

O perfume de Clarice
* Por Risomar Fasanaro
Li em algum texto de Clarice Lispector, não me lembro se na biografia recentemente lançada, ou se em alguma de suas crônicas, que um dia passando por uma loja, ela viu um perfume chamado “Imprevisto”, e que aquele perfume deu a ela a sensação de que algo novo, imprevisto, poderia acontecer em sua vida, e comprou o perfume. E o usava frequentemente.
Se não foi bem assim a história, me perdoem, ler é uma coisa, contar o que leu é outra, bem outra, porque à leitura acrescentamos nossa imaginação, vivência, emoção...
Bem, foi esta passagem daquele texto que me veio à lembrança quando saí do Espaço Cultural Unibanco, meu cinema predileto em SP, onde assisti ao novo filme do Polanski “O Escritor Fantasma”, que narra a história de um escritor que é contratado para escrever as memórias de um 1º ministro da Inglaterra e que se envolve em uma trama perigosa e difícil de sair.
Saí do cinema com duas amigas, Lídia e Vera, e ao me aproximar da Rua Hadock Lobo onde estacionara o carro, muito apressadinha, já fui pegando a chave, pagando a “caixinha” ao flanelinha, mas...e o carro? Não, não o encontrei.
Com minha fama de desligada, minhas amigas acharam que eu havia me enganado, que não estacionara naquele quarteirão, e embora eu reafirmasse que tinha certeza de tê-lo deixado ali, via nos olhos delas que duvidavam. Talvez até porque preferissem que eu tivesse me enganado de rua, de quarteirão...Quem sabe até de bairro...
Comecei a digitar o 190 do celular, e elas me pediram que não ligasse ainda, preferiam conferir, procurar um pouco mais.
Uma foi para o próximo quarteirão à direita e a outra para o da esquerda daquela rua. E ainda me pediram para ir até a rua de cima, paralela à Hadock Lobo.
Fui só para não contrariá-las, e é claro que o carro não estava. Voltei e fiquei parada, esperando as duas. Certíssima de que o carro fora furtado.
Depois de alguns minutos elas voltaram cabisbaixas, tristes. O luxuoso, o incrível, o novíssimo Corsa 2001 viajara para uma odisséia no espaço, levado pelos que têm fome e sede de justiça.
Sim, porque não imagino que quem roubou aquele carrinho meio velho, seja algum sócio da FIESP. Jamais.
O imprevisto batera à minha porta. E me lembrei de Clarice e seu perfume. Eu que imaginara ir ver os poetas pernambucanos na Praça Roosevelt, estava a pé. Lembrei do poema do Valmir Jordão, que àquela hora poderia estar declamando aquele seu poema:
* Por Risomar Fasanaro
Li em algum texto de Clarice Lispector, não me lembro se na biografia recentemente lançada, ou se em alguma de suas crônicas, que um dia passando por uma loja, ela viu um perfume chamado “Imprevisto”, e que aquele perfume deu a ela a sensação de que algo novo, imprevisto, poderia acontecer em sua vida, e comprou o perfume. E o usava frequentemente.
Se não foi bem assim a história, me perdoem, ler é uma coisa, contar o que leu é outra, bem outra, porque à leitura acrescentamos nossa imaginação, vivência, emoção...
Bem, foi esta passagem daquele texto que me veio à lembrança quando saí do Espaço Cultural Unibanco, meu cinema predileto em SP, onde assisti ao novo filme do Polanski “O Escritor Fantasma”, que narra a história de um escritor que é contratado para escrever as memórias de um 1º ministro da Inglaterra e que se envolve em uma trama perigosa e difícil de sair.
Saí do cinema com duas amigas, Lídia e Vera, e ao me aproximar da Rua Hadock Lobo onde estacionara o carro, muito apressadinha, já fui pegando a chave, pagando a “caixinha” ao flanelinha, mas...e o carro? Não, não o encontrei.
Com minha fama de desligada, minhas amigas acharam que eu havia me enganado, que não estacionara naquele quarteirão, e embora eu reafirmasse que tinha certeza de tê-lo deixado ali, via nos olhos delas que duvidavam. Talvez até porque preferissem que eu tivesse me enganado de rua, de quarteirão...Quem sabe até de bairro...
Comecei a digitar o 190 do celular, e elas me pediram que não ligasse ainda, preferiam conferir, procurar um pouco mais.
Uma foi para o próximo quarteirão à direita e a outra para o da esquerda daquela rua. E ainda me pediram para ir até a rua de cima, paralela à Hadock Lobo.
Fui só para não contrariá-las, e é claro que o carro não estava. Voltei e fiquei parada, esperando as duas. Certíssima de que o carro fora furtado.
Depois de alguns minutos elas voltaram cabisbaixas, tristes. O luxuoso, o incrível, o novíssimo Corsa 2001 viajara para uma odisséia no espaço, levado pelos que têm fome e sede de justiça.
Sim, porque não imagino que quem roubou aquele carrinho meio velho, seja algum sócio da FIESP. Jamais.
O imprevisto batera à minha porta. E me lembrei de Clarice e seu perfume. Eu que imaginara ir ver os poetas pernambucanos na Praça Roosevelt, estava a pé. Lembrei do poema do Valmir Jordão, que àquela hora poderia estar declamando aquele seu poema:
”coca para os ricos
cola para os pobres
coca-cola é isso aí”
Não sei quem furtou, mas provavelmente não estava com coca na cabeça. O certo é que pela terceira vez perdi um carro. Uma por assalto à mão armada, e duas por furto.
Embora com o carro no seguro, fiquei triste, chateada.
Mas na vida da gente nem tudo está perdido, e eis que na segunda-feira fui novamente “assaltada” por um imprevisto.
Estava eu “posta em sossego” relendo “Madame Bovary”, quando escuto o som do interfone. Era o porteiro do condomínio me avisando que havia dois sedex pra mim. Desço e corro até a portaria: ah...vocês não imaginam...era um presente mais valioso pra mim do que qualquer jóia, qualquer carro, porque veio em forma de imagens, de palavras...Ah, o imprevisto. Clarice tinha razão: de repente o imprevisto pode nos trazer a felicidade...
* Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de “Eu: primeira pessoa, singular”, obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.
Embora com o carro no seguro, fiquei triste, chateada.
Mas na vida da gente nem tudo está perdido, e eis que na segunda-feira fui novamente “assaltada” por um imprevisto.
Estava eu “posta em sossego” relendo “Madame Bovary”, quando escuto o som do interfone. Era o porteiro do condomínio me avisando que havia dois sedex pra mim. Desço e corro até a portaria: ah...vocês não imaginam...era um presente mais valioso pra mim do que qualquer jóia, qualquer carro, porque veio em forma de imagens, de palavras...Ah, o imprevisto. Clarice tinha razão: de repente o imprevisto pode nos trazer a felicidade...
* Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de “Eu: primeira pessoa, singular”, obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.
Ai, Risomar, na vida não há garantias, não é mesmo? O carro estava no seguro, ainda bem...de resto não há nada certo! Que bom que recebeu uma bela surpresa no fim! Parabéns! Beijos!
ResponderExcluirPoxa Riso, que coisa chata...
ResponderExcluirAinda bem que você é precavida.
Salve o imprevisto querida que te
trouxe alegrias.
Beijos
Osasco está com índices altíssimos de roubo/furto de veículo. Pelo menos, sendo furto dessa vez, você não precisou passar por tudo novamente. Quanto ao imprevisto, lembrei-me da música "Volta do boêmio": "Ele voltou, o boêmio voltou novamente, saiu daqui tão contente, por que razão quer voltar?" Aproveite Risomar.
ResponderExcluirSayonara, Nubia, Mara
ResponderExcluirObrigada pela leitura.
Mara: em nenhuma das três vezes que levaram meu carro foi em Osasco. Sempre no centro de SP. Você vê? Aonde mais dirijo nunca fui assaltada...rs.Estaciono nas ruas daqui e nunca me roubaram nem furtaram.
Demorei a responder porque tive uma crise terrível de tendinite. Fiquei com a mão direita completamente paralisada, e com dores lancinantes. Já estou bem novamente.
Beijos nas três