sexta-feira, 2 de junho de 2017

Noites de São João



* Por Conceição Pazzola


São João sempre traz lembranças felizes. De quando, por exemplo, passava praticamente o dia inteiro fazendo comida de milho e anoitecia sem que houvesse terminado.

Hora de acender a fogueira; o marido e as crianças, de roupas trocadas e banhos tomados iam para a rua onde acendiam a fogueira armada à frente de casa, esperando a hora de assar o milho e soltar fogos, enquanto eu continuava minha labuta na cozinha, toda lambuzada por conta da raspagem do coco, do milho descascado e moído, do liquidificador mil vezes lavado e mil vezes usado, das palhas reservadas para as pamonhas devidamente costuradas na máquina (porque nunca aprendi a envelopar o creme de milho depois de pronto) e fervidas. A panela com a canjica no fogo era mexida ouvindo os gritos e as conversas do lado de fora, a fumaça se espalhando e o barulho dos fogos enchendo os ares.

Quando a canjica estava nos pratos coberta de canela em pó e as pamonhas prontas, o pé de moleque desenformado, tudo pronto para ser consumido por volta de nove horas da noite podia pensar em cuidar de mim. A criançada já havia entrado e saído mil vezes para convidar-me a participar da fogueira e do milho assado. Uma noite inesquecível. De banho tomado e roupa trocada, chamava-os para finalmente servir o jantar junino. Desnecessário é dizer que isso nem era preciso porque eles já haviam invadido a cozinha, descoberto a panela onde fora feita a canjica e raspado o que sobrara.
Hoje sou adepta do lema “Desgruda a mulher da cozinha!”



* Poetisa.

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