quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Antônia

* Por Sayonara Lino

O silêncio de Antônia era como um grito. Introspectiva, bela, solitária e apaixonada. Sentia como se o ar lhe faltasse.

Mergulhava no trabalho a fim de esquecer a lacuna, mas sua mente voava. Já não se concentrava como antes e se cobrava muito por isso. O que fazer diante do destino que capturou o que havia de mais precioso em sua vida? Não havia fuga possível. A dispersão era constante.

Caminhava olhando o vazio. Saiu do pequeno apartamento no centro da cidade e foi viver em um bairro afastado. Pensava que pudesse se desfazer um pouco das boas lembranças, mas estas a acompanharam em sua nova casa. Tornou tudo o mais aconchegante possível e diferente de antes. Mas Antônia sempre soube que a bagagem nos acompanha. Está conosco, ainda quando visitamos os lugares mais distantes. De qualquer forma, isso trouxe um certo alívio. Seria um recomeço.

A vida seguia e o sentimento de saudade ainda a visitava. Não era sociável, gostava de ficar só e isso a atrapalhava a conhecer outras pessoas. Estava trancada em si mesma, nada rompia seu casulo.

Antônia ainda desabafa comigo. Ontem nos falamos e marcamos um encontro. Claro, eu irei até ela. Compreendo sua situação. Ainda está ferida. Essas cicatrizes na alma demoram a cicatrizar.

Espero encontrá-la um pouco melhor. Não posso dizer que o tempo irá resolver tudo isso, mas quando vejo em seus olhos claros a dúvida em relação ao futuro, o mínimo que gostaria de dizer é que um dia, seguramente, conseguirá sentir ao menos um pouco de paz.

• Jornalista, fotógrafa e colunista do Literário

Um comentário:

  1. Todas nós temos no currículo momentos como este. São de pura dor. Da ferida no peito, o sangue jorra. Depois vai adormecendo, embora a saudade vá aumentando. Senti-me reconfortada pelo conforto que enviou a sua amiga, Sayonara. Ficou leve e sublime seu texto.

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