sábado, 11 de fevereiro de 2012







Pesadelo

* Por Juarez José Viaro


Não gosto muito de comer antes de dormir, mas na noite passada foi inevitável. Vieram alguns amigos em casa, bebemos, comemos e quando se foram eu fui dormir. Foi batata! Dormi e sonhei. Aliás, tive pesadelos.

Sonhei que entrava em um banco e era assaltado. O gerente me colocava numa cadeira confortável e me exigia fazer um seguro para poder renovar meu cheque especial. Dizia que eu havia utilizado muito o empréstimo automático do cheque e por isso era um cliente preferencial, podia já pagar juros mensais de 8,5% ao invés dos 9,0% cobrados dos demais clientes.

Fiquei feliz, mas logo minha felicidade foi abalada pois me serviram um café amargo antes de dizer que minha poupança rendia 0,6% ao mês. Fiquei pasmo, comecei a suar frio, achei que era por causa do ar-condicionado ligado a todo vapor, mas logo que informaram que eu não pagaria taxa por emissão do primeiro talão de cheques. Mas pagaria taxa se emitisse cheques abaixo de 20 reais.
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Com dificuldades e, depois de deixar todas minhas economias naquela poupança especial para pessoas endividadas, consegui me safar e fugir da agência.

Acordei suando, sentado na cama com os olhos arregalados e aliviado por ter tido mais um pesadelo em minha vida. Confesso que ainda me lembrava do rosto sorridente do gerente e sua secretária empunhando uma xícara de café...

O despertador tocou em seguida. Levantei-me e me preparei para mais um dia de trabalho. Senti um alívio por passar pelas mesmas ruas e ver que tudo estava normal. Crianças descalças faziam malabarismos para pedir uns trocados, enquanto o semáforo estava fechado. As marginais eram cercadas por favelas que quase avançavam sobre o asfalto, onde crianças se espremiam para brincar, talvez esperando o melhor momento para assaltar os carros num congestionamento oportuno, pensei... Com certeza ali era um antro de marginais e traficantes. Resolvi fechar todos os vidros do veículo e acelerar.

Estava indo para mais um dia de trabalho e o melhor era evitar surpresas e assaltos. A vida era boa assim e tudo continuava normal.

* Juarez José Viaro é formado em Letras e Jornalismo. Publicou o livro de poemas “Aroma de Amora” e participou de movimentos literários em Osasco e São Paulo. Tem um romance inédito, “Viagem ao Interior”.

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