Se é que entendi bem
* Por Ana Flores
Uma vez ouvi alguém dizendo numa mesa-redonda na TV: “Como é que se pode pensar em salvar baleias e micos quando há tanta criança abandonada precisando de ajuda?” Achei que tinha ouvido errado, mas logo depois vi que não. A pessoa considerava inúteis quaisquer campanhas, manifestos e ações que não fossem dirigidos prioritariamente a crianças abandonadas. O resto – os animais em extinção, o ecossistema deteriorado e sua destruição acelerada - poderia esperar até que todas as crianças tivessem sido acolhidas por famílias, vivendo em condições mínimas de saúde e conforto, bem tratadas, educadas e alimentadas, como, aliás, todos desejamos que aconteça.
Até entendi a aflição da pessoa. Afinal, à primeira vista pode parecer um desperdício de energia e de tempo alguém se dispor a cuidar da preservação de uma espécie animal ou de uma área devastada pelas queimadas criminosas, em detrimento da atenção a uma criança com necessidades básicas. Só que não se adere a um movimento desses em detrimento de outro, da mesma forma que não é preciso que todas as peças de um carro interrompam sua função para levar o combustível ao motor. Cada uma na sua tarefa, como parte de toda a engrenagem, é o melhor remédio para tudo funcionar a contento.
Há espaço e causas de sobra para quem quiser ajudar, se engajar e trabalhar e as necessidades são urgentes e paralelas. Porque quando o racionamento de água for universal e obrigatório e as condições de vida por aqui se tornarem hostis a todos, também as crianças serão atingidas pelas conseqüências.
E isso me remete a outra situação que (ainda) não entendo. Por que se fala “precisamos salvar o planeta”, “preservar a Amazônia”, essa ou aquela espécie animal, como se isso tudo fosse algo longe de nós? Não seria o caso de se dizer “precisamos preservar a todos nós”? Se entendi bem como funcionam as coisas aqui neste planeta, é tudo parte de uma só rede. Desde as algas do mar até o ar que se respira, tudo está interligado na cadeia da natureza, o homem inclusive. Já se sabe que a destruição de um só elo afeta todos os outros, assim como a sua preservação beneficia a todos, seja nos alimentos, no solo, na atmosfera, nos rios e em tudo o mais que existe.
No início dos anos 80, o cineasta Lula Torres fez um curta-metragem cujo título, em japonês, significava mais ou menos “Um mais um é igual a não-dois”, justamente se referindo à relação inseparável entre o homem e o ambiente em que ele vive. Não formariam dois universos, mas sistemas interdependentes para sobreviver em harmonia. Portanto, proteger as crianças, os rios, a terra, a atmosfera, as baleias, as aves, tudo o que está vivo, é tarefa de todos e de igual importância. Se é que entendi bem meu papel nessa ópera.
• Escritora
* Por Ana Flores
Uma vez ouvi alguém dizendo numa mesa-redonda na TV: “Como é que se pode pensar em salvar baleias e micos quando há tanta criança abandonada precisando de ajuda?” Achei que tinha ouvido errado, mas logo depois vi que não. A pessoa considerava inúteis quaisquer campanhas, manifestos e ações que não fossem dirigidos prioritariamente a crianças abandonadas. O resto – os animais em extinção, o ecossistema deteriorado e sua destruição acelerada - poderia esperar até que todas as crianças tivessem sido acolhidas por famílias, vivendo em condições mínimas de saúde e conforto, bem tratadas, educadas e alimentadas, como, aliás, todos desejamos que aconteça.
Até entendi a aflição da pessoa. Afinal, à primeira vista pode parecer um desperdício de energia e de tempo alguém se dispor a cuidar da preservação de uma espécie animal ou de uma área devastada pelas queimadas criminosas, em detrimento da atenção a uma criança com necessidades básicas. Só que não se adere a um movimento desses em detrimento de outro, da mesma forma que não é preciso que todas as peças de um carro interrompam sua função para levar o combustível ao motor. Cada uma na sua tarefa, como parte de toda a engrenagem, é o melhor remédio para tudo funcionar a contento.
Há espaço e causas de sobra para quem quiser ajudar, se engajar e trabalhar e as necessidades são urgentes e paralelas. Porque quando o racionamento de água for universal e obrigatório e as condições de vida por aqui se tornarem hostis a todos, também as crianças serão atingidas pelas conseqüências.
E isso me remete a outra situação que (ainda) não entendo. Por que se fala “precisamos salvar o planeta”, “preservar a Amazônia”, essa ou aquela espécie animal, como se isso tudo fosse algo longe de nós? Não seria o caso de se dizer “precisamos preservar a todos nós”? Se entendi bem como funcionam as coisas aqui neste planeta, é tudo parte de uma só rede. Desde as algas do mar até o ar que se respira, tudo está interligado na cadeia da natureza, o homem inclusive. Já se sabe que a destruição de um só elo afeta todos os outros, assim como a sua preservação beneficia a todos, seja nos alimentos, no solo, na atmosfera, nos rios e em tudo o mais que existe.
No início dos anos 80, o cineasta Lula Torres fez um curta-metragem cujo título, em japonês, significava mais ou menos “Um mais um é igual a não-dois”, justamente se referindo à relação inseparável entre o homem e o ambiente em que ele vive. Não formariam dois universos, mas sistemas interdependentes para sobreviver em harmonia. Portanto, proteger as crianças, os rios, a terra, a atmosfera, as baleias, as aves, tudo o que está vivo, é tarefa de todos e de igual importância. Se é que entendi bem meu papel nessa ópera.
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