terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Regresso


* Por Evelyne Furtado


Ontem ouvi o chamado do mar e hoje atendi. Aniversário de meu tio no edifício onde antes foi casa de veraneio dos meus avós e a primeira casa que conheci.

Explico: saí do hospital onde nasci para a casa de Areia Preta, praia de veraneio naquela época, atualmente praia urbana e um dos metros quadrados mais valorizados de Natal.

Aquele é o meu mar. O mar onde a menina já grandinha subia no parapeito do grande terraço para olhar os navios ou se perder no horizonte. Dirão que não é o mesmo mar. Também não sou a mesma menina. Mas em um ponto nos encontramos.

No meu íntimo aquele lugar e eu estamos ligados desde que nasci. È naquele mar que deságuo quando a alma transborda. Meus olhos reconhecem aquele verde espelhado, que por sua vez reflete um coração frágil.

Escrevi o poema de ontem, sem associá-lo ao convite da festa do tio querido. Fui a uma festa de família e só depois de beijos, abraços e muito papo, senti mais forte o chamado.

Fui a um lugar mais isolado e fiquei a sós com o mar. Não pensei em nada, mas senti. Não sei se foi a beleza tão comum aos meus olhos, mas que ainda me encanta sem explicação ou se foi um contato mais próximo e silencioso comigo mesma.

A partir de então deu-se o contrário e quis voltar para a minha casa. Lugar onde moro hoje, a poucos minutos do mar, porém longe o suficiente para me proteger da dor causada por algo que me falta hoje e pela incômoda sensação de não estar sendo leal a mim mesma, na tentativa de me adaptar a uma nova maneira de viver contrária à minha natureza sincera e espontânea. Mais um passo dado no sentido do amadurecimento ou o velho medo de crescer? Só o tempo dirá.


* Poetisa e cronista de Natal/RN.

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