domingo, 7 de fevereiro de 2016

Estrela


* Por Emanuel Medeiros Vieira


Para CLARICE


Então, eu disse para ela – tentando desdramatizar, buscando um sorriso –: quando sentires saudades, olha uma estrela (qualquer estrela), em qualquer noite, e tenta me enxergar lá – o bigode, o sorriso, as esperanças, as paixões, os erros, as lutas não vencidas, o sonhos, os voluntarismos, tudo o que quiseres enxergar.

Ela camuflava a tristeza. Eu iria partir. Nunca se sabe quando.

De qualquer maneira, eu sempre te amarei, e esse amor vai à eternidade, mas eu não quis ser solene ou retórico– era o que eu  sentia (sempre, só escrevi o que senti).

Morrer é ficar longe dos amigos?

Lembrei-me de um personagem de Gabriel Garcia Marquez, em “Do Amor e Outros Demônios”: “O corpo humano não foi feito para os anos que a pessoa é capaz de viver” (...).

Vida e morte, não pedimos para nascer, não pedimos para morrer.

“Os homens morrem e não são felizes” (Albert Camus).

Fomos andar no Parque da Cidade.

E fiquei pensando: vi esta “menina” nascer, assisti ao  seu crescimento, os primeiros dentes, seu crescimento, a evolução do corpo, e ela estava agora com quase trinta anos, e é um sol nesta minha vida.

Como em Nietzsche, a mim não foi concedido o benefício do esquecimento.

Seria um lugar-comum, mas eu “discursei”: é preciso ser forte, nascemos, vivemos, envelhecemos – se não morrermos antes.

Entendi na prática o que estudara nas aulas de Filosofia: é preciso ser estoico.

Não reclamar, seguir em frente.

Fé? Eu não sabia se ainda a tinha.

“Nada acontece no teu conto”, avisa um anjo.

Um eventual leitor, talvez diga: “que triste!” ( o texto).

Categorias como “alegria” ou “tristeza” não importam no que escrevo. Só busco colher  uma verdade humana, só escrevo o que sinto – sempre (perdão pelo tom solene ou retórico – ou pelo eventual lugar-comum).

Parece um jogo de dados. Cai o número seis, o número um. Sempre cai algum número.

Células “saíram do lugar”. O repertório é vasto – enfermidades várias.

Passamos. Breve sopro.

Insisti: sempre te amarei, aqui, depois, sempre.

Comemos pipoca, tomamos água de coco.

Estávamos no período de seca em Brasília.

Seus olhos pareciam indagar: “por que”?

Nunca saberemos.

Nunca saberemos de nada.

Em tradução livre, recordei-me de “Macbeth”, de Shakespeare” (sobre a vida): “É uma estória contada por um idiota, cheia de som e de fúria, sem nenhum significado.”

Poderia ter optado por “louco” em vez de “idiota”. E optando “qualquer” em vez de “nenhum”.

A vida? Essa ânsia toda. Essa movimentação toda. Essa luta toda.

Mas não esqueças, moça: para te lembrares de mim, basta escolher uma estrela.

Qualquer uma.

Até.

* Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre outros. 



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