O
sábio e o erudito
Para isso acontecer, cada indivíduo
(não importa a nacionalidade, sexo, raça ou cor) deve ser educado (não
meramente instruído) para raciocinar, entender, colaborar e criar. A educação
tem sido encarada de maneira equivocada, em um sentido meramente utilitarista,
como "adestramento" e não desenvolvimento de potencialidades. Faz de
cada pessoa mera peça de uma poderosa
engrenagem (não importa se rústica ou sofisticada, se plebéia ou elitizada)
comprometida com ideologias ou interesses hegemônicos grupais. Mas o homem não
é máquina. É vivo. Raciocina. Tem capacidade de distinguir o bem do mal (quando
preparado para tal).
Vidas são desperdiçadas, como se nada
valessem, porque sua racionalidade não é exercida, sequer minimamente. Os
"excluídos" (a maioria) não foram preparados para esse exercício. São
tratados não como homens, mas como uma "subespécie" animal, um
estágio intermediária entre o hominídeo e o "homo sapiens", uma aberração da natureza. E é como se sentem
e agem. E como acabam se tornando.
É comum confundir-se o sábio com o
apenas erudito ou com o que se diz "inteligente". São conceitos diferentes, não sinônimos,
embora a diferença seja sutil para que os despreparados, dados a generalizações
(para as quais foram treinados no lar, na escola e na sociedade), a percebam.
Sabedoria só se obtém com experiência. É o clímax da racionalidade. É criativa,
dinâmica e sobretudo participativa. Inteligência, por sua vez, é a mera
capacidade de uma pessoa entender conceitos abstratos e as coisas que a rodeiam
(do latim "inteligere"). Se não aplicada, pouco ou de nada vale para
o indivíduo e para a coletividade. Já o erudito, é o que acumula conhecimentos.
Quase sempre, porém, esse acúmulo é apenas teórico. Se não souber o que fazer
com o que acumulou, pouca valia lhe terá esse acervo.
Albert Einstein constatou que "o
homem erudito é um descobridor de fatos que já existem --- mas o homem sábio é
um criador de valores que não existem e que ele faz existir". Não há, e
nem pode haver, aquele que tudo conheça. O universo é vasto demais (e o ser
humano ínfimo e efêmero) para que a chave do mistério da natureza seja
encontrada e abra as portas da razão absoluta. O raciocínio metódico e
disciplinado permite ao homem que vislumbre "reflexos" distorcidos
(como os da caverna de Platão) da essência do conhecimento.
O século XX terminou e o XXI começou
com um progresso tecnológico sem precedentes. Os meios de transporte como o
avião, o navio a vapor, o trem e o automóvel tornaram possível o deslocamento
de pessoas, de uma parte a outra do mundo, em horas, quando até recentemente se
fazia em dias, semanas e meses, quando não em anos. A medicina
possibilita a crescente ampliação do tempo de vida do homem, curando doenças há
pouco consideradas incuráveis e prometendo prevenir o mal na própria raiz,
"consertando" genes defeituosos antes mesmo do nascimento.
A robótica, virtualmente, acabou com as
tarefas penosas, cansativas ou repetitivas dos operários, o que possibilitou
produção em massa de bens que vieram facilitar a vida c cotidiana de milhões de
indivíduos. Paradoxalmente, no entanto, suprimiu seus empregos, deixando
multidões sem recursos para adquirir o que é produzido. Dois terços da
humanidade ainda não podem satisfazer sequer
necessidades básicas, como alimento, moradia, medicamento e instrução fundamental
(alfabetização). As comunicações instantâneas (através da televisão via
satélite, Internet, telefone celular, etc.) pulverizaram distâncias e permitem,
hoje, que todos se informem sobre o que ocorre em qualquer parte do Planeta,
simultaneamente aos acontecimentos. No entanto, parcela considerável dos
habitantes da Terra sequer tem acesso às primeiras letras, à margem da vida.
Abundam, hoje em dia, os eruditos. Quanto aos sábios... Bem, a carência é
catastrófica e crescente...
Boa leitura!
O Editor.
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Gostei de tudo, mas especialmente da finalização, que me fez sorrir.
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