Como julgar um livro pela capa
* Por Fernando Yanmar Narciso
* Por Fernando Yanmar Narciso
Estava no auge de meus 7 anos, um capetinha serelepe como muitos. Na época, uma por assim dizer revolução ocorria no ramo de entretenimento infantil. O reinado das apresentadoras loiras coxudas e dos palhaços psicóticos com seu humor pastelão e pancadaria circense era timidamente ameaçado por uma nova invasão nipônica. Séries semi-paleolíticas como Ultraman, Robô Gigante, Spectreman e até mesmo jurássicas como National Kid davam lugar a super-heróis mais “plausíveis”.
Guerreiros lutadores de caratê em armaduras reluzentes, portando pistolas e espadas laser plagiados de Star Wars, enfrentando impérios alienígenas armados até os dentes e seus monstros espaciais, que ao perceberem que a batalha estava mais que perdida, resolviam apelar para versões super-size dos mesmos, na esperança de esmagar os heróis como uma barata na quina. O que não adiantava muita coisa, pois logo os mesmos invocavam seus próprios veículos gigantes, que combinados formavam um poderoso robô para terminar de salvar o dia.
E eu estava no meio de tudo isso! Por quase toda minha infância tudo em que conseguia pensar era em Tóquio, ETs de roupa emborrachada, gente vestida de lycra colorida, fumaça de gelo seco, raios e robôs. Tudo o que tinha a ver com esses temas era o paraíso. Quer dizer, até cheguei a acordar as 4 da matina pra assistir a série americana Super Force na Rede Globo. Nem entendia nada do programa, a única coisa que me importava era que o herói era um policial do futuro usando uma armadura e uma super-moto!
Então, num dia qualquer, enquanto meus pais devolviam aquelas fitas VHS do Jaspion e do Pica-pau no saudoso videoclube Art Vídeo pela trigésima vez, só pra alugar tudo de novo na outra semana, uma capa de filme, fora da sessão infantil, chamou minha atenção. Lá na prateleira de ficção científica, um cara numa armadura branca radical, montado numa moto exatamente igual a dos japas de armadura, fugindo de um caminhão repleto de espinhos atirando lasers. WTF?!?
Então implorei para eles alugarem essa fita, além das de Jaspion, Changeman, Flashman, Jiraya, Jiban e do Pica-pau, porque ninguém é de ferro. Mas crianças são crianças. Na casa de minha avó, com aquela penca de priminhos, entre os personagens favoritos da TV e um filme que ninguém nunca ouviu falar, qual seria a alma da festa? Sábado, Domingo e muitas rebobinadas de fitas mais tarde, acabou que não consegui assistir ao tal filme. E, como se não bastasse, um estranho fenômeno passou a ocorrer: A cada vez que alugava a fita novamente, por fatores variados nunca consegui ver o filme em nenhuma delas. Que frustração...
Os anos passam e lá estou eu, nos meus vinte e tantos anos. Numa madrugada regada a tédio e solidão internética, de repente me lembrei do nome do tal filme. Joguei o nome no Google, baixei a película via torrent e descobri que toda aquela expectativa havia sido em vão. O tal filme era famoso por ser um dos piores já feitos, e por ironia, aquela capa linda não tinha absolutamente nada a ver com o produto real. Feito com orçamento quase zero na Itália, tentando imitar a atmosfera do clássico Mad Max , falhou miseravelmente.
O tal motoqueiro não usava aquela armadura e tampouco andava numa moto igual a do Jaspion, e a pior parte: A moto dele FALAVA, com uma vozinha de robô irritante que dá vontade de jogar o sofá televisão adentro. Trilha sonora feita com os famigerados tecladinhos japoneses e sintetizadores oitentistas, atuações piores que dos heróis japoneses, acrobacias e explosões toscas, efeitos especiais típicos da década, e a moto tagarelando o filme todo...
Pensando bem, creio que teria adorado assisti-lo naquela época.
• Designer e colunista do Literário.
Guerreiros lutadores de caratê em armaduras reluzentes, portando pistolas e espadas laser plagiados de Star Wars, enfrentando impérios alienígenas armados até os dentes e seus monstros espaciais, que ao perceberem que a batalha estava mais que perdida, resolviam apelar para versões super-size dos mesmos, na esperança de esmagar os heróis como uma barata na quina. O que não adiantava muita coisa, pois logo os mesmos invocavam seus próprios veículos gigantes, que combinados formavam um poderoso robô para terminar de salvar o dia.
E eu estava no meio de tudo isso! Por quase toda minha infância tudo em que conseguia pensar era em Tóquio, ETs de roupa emborrachada, gente vestida de lycra colorida, fumaça de gelo seco, raios e robôs. Tudo o que tinha a ver com esses temas era o paraíso. Quer dizer, até cheguei a acordar as 4 da matina pra assistir a série americana Super Force na Rede Globo. Nem entendia nada do programa, a única coisa que me importava era que o herói era um policial do futuro usando uma armadura e uma super-moto!
Então, num dia qualquer, enquanto meus pais devolviam aquelas fitas VHS do Jaspion e do Pica-pau no saudoso videoclube Art Vídeo pela trigésima vez, só pra alugar tudo de novo na outra semana, uma capa de filme, fora da sessão infantil, chamou minha atenção. Lá na prateleira de ficção científica, um cara numa armadura branca radical, montado numa moto exatamente igual a dos japas de armadura, fugindo de um caminhão repleto de espinhos atirando lasers. WTF?!?
Então implorei para eles alugarem essa fita, além das de Jaspion, Changeman, Flashman, Jiraya, Jiban e do Pica-pau, porque ninguém é de ferro. Mas crianças são crianças. Na casa de minha avó, com aquela penca de priminhos, entre os personagens favoritos da TV e um filme que ninguém nunca ouviu falar, qual seria a alma da festa? Sábado, Domingo e muitas rebobinadas de fitas mais tarde, acabou que não consegui assistir ao tal filme. E, como se não bastasse, um estranho fenômeno passou a ocorrer: A cada vez que alugava a fita novamente, por fatores variados nunca consegui ver o filme em nenhuma delas. Que frustração...
Os anos passam e lá estou eu, nos meus vinte e tantos anos. Numa madrugada regada a tédio e solidão internética, de repente me lembrei do nome do tal filme. Joguei o nome no Google, baixei a película via torrent e descobri que toda aquela expectativa havia sido em vão. O tal filme era famoso por ser um dos piores já feitos, e por ironia, aquela capa linda não tinha absolutamente nada a ver com o produto real. Feito com orçamento quase zero na Itália, tentando imitar a atmosfera do clássico Mad Max , falhou miseravelmente.
O tal motoqueiro não usava aquela armadura e tampouco andava numa moto igual a do Jaspion, e a pior parte: A moto dele FALAVA, com uma vozinha de robô irritante que dá vontade de jogar o sofá televisão adentro. Trilha sonora feita com os famigerados tecladinhos japoneses e sintetizadores oitentistas, atuações piores que dos heróis japoneses, acrobacias e explosões toscas, efeitos especiais típicos da década, e a moto tagarelando o filme todo...
Pensando bem, creio que teria adorado assisti-lo naquela época.
• Designer e colunista do Literário.
Querido, você evoluiu e também evoluíram os recursos todos. Ainda bem. A frustração até que não foi fatal. Você é nostálgico desde que nasceu. Sente saudade de coisa desconhecida. É o seu jeito.
ResponderExcluirSe tivesse assistido quando era miúdo, assimilaria o filme com olhos de encantamento, não faria uma análise ou crítica.
ResponderExcluirAbração Fernando.