sábado, 29 de setembro de 2018

Índice


Literário: Um blog que pensa


(Espaço dedicado ao Jornalismo Literário e à Literatura)


LINHA DO TEMPO: Doze anos e seis meses de criação.


Leia nesta edição:

Editorial – Preço do egoísmo.

Coluna Direto do ArquivoCelamar Maione, conto, “Sonhar não custa nada”.

Coluna ClássicosArturo Corcuera, poema,A lua e seu antigo habitante”.

Coluna Porta AbertaArita Damasceno Pettená, poema, “A Saudade e o Amor”.

Coluna Porta Aberta – Flora Figueiredo, poema, “TLeva-e-traz”.

Coluna Porta Aberta – João Alexandre Sartorelli, poema, “A palavra precisa”.


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A CAMINHO DO SUCESSO!!!

Tudo indica que meu novo livro, “Dimensões infinitas”, a “menina dos meus olhos” entre minha já vasta obra literária, em breve estará nas livrarias, ao seu alcance, querido e fiel leitor. Tão logo a possibilidade se transforme em certeza e seja confirmada a publicação, darei maiores detalhes sobre a editora, a data de lançamento e outras informações pertinentes. Por enquanto reitero o que já informei sobre esse livro. Dimensões infinitas reúne 30 ensaios sobre temas dos mais variados e instigantes. Nele abordo, em linguagem acessível a todos, num estilo coloquial, claro e simples (sem ser simplório) assuntos da maior relevância cultural tais como as dimensões do universo (tanto do macro quanto do microcosmo), o fenômeno da genialidade, a fragilidade dos atuais aparatos de justiça, o mito da caverna de Platão, a secular busca pelo lendário Eldorado, o surgimento das religiões, as tentativas de previsão do futuro e as indagações dos filósofos de todos os tempos sobre nossa origem, finalidade e destino, entre outros temas. É um livro não somente para ser lido, mas, sobretudo, para ser refletido. Meu desafio se, ou melhor, quando ele for publicado, é o de convencer os leitores (no caso você, meu caríssimo amigo) da sua qualidade e importância e transformá-lo num grande sucesso editorial. Por que não?!!! Afinal, já não sou mais, e há muito tempo, “marinheiro de primeira viagem. “Dimensões infinitas”, caso seja mesmo publicado (e estou convencido de que vai ser) será meu quinto livro, o segundo de ensaios. Conto com você, querido leitor, que nunca me abandonou nos meus momentos mais difíceis, como sempre contei. Estou esperançoso e confiante de que em breve essa esperança irá se transformar em euforia. Que os anjos digam amém!!!!

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CITAÇÃO DO DIA:


Dupla tendência 

A verdade é que existem duas tendências presentes no desenvolvimento da maioria dos países da América Latina. Uma é a tendência à hiperexclusão social, que leva ao surgimento de bolsões onde a miséria parece não Ter fim. Mas é inegável a existência de uma outra tendência, a hiperintegração social. E acho que, ao contrário do que se imaginou durante muito tempo, se fizermos uma avaliação do que se passou nos últimos quarenta anos, concluiremos que foi a tendência à integração que acabou prevalecendo.

(Alain Tourraine, sociólogo francês, revista Veja, 23 de janeiro de 1985).



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Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.


Editorial - Preço do egoísmo


Preço do egoísmo



O egoísmo é, provavelmente, o mais arraigado sentimento humano e, quando levado ao extremo, leva as pessoas a profundas decepções e mágoas, que não se apagam jamais. E ainda assim, os egoístas não se emendam e seguem achando que são o centro do mundo, quiçá de todo o universo. Evidentemente, não são.

Há quem ache que egoísmo seja sinônimo de amor próprio. Em certa medida, é mesmo. Só que é esse sentimento, mas levado ao extremo. É uma imensa distorção, uma aberrante falta de senso de proporção. É mais, muito mais do que amor próprio. É autopaixão, autoveneração, quase deificação de si próprio.

Estas reflexões vêm a propósito de uma experiência (amaríssima) que tive há uns oito ou nove anos e que me tornou mais descrente do que já estava da minha espécie: a humana. Senti vontade de “pedir demissão” dela e ser outro animal qualquer, movido exclusivamente por instinto, caso isso fosse possível.

Numa determinada sexta-feira, saí do trabalho, como sempre fazia, por volta das 22 horas (exercia então a atividade de coordenador da edição do Diário Oficial do Município de Campinas), cansado da lide da semana, com muito frio e, sobretudo, faminto. Trafegava – tendo minha mulher ao volante (ela que é a motorista da casa) – por uma das principais e mais movimentadas avenidas da cidade, quando me deparei com uma cena que me chocou e envergonhou e que, creio, jamais irei esquecer enquanto viver.

Ao passar em frente a um famoso restaurante desta grande metrópole interiorana em que resido, a essa altura repleto de pessoas saboreando seus sofisticados pratos – que faz divisa com uma padaria, também com quantidade enorme de fregueses – observei, na calçada ao lado, um homem, aparentando uns 40 anos de idade (deveria ter bem menos), maltrapilho, sujo e magérrimo, revirando um enorme latão de lixo de um dos estabelecimentos.

O tal indigente retirava não plásticos e papéis para vender, como se poderia supor, mas restos de comida, que devorava como se fossem o manjar dos deuses. Ordenei, imediatamente, à mulher que parasse o veículo. Queria comprar alguma coisa decente e dá-la ao infeliz para comer. A esposa até que tentou. Mas... os motoristas que vinham atrás, mesmo sendo noite, fizeram questão de promover um buzinaço histórico, um alarido infernal, acompanhado de um coro de impropérios contra nós dois. Não pudemos parar. Ninguém parou.

Apesar do adiantado da hora, milhares de pessoas transitavam por aquela calçada. Não vi nenhuma se deter sequer para olhar em direção ao indigente. Passavam por ele como se fosse invisível, ou se tratasse de um poste, de uma pedra ou de outro objeto qualquer. Certamente, não agiriam assim nem diante de um cão. Segui para casa, acabrunhado, triste, enojado e envergonhado, de mim, e do mundo.

Como se pode admitir que um ser humano, dotado de espírito e de razão, certamente com sonhos e vontades como eu, como você e como todos, tenha que se submeter àquele vexame? E ele não procurava, no lixo, nenhuma garrafa de cachaça ou de uísque, que certamente não encontraria, para se embriagar, mas comida, mesmo que estragada, contaminada sabe-se lá por quantas e quais bactérias, para saciar a fome!

Muitos poderiam dizer, para aplacar as consciências (se é que as têm): “Deve ser um vagabundo. Por que não vai trabalhar?”. É fácil, e cômodo, chegar a esse tipo de conclusão quando se está bem alimentado, não raro superalimentado, bem agasalhado (estava um frio de rachar nessa noite) e a bordo de um carrão do ano. O que essas pessoas sabiam a respeito daquele infeliz? Quantas portas, certamente, não lhe foram fechadas na cara, ao procurar ganhar honestamente seu pão? Por quanta humilhação não teve que passar? Quanto preconceito não esteve envolvido na forma com que o trataram?

Ademais, mesmo que se tratasse de algum vagabundo (não creio que fosse), este é motivo suficiente para se ver obrigado a esse ato de suprema carência, que é o de procurar comida no lixo? Esse pobre infeliz não estava roubando (e ademais, se o fizesse, naquele momento, sequer seria crime, pois teria a atenuante da “extrema necessidade”, embora algum imbecil certamente o encarcerasse e jogasse a chave fora como se fosse o mais perigoso bandido) e sequer estava ameaçando ou constrangendo quem quer que fosse. Estava se limitando a exercer, no seu máximo limite, o instinto de sobrevivência.

Que vergonha senti, naquele momento, e sinto ainda hoje!. Que nojo desse sistema, desse arremedo de civilização, desse engodo denominado humanidade, que permite que cenas como essa aconteçam e se repitam em profusão em tantas e tantas partes do mundo. Em essência, no que somos melhores do que aquele maltrapilho indigente? Somos imortais? Claro que não! Levaremos para além-túmulo estas bobagens a que damos tão grande valor e que não passam de quinquilharias, a que chamamos de “riqueza”? Também não!

Não me admiro, pois, que haja tanta gente solitária, amarga e entendiada no mundo. Não me admiro mais do fato de haver tanta tristeza planeta afora. Esse é o preço que os egoístas têm, e sempre terão, que pagar por sua autoveneração, que chega a descambar para a autodeificação. Chego a esta conclusão baseado nisto que Anatole France um dia escreveu: “Estar triste é, quase sempre, pensar em si mesmo”. Bem feito, pois, por esta tristeza que, certamente, é muitíssimo menor do que a do indigente que saciou a fome com os restos que colheu numa lata de lixo!


Boa leitura!

O Editor.



Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk

Sonhar não custa nada - Celamar Maione


Sonhar não custa nada


* Por Celamar Maione


Carmelita era uma mulher comum: nem feia, nem bonita. Passava dos 30 e chegava aos 40. Seu maior sonho era casar e ter filhos. Invejava as poucas amigas casadas e com filhos, que nos finais de semana se divertiam, reunidas com a família. Para amenizar a dor da solidão, depois do trabalho, ligava a televisão para acompanhar os capítuos da novela preferida. Na casa de Carmelita, hora da novela era sagrada: não atendia telefone. Vivia os passos da heroína preferida. Chegava ao exagero de imitar o corte de cabelo, as roupas, acessórios e até cacoetes.

As colegas de trabalho cansavam de convidar Carmelita para sair depois do expediente. Carmelita recusava sempre:
-Hoje não dá. A Alice beija o Alberto pela primeira vez.
- Deixa de ser boba, cinderela! Coloca para gravar e vamos nos divertir. Como você quer um homem, se vive enfiada em casa assistindo novela?
- Que homem? Esses que andam por aí? Prefiro o Alberto, o homem perfeito!
- Cai na real, Carmelita, o Alberto é fruto da imaginação do autor. Não existe. Você precisa de vida. Sair. Conhecer gente nova.
- Cada um tem a vida que deseja e a minha é essa. Gosto de ser assim, ora!

Quando Carmelita era apresentada a um homem, logo comparava ao personagem principal das novelas. Queria perfeição. Não encontrava. Se decepcionava e optava pelos amores platônicos . “Esses não machucavam e podiam ser fantasiados” – dizia para as amigas.
Quando Reginaldo se mudou para o apartamento em frente, depois de anos, Carmelita saiu do mundo televisivo para prestar atenção no vizinho. Bonito, solteiro e melhor: simpático. O rapaz não tinha a arrogância dos homens privilegiados pela beleza, que namoram a si mesmos. Reginaldo passou a fazer parte dos sonhos de Carmelita. Quando se encontravam no elevador, Carmelita suava de nervoso. De noite, na hora da novela, imaginava beijar Reginaldo.
Num Domingo, estava sozinha em casa e a campanhia tocou. Era Reginaldo.
-Desculpe atrapalhar seu sossego. Minha mãe vem me visitar e esqueci de comprar açúcar. Você pode me emprestar uma xícara? Minha mãe adora um café com açúcar.

Carmelita não sabia onde enfiava as mãos. Por um momento pensou que fosse um sonho:
-Quer entrar? Vai ficar aí na porta? Peraí, já trago o açúcar pra você. Um momento.

Depois do episódio do açúcar, passaram a se falar com freqüência. Reginaldo pediu o telefone de Carmelita. Só que o vizinho só ligava para Carmelita na hora da novela.
- Mãe, diz que não posso atender. Pede para ligar mais tarde.
- Mas você não está interessada no rapaz? Ele vai achar que é pouco caso.
-Hora da novela é sagrada. Deixa eu prestar atenção nessa cena. A senhora está me distraindo.

Virava o rosto e tornava a acompanhar atentamente mais um capítulo da trama. Reginaldo não telefonava de volta. Ficava sem graça. Foram cinco meses nessa agonia: Reginaldo querendo se aproximar de Carmelita e ela o trocando pelos capítulos da novela. Telefonava e ela nunca o atendia. Desistiu. Era homem tímido. Tinha medo de rejeição.
A mãe ainda alertou Carmelita:
-Carmelita, esse moço se interessou por você, está jogando a sorte fora.
-Que nada! É amizade. Só me liga na hora da novela. Você diz para ele ligar mais tarde e ele não liga. Está apenas sendo educado por causa da xícara de açúcar.
-É por isso que está solteira até hoje. É teimosa! Vai morrer solteirona.
-Não me iludo mais com sorriso fácil e gentilezas. Essas coisas só acontecem em novela.
Reginaldo não procurou mais a vizinha. Evitou os horários de Carmelita para não encontrá-la. Não se viram durante um mês. Numa sexta-feira, Carmelita se sentia cansada e solitária. Chegou do trabalho e tomou coragem para tocar a campanhia na casa de Reginaldo. Quem atendeu foi uma jovem bonita, de sorriso encantador.
-Pois não, senhora.
-Queria falar com o Reginaldo. Ele está?
O coração de Carmelita disparou. Ela pensava quem podia ser a jovem. Reginaldo apareceu e ficou surpreso ao ver a vizinha:
-Nossa!! Que milagre é esse?!
-Não vi mais você. Fiquei preocupada e vim saber se precisa de ajuda.
-Não, Carmelita, obrigado. Estou de mudança. Mudo-me daqui a duas semanas e minha namorada veio me ajudar a encaixotar as coisas. Deixa eu apresentar ela para você. Luana, vem aqui conhecer minha vizinha.

Carmelita foi mais rápida:
-Não, desculpe, estou com pressa. Boa mudança. Tchau. Foi um prazer conhecer você. Boa sorte.

Chegou em casa aos prantos. Não falou com a mãe. Foi direto para o quarto e se jogou na cama. Chorou de soluçar. A mãe foi atrás:
-Carmelita, o que aconteceu? Foi demitida? Assaltada? Brigou com alguém?

Entre um soluço e outro, Carmelita demonstrou toda a sua desilusão:
-O Reginaldo arrumou uma namorada! Vai se mudar. Ele nunca gostou de mim. Sabia, droga! Amor entre vizinhos é coisa de novela!
Uma hora depois, Carmelita já se recuperara da decepção. Em frente à televisão, acompanhava mais um capítulo da novela preferida:
- Não posso perder. Hoje a Alicinha revela o segredo da empregada!



*Radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da  Rádio Tupi e na Nova Brasil FM. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.




A lua e seu antigo habitante - Arturo Corcuera


A lua e seu antigo habitante



* Por Arturo Corcuera


A lua não é um astro,
a lua não é branca,
a lua não sai pela noite,
a lua não é redonda,
a lua não será habitada,
a lua nada tem a ver com marés
nem com cosmonautas,
a lua é uma flor amarela feita de vapor niquelado,
a lua é o vislumbre inquietante de Narciso desorbitado e louco,
à lua em sua mansidão só falta mesmo o cisne,
nos crepúsculos a lua funde seu metal
para moldar a cauda das sereias,
uma mulher desnuda submersa em um tanque
é a outra cara da lua,
pela cascata sabemos que a lua precipita suas represas,
as bestas engolem a lua nos cochos,
cativa do pânico a lua aceita que os lobos
ali sem a presa em suas escamas,
a lua é o olho do náufrago no tremor
supremo do sobressalto,
os barqueiros decapitam a lua com seus remos,
a lua é a sombra arroxeada do afogado
perseguindo sem sossego os navegantes,
a lua ronda os sonhos,
a lua é o atalho por onde escapam os namorados.


* Daniel Arturo Corcuera Osores foi um poeta peruano. Trabalhos notáveis ​​incluem Noé delirante, Primavera triunfante, As sirenes e as estações, Los Amantes e Puente de los Suspiros. Em 1972 ele representou o Peru na "Bienal de Poesia de Knokke" na Bélgica.





A Saudade e o Amor - Arita Damasceno Pettená


A Saudade e o Amor

* Por Arita Damasceno Pettená

- Vamos brincar de passado?
Dizia a lágrima à areia.
- Eu sou a saudade,
tu és o amor.
Mas neste instante a lágrima rolou,
misturou-se à areia...
E nunca mais voltou!


* Arita Damasceno Pettená é professora, escritora e membro da Academia Campinense de Letras, além de membro honorária e fundadora do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas (IHGGC).


Leva-e-traz - Flora Figueiredo


Leva-e-traz

* Por Flora Figueiredo

Quando a palmeira balança segredos,
vale a pena escutá-la
O vento lhe traz notícias frescas todo dia.
Quem foi que disse que vento não fala?


Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida. 



A palavra precisa - João Alexandre Sartorelli


A palavra precisa


* Por João Alexandre Sartorelli

A palavra precisa,
Dela eu preciso.

Ela, a palavra,
Perdi.
Enquanto a procuro,
Ela ri.

Ainda a agarro
E capturo
No verso mais terrível
E mais puro.


* Poeta, assina seus poemas como Alex Sartorelli, autor do livro “A vereda das horas”.