terça-feira, 2 de outubro de 2018

Considerações sobre o tempo - Harry Wiese


Considerações sobre o tempo


* Por Harry Wiese

Há quem afirma que o tempo não existe. Cientistas e filósofos dizem que ele só existe no contexto biológico/psicológico. Dizem que fora do nosso ambiente, no longínquo universo, no mundo das galáxias e dos mistérios, não há dia, nem noite; nem inverno e nem verão. É um contínuo estar ligado ao eterno, sem início e sem fim, portanto, sem tempo.

Procuro Santo Agostinho para me auxiliar e o bispo de Hipona, com toda filosofia e ciência, mais perguntou que respondeu: “Que é, pois, o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem o poderá apreender, mesmo só com o pensamento, para depois nos traduzir por palavras o seu conceito? E que assunto é mais familiar e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele falamos, compreendemos o que dizemos. Compreendemos também o que nos dizem quando dele nos falam. O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei”.

Como se percebe Agostinho também se defronta com algumas dificuldades ao falar sobre o tempo. É tão difícil como explicar os dogmas da religião com cunho científico, que ele tantas vezes tentou durante sua vida: “não podemos apreendê-lo, – afirma – pois o tempo nos escapa, não conseguimos medi-lo. E também não podemos percebê-lo”.

Diante da situação que me deixa até perplexo, prefiro escrever sobre o tempo nosso, sobre o tempo do dia a dia, o tempo da noite de insônia que tende não acabar e o tempo que passa rápido demais nas horas da felicidade exposta. Então me animo a ler e interpretar a bela passagem do livro de Eclesiastes, que fala do tempo como nós o percebemos e conhecemos. “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar; Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar; Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora; Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz”.

O poeta e escritor Augusto Frederico Schmidt, por quem tenho respeito e apreço, certa vez, em uma de suas crônicas, afirmou que “o tempo passou por mim e marcou-me fundo, feriu-me, curou-me, mudou minha maneira de compreender as coisas, fez-me esquecer ofensas e mágoas”.

Assim como ele, também desejo descrever algumas situações sobre o tema. Como há tempo para plantar e arrancar o que se plantou, também há tempo de colher, pois em situações normais, quem planta, colhe. Entre tantas situações importantes também destaco que há tempo de ensinar e tempo de escrever. Quem ensina planta conhecimento e quem escreve planta emoções. Professores e escritores plantam, mas não colhem; aliás, colhem a alegria de ver a colheita dos que se apropriaram do conhecimento e dos que fizeram das emoções um modo de vida mais harmonioso.

O tempo nosso do dia a dia fez e faz coisas extraordinárias. Não tenho nada a lamentar. O que poderiam ser lamentos foram ocasiões de aprendizagem. Minhas rugas e as suas rugas, caro leitor, caso as tenha, ou está em evidência de tê-las, refletem e refletirão a experiência acumulada dos dias. Quem tem rugas tem histórias para contar, conhecimento a passar, textos a escrever e lições a ensinar.

Se o tempo existe ou não deixemos a resposta com os filósofos e cientistas. O que importa é que nós estamos nele e a nossa existência está insculpida na dimensão dele com o que fomos, somos e seremos. O que está além ainda não nos pertence! E é bom que seja assim!


* Harry Wiese é escritor que reside em Ibirama - SC. É autor de vários livros, dentre eles A sétima caverna, romance premiado pela Academia Catarinense de Letras.


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