Me acorda quando o movimento terminar
* Por
Alexandre Vicente
Recebi pelo facebook o
trailer do filme “Brasil meu amor” da compatriota, radicada em Los Angeles,
Débora Reis Totton. É o Brasil visto por brasileiros exilados por motivos
diversos. Quando falo em exilados pretendo ser o mais abrangente possível. São
várias as razões que nos levam a esta condição de estrangeiro: Política,
financeira, amorosa… mas não tenho a intenção de discursar sobre o filme. Seria
leviano fazê-lo, pois ainda não assisti. A cineasta garante estar fazendo de
tudo para que seu trabalho seja exibido em nossas salas. Torço para que
consiga.
O que me fez ponderar –
este é um hábito antigo sempre que sou surpreendido por uma metáfora
intencional ou não – foi a sentença extraída desta curta apresentação: “Me
acorda quando o movimento terminar”.
Não sei em que contexto
ocorre esse diálogo e antecipo minhas desculpas à autora, mas passei o dia
pensando nesse jeito brasileiro de ser. Queremos mudanças, mas desde que não
nos dê trabalho. A obra de Lima Barreto já nos retrata assim. Queremos o
favorecimento dos arranjos e que o milagre venha dos céus. Exigimos que os
presidentes mudem o Brasil, mas não queremos que mude nossa vida. Não queremos
ceder nem um milímetro, pois já cedemos demais. Deixamos a corda correr por
muito tempo. Nos roubaram, extorquiram, trapacearam, enganaram… E nós? O que
fizemos? Dormimos.
Certa vez estava no
metrô da linha 2 e o calor era absurdo. O ar condicionado estava quebrado, o
trem todo vedado e com ocupação muito além de sua capacidade. Não suportando
mais aquela tortura, uma senhora desceu na primeira plataforma e começou a
reclamar com o condutor.
“É um absurdo! Este
trem não tem condições de transportar as pessoas!”
Você deve estar
imaginando que todos deram razão à mulher. Enganam-se. O que mais se ouviu
foram censuras a sua atitude. Sugestões anônimas como: “Tá incomodada?
Pega um táxi” ecoavam
da coletividade que insistia em dormir no cantinho quente e fedido que se
encontrava.
Prefiro acreditar que
vamos despertar e ser mais do que vândalos nas ruas. Vamos protestar com
consciência política e exigir direitos cumprindo nossos deveres. Mas diante das
recentes pesquisas de intenções de votos para os cargos executivos e
legislativos, lhe peço um favor: me acorda quando o movimento terminar.
*
Escritor carioca
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