sozinho contra os demônios de sua imaginação em uma casa escocesa localizada em meio aos resquícios da Segunda Guerra”. Bem, para escrever o local até que poderia ser considerado apropriado, desde que nada faltasse ao solitário hóspede. E que este seguisse, à risca, as recomendações médicas. Mas como fazer que isso ocorresse se não havia quem o “controlasse”? Sim, como? Ou quem o servisse? Ou quem lhe fizesse companhia nos raros momentos em que não estivesse escrevendo?

McCrum informa que o hóspede, naquela casa distante, em uma ilha tão remota, e gelada, não tinha, sequer, o essencial para uma vida razoavelmente confortável. Escreve: “Orwell, um cavalheiro, não apegado às coisas mundanas, chegou apenas com um saco de dormir, uma mesa, um par de cadeiras e alguns potes e panelas”. Não somente não tinha o básico para uma vida – se não confortável, pelo menos razoavelmente “decente” –  como não contava com o mínimo de equipamentos, hoje imprescindíveis a qualquer escritor, para realizar a tarefa a que se propôs.

Não levou consigo nem arquivos, nem anotações, nem livros para consulta e nem, sequer, um reles dicionário, para dirimir eventuais dúvidas semânticas, dessas que todos temos vez ou outra, em momentos de apuro, Já nem penso nas facilidades modernas, essas que hoje não conseguimos mais dispensar e muito menos prescindir, como um computador pessoal, por exemplo. Essa maquininha genial, aliás, na época sequer existia. Portanto, não havia internet, Google, Wikipédia e tudo o mais que viabiliza hoje qualquer idéia que venhamos a ter, por mais complexa que possa ser, à disposição de Orwell. Tinha, apenas, como o “máximo de modernidade”, uma máquina de escrever, que já nem era tão nova assim, e nada mais. Você, leitor, que eventualmente seja, também, escritor, conseguiria produzir um livro, pelo menos aceitável, naquelas circunstâncias? E, ainda mais: teria capacidade de escrever uma obra-prima, como “1984”? E mais ainda: conseguiria essa façanha tendo que trabalhar com febre e tossindo a não mais poder? Eu jamais conseguiria!!!
   
David Astor, dono do “The Observer”, fora patrão de Orwell, que havia trabalhado nesse jornal desde 1942. Primeiro, atuou como revisor de livros e depois, como correspondente de guerra. O editor tinha grande apreço e imensa admiração por seu ex-funcionário e estava disposto a fazer de tudo para que este, finalmente, escrevesse o tal livro que sempre dizia que “tinha na cabeça há tempos”, desde 1944. Aliás, até antes disso: desde a guerra civil espanhola em que lutou, engajado na Brigada Internacional em defesa dos republicanos.

O título, originalmente pensado para a obra, não era “1984” e nem nada parecido; Era “O último homem da Europa”. Robert McCrum observa, a respeito da concepção da história: “Esse romance, que tem algo da ficção distópica de Yevgeny Zamyatin, provavelmente começou a adquirir uma forma definitiva durante o período de 1943 e 1944, tempo no qual ele e sua esposa Eileen adotaram seu único filho, Richard”. E aduz: “O próprio Orwell alegou ter se inspirado com a reunião dos líderes dos Aliados na Conferência de Teerã, em 1944”. E por que, especificamente, esse encontro o inspirou e não outro fato qualquer da Segunda Guerra Mundial? O escritor Isaac Deutscher, grande amigo do autor de “1984”, explica melhor o motivo. Afirma que Orwell estava “convencido de que Stalin, Churchill e Roosevelt, conscientemente, traçaram o mapa para dividir o mundo” nessa Conferência de Teerã.

Muito se especula sobre qual ditador inspirou o personagem “Big Brother”. Li várias especulações assegurando que foi o soviético Josef Stalin. Orwell, todavia, nunca confirmou essa hipótese. Deu a entender que essa figura assustadora e terrível, que “ninguém nunca viu”, tinha um pouco de todos os tiranos do mundo, quer de esquerda, quer de direita. Era um pouco Hitler, outro tanto Mussolini com traços aqui e ali de inúmeros outros ditadores de tantos lugares e tempos. E tinha muito de Stalin também, óbvio. Para mim, a história de como nasceu “1984” rivaliza, se não supera, o próprio enredo dessa obra-prima do século XX. Merece, portanto, ser contada.

Boa leitura.

O Editor.   


Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk 
Resgate

* Por Núbia Araujo Nonato do Amaral.

Às vezes fico a me indagar
o que aconteceria se eu
viesse a lhe faltar.
Chorarias talvez...
Reduzirias-me aos poucos
em tua memória.
Uma ou outra coisa te
despertaria, mas nada
roubaria de ti a fome,
a sede ou o calor.
Quem parte deixa
um gosto, um cheiro,
um brinde.
Não sei o que deixar pra ti.
Deixo-te então as dúvidas
que te roubarão o sono
resgatando-me nas
nuvens de tuas lembranças.

 * Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário


Pintura rupestre, Namibia

O rei leão

* Por Talis Andrade

Deitado na sombra da árvore
o velho leão lembra os tempos de caça
Lindas gazelas pastavam na verde planície
que as areias do deserto
empurradas pelo vento
foram cobrindo
A pata doída o velho leão
sente que não tem força
para afastar um enxame de moscas
que lhe sugam as feridas

* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).




Ressentimento

* Por Daniel Santos

O marido não sabia adúltera a esposa que o esperava sempre às seis com a janta já pronta, banho tomado e sorriso de confortá-lo ao chegar suarento, com maus-odores e maus bofes, após um dia só frustrações.

Vivia de percorrer as ruelas mais encardidas do subúrbio, sob a ferocidade de um sol que o mordia como um cachorro, enquanto distribuía amostras grátis de remédios para pressão pelos consultórios médicos.

Depois regressava a casa, a pele ensebada, sapatos encharcados  de suor, nariz entupido pela fuligem em suspensão, e tudo o que queria era o frescor do lar, lençóis perfumados, janta quentinha e ... ah! ... descanso.

Tantos mimos o alegravam e compensavam o cotidiano rastaqüera que lhe doía como um açoite, mas tudo terminou quando chegou mais cedo que de costume e viu o vizinho saltar ladino sobre o muro da sua casa.

Os homens do boteco exigiram atitude, mas ele deu voltas e voltas no quarteirão e só entrou bem mais tarde. Chutou o cachorro, queimou o broto da begônia com cigarro, rilhou dentes através da madrugada.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     * Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.

Fragmentos

* Por Lêda Selma

Nas poças das ruas
restos de luas
rastros de passos
bêbados lassos
sonhos dormidos.

No espelho, meu rosto
no lençol, meu gosto
no armário, meu corpo
de tecido) cheiroso
e vazio de vida.

A toalha diz tudo
e o perfume alardeia 
o prazer esquecido
num dia qualquer.
No silêncio, meu vulto.

Nas poças dos sonhos,
bêbadas luas
restos de passos
rastros de corpos
prazeres baços.

·         Poetisa e cronista, licenciada em Letras Vernáculas, imortal da Academia Goiana de Letras, baiana de Urandi, autora de “Das sendas travessia”, “Erro Médico”, “A dor da gente”, “Pois é filho”, “Fuligens do sonho”, “Migrações das Horas”, “Nem te conto”, “À deriva” e “Hum sei não!”, entre outros.



Carlinhos e Carlão


* Por Isabel Furini

Aniversário de Alberto. Meu irmão, o Carlão, virá com alguma de suas loucuras. Já o presenteou com um vômito de plástico, com cocô... nem sei de que material, parecia de verdade. Deu copo com mosca, refrigerante que faz babar... O Alberto queria matá-lo, até que...

– A sociedade está perdendo os valores éticos. A sociedade de consumo, consumiu nossos valores! – gritou Alberto para finalizar o discurso. Os alunos aplaudiram. O diretor não gostou. Os pais deram queixa: o professor Alberto usava da retórica para colocar os filhos contra o sistema. Foi demitido.

Alberto era o único dos três irmãos que estudara. Meu sogro, ao morrer, deixou uma chácara para o mais velho, uma padaria para o filho do meio e, para o caçula, uma poupança para terminar os estudos. Alberto formou-se em História.

Nessa tarde quente de primavera, Alberto aproximou-se do prédio, cabisbaixo. Eu falava no hall de entrada com dona Rosa, a velhinha do 504. Elevador em manutenção. Nesse momento, a Ramona, enorme como uma montanha, com aquela obesidade mórbida que é impossível ocultar – 175 quilos, descia as escadas. Roupa clara, florida, esvoaçante, parecia uma barraca. .

– Meninas – grita desde a escada – voltei a nadar e estou adorando...
Parabenizamo-la pela iniciativa. Ramona caminha até o carro – o estacionamento fica na frente do prédio – entra atabalhoadamente e se afasta. Carlinhos, meu filho, parece entretido com seu aviãozinho de brinquedo.

– Você não vai acreditar, mas ela nada bem... – comentei.

– Estranho, verdade..

– Estranho, nada – disse Carlinhos parando a brincadeira – Estranho, nada, baleias nadam bem... todo mundo sabe. Olhou com os olhos arregalados pela surpresa. Dona Rosa, a senhora não sabia que as baleias nadam bem?

Dona Rosa soltou uma gargalhada. Nesse momento entrou o Alberto. Lúcia, preciso falar com você, disse com voz triste. Perdi o emprego, murmurou.

– Vamos comer bolo, Carlinhos?... Podemos subir devagar – disse dona Rosa para amenizar a situação.

A notícia se espalhou. A família toda entrou em desespero. Os tios de Alberto, meus pais, os irmãos de Alberto, minhas primas. Todos estavam revoltados. Falavam em processar a escola, em processar o diretor, os pais dos alunos, até em processar o porteiro da escola. Só o Carlão permanecia tranqüilo.

Ainda lembro quando falamos sobre o assunto. Foi numa tarde. O Carlão ia cuidar do Carlinhos porque eu precisava consultar o médico e Alberto tinha uma entrevista de emprego. Estava do lado de fora, esperando-o . O Carlinhos brincando com um carrinho entre as poltronas do hall. Duas senhoras idosas, idosas mesmo, falavam sobre doenças, ao lado da porta. Uma apoiou-se do lado direito, e a outra, do lado esquerdo da porta. Desculpa o atraso, mana, disse o Carlão e entrou correndo, passando entre elas sem cumprimentar. Uma das senhoras olhou para ele e gritou:

– Juventude sem educação, passou entre nós duas e nem disse boa tarde.
Carlão virou-se e irônico retrucou: – Desculpem, achei que as duas múmias faziam parte da decoração do prédio. Eu baixei a cabeça e caminhei até o carro. O Carlão e Carlinhos sempre me faziam ficar envergonhada.

– O que disse o médico? – perguntou o Carlão.

– Só estresse... – respondi quase chorando... É que se Alberto não consegue emprego... não sei... devemos R$15.000,00 ao banco.... vamos perder o apartamento... Carlão.... onde vamos morar?

– Podem morar comigo...

– Você mora numa quitinete...

– É verdade... não se preocupe, já vai surgir alguma solução.
Eu continuei preocupando-me. Às vezes, o Carlinhos, com seus cinco anos, aproximava-se de mim – Por que está tão triste, mãe? Eu não respondia... não sabia o que dizer.

Uma semana depois, à noite, o Carlão chegou acompanhado da Marilda, a namoradinha loira. Entregou-nos R$ 15.000,00 em notas de cinqüenta... Foi a maior agitação, lá em casa. O Carlinhos pulava do sofá, subia e pulava novamente. Alberto achava que o Carlão tinha roubado. Minha mãe gritava que o filho não era ladrão. Eu perguntava de onde ele havia tirado o dinheiro.

– Ele não roubou, não... ele é um gênio! -exclamou a Marilda e deu-lhe um beijão na boca... desses de tirar o fôlego.

No dia anterior, o Carlão tinha solicitado falar com Osvaldo, o chefe. Osvaldo era um quarentão arrogante e egocêntrico. Metido a besta, segundo os funcionários. Era namoradeiro, um play-boy e bom gourmet. Foi recebido pelo Osvaldo às dezesseis horas. Sala grande, luminosa, computador de última geração.

– Admiro o senhor e por isso, tenho que falar. Bom, não sei se devo contar isso ao senhor, talvez... é... melhor outro dia.... Virou-se e deu dois passos até a porta.

– Pode falar, rapaz! O Carlão explicou que o assunto era muito delicado. Não sei se devo, não sei se devo, repetia.

– Por favor, sente-se. Qual é o problema?

– Seu Osvaldo, eu sei que temos nossas opiniões, algumas diferenças... mas eu admiro muito o senhor, por isso acho que devo ser honesto. O pessoal está dizendo... está dizendo... que o senhor...
– Sim?

– Pinto pequeno. Estão dizendo que o senhor tem pinto pequeno.... Desculpe, senhor, mas é o que estão dizendo.

Os olhos de Osvaldo ficaram enormes, injetados de sangue. Ele, o play-boy, o garanhão.... Pinto pequeno, eu????

– Estou contando para ajudar. Em seu lugar eu... daria uma lição. Reuniria todos os homens, baixaria as calças e faria notar o tamanho de minha genitália.
Osvaldo ficou em silêncio, os punhos crispados, a garganta seca. Serviu-se de um café e ofereceu outro para Carlão.

– Isso! Isso! Vou dar uma lição no pessoal.

Osvaldo chamou a secretária e pediu para reunir todos os homens da empresa – 185, na parte livre do almoxarifado. Ele iria discursar.

Osvaldo, de pé sobre um palco improvisado, esbravejou:

– Sei que estão falando nas minhas costas... sei que estão me criticando, mentindo sobre o meu pinto. Dizendo.. dizendo que tenho pinto pequeno.

Carlão, na primeira fileira gritou: – Abaixe as calças! Abaixe as calças!

Osvaldo abaixou as calças e mostrou, com orgulho, como era um homem avantajado. De hoje em diante, quero ser chamado de Osvaldo, grande pinto! Gritou e retirou-se, feliz. Os funcionários iam saindo e cumprimentando o Carlão. Você ganhou... cara! Nunca pensei que realmente conseguisse fazer o chefe abaixar as calças diante dos funcionários.

Marilda contou rindo que o Carlão tinha feito uma aposta. Apostou que conseguiria fazer o chefe descer as calças. E conseguiu. Todos os 327 funcionários da empresa, entre homens e mulheres, todos apostaram. R$ 50,00 cada um. São R$ 15.000,00 para pagar o apartamento e um troquinho para mim... disse o Carlão.

O dono, seu Eufrásio, ao saber da brincadeira chamou o Carlão. Criatividade é o que precisamos nesta empresa, disse. O Carlão mudou de setor. Foi para o departamento de marketing e ganhou uma promoção.

– O que fará hoje teu irmão?- perguntou a prima de Lúcia, enquanto arrumava os brigadeiros.

– Alguma brincadeira... como sempre, agora é chefe da empresa, mas não mudou.

Soou a campainha. Os convidados estavam chegando com presentes para Alberto. Beijos, abraços, frases como: o Carlinhos é um amor, é muito fofinho... Onde está o aniversariante?

Carlão trouxe um presente para Alberto. É para festejar seu novo emprego na faculdade, falou. Um charuto fino, um cubano. Alberto acendeu. Explosão. Risos. Alberto foi lavar o rosto. Tinha ficado preto. Lúcia aproximou-se dele. Você não sabia que ele ia fazer isso? Sabia, Lúcia, eu sabia, mas depois de tudo o que fez por nós... decidi entrar na brincadeira.

* Isabel Furini é escritora e poeta premiada, autora de “Eu quero ser escritor – a crônica”, do Instituto Memória, Curitiba.