quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Lilliput ou Brasília, Macondo ou Rio de Janeiro?


* Por André Luís Aquino


A impressão que temos é que o Brasil não foi um país descoberto pelos portugueses, mas que foi escrito ou pensado por alguém de profunda imaginação, como Ítalo Calvino descreve em seu livro “Cidades invisíveis”, um Jonathan Swift e sua “Lilliput” de “Viagens de Gulliver” ou como uma Macondo de Gabriel Garcia Marques em “Cem anos de solidão”, tamanha a surrealidade das situações. Vamos à realidade fantástica em que vivemos em forma das nossas duas fábulas mais recentes:

Fábula número um: Um tributo é criado provisoriamente para uma finalidade (a CPMF para investimentos em saúde, primeiro o percentual das movimentações financeiras recolhidas ao caixa do estado era 0,20% depois aumentou para 0,38%) e usado em outras áreas e pior, são tornados permanentes com o argumento do governo, não importando se é PSDB ou PT, de que estes recursos são imprescindíveis para manter os investimentos do estado no país. Pergunta: Quando a CPMF não existia o dinheiro vinha da onde? Resposta: Caia do céu. Fato: O brasileiro trabalha uma semana inteira por ano para pagar tal tributo. Se o governo soubesse gastar seu orçamento diminuindo o tamanho da máquina pública e aumentando a sua eficiência não precisaria de carga tributária tão pesada. Conclusão: A CPMF deve acabar. O aumento ou manutenção da carga tributária que pagamos é injustificável, já que aviões estão caindo feito moscas, as estradas têm buracos que mais se parecem com crateras da lua, a saúde pública nos obriga a pagar planos de saúde para não morrermos ou para manter nossa integridade física, pois há casos em que pessoas entram num hospital público para amputar a perna esquerda e que saem de lá sem perna direita.

Fábula número dois: Ao assistir o noticiário um assessor do presidente, Marco Aurélio Garcia, é surpreendido por uma câmera que capta à distância seus gestos obscenos (um punho fechado posicionado com o polegar na parte de cima, com a outra mão espalmada batendo por cima deste punho e fazendo o som de “Top.top, top”) expressando a sua satisfação quando indícios apontam para falha humana e não para inadequação da pista ou falta de investimentos em infraestrutura. No mínimo e por humanidade, deveria estar solidarizado com a tragédia que se abateu sobre as vítimas e suas famílias em virtude da queda do avião da TAM em Congonhas. Pergunta: Como um homem público ocupando um cargo tão importante pode ser tão insensível? Resposta: No Brasil a cultura política faz com que o interesse pessoal extrapole o interesse público o que torna os políticos meros lobistas ou defensores dos próprios interesses ou do “clube” a que pertencem. Quando se fala em dinheiro e poder qualquer sentimento desaparece. Fato: No estado brasileiro reina uma burocracia que tende ao infinito. Há na política uma espécie de continuísmos e alguns casos herança genética, apenas trocam-se os nomes, mas a ideologia permanece a mesma. Morre Antonio Carlos Magalhães, mas há toda uma corrente pensante, inclusive na pessoa de seu neto, que vai dar continuidade aos interesses que ele defendia.

Conclusão: Toda e qualquer manifestação para pressionar políticos é válida. A pressão da opinião pública é o único instrumento capaz de forçar os políticos a trabalharem em prol do país e não a serviço de si mesmos e seus “clubes”. Por mais cara-de-pau que eles sejam não estão imunes ao constrangimento e a pior agrura, a Criptonita dos políticos: Perder votos!

Diante de tanta realidade absurda que mais se parece com uma fantasia, um delírio, um desvairamento, uma ficção de folhetim, o brasileiro deve achar que está assistindo a novela das oito ao invés do noticiário.


* Poeta

Nenhum comentário:

Postar um comentário