Rita arrasou
* Por Guilherme Scalzili
O que os policiais militares sergipanos pretendiam, abrindo caminho a cotoveladas na platéia de um espetáculo musical lotado? Quem disse que prender maconheiros garante a segurança de qualquer coisa? Rita Lee pode, sim, chamar os cossacos de filhos da puta, sempre que agirem como filhos da puta. É a PM que deve temer os cidadãos, jamais o contrário.
Chega dessa estupidez de reverenciar homens fardados. Se a polícia quer tratamento de “autoridade”, que faça por merecer. Sabemos que é majoritariamente honesta, sofrida e trabalhadora, mas as pessoas que ela empurra e achaca também são. Repudiemos a truculência que as autoridades de segurança destinam ao público de grandes eventos (shows, partidas de futebol, manifestações), antes que eles sejam esvaziados por causa da incompetência de quem deveria protegê-los.
A coreografia de saudações nazistas que ondula na sociedade civil quando alguém ameaça confrontar Sua Majestade O Soldado explica muito sobre o atual clima de cerceamento de direitos e criminalização da divergência. Enquanto aceitamos arrotos moralistas como se fossem anedotas de botequim político, a sanha reacionária irrompe da esfera ideológica e se transforma em leis e políticas oficiais.
Tudo isso faz parte de uma tentativa articulada para refrear a inevitável descriminalização das drogas, particularmente da maconha, que já pode ser cultivada e consumida em quase todas as democracias estáveis do mundo. Apologia é defender uma legislação que viola direitos individuais e fomenta o crime organizado. O discurso da legalidade absoluta serve fácil para o baseado alheio; se ameaçam prender quem trafica músicas e seriados pela internet, viram todos revolucionários.
Que uma artista do porte de Rita Lee Jones seja ouvida e respeitada não apenas pelo que ela representa na história cultural do país, mas também pela coragem de afrontar o sono do bom-mocismo provinciano, da falsa rebeldia com arreios, das liberdades cerceadas por escudos e cassetetes.
*Jornalista e escritor, autor dos livros “O colar da Carol ta na grama”, “A colina da Providência”, “Pantomima”, “Acrimônia” e “Crisálida”.
* Por Guilherme Scalzili
O que os policiais militares sergipanos pretendiam, abrindo caminho a cotoveladas na platéia de um espetáculo musical lotado? Quem disse que prender maconheiros garante a segurança de qualquer coisa? Rita Lee pode, sim, chamar os cossacos de filhos da puta, sempre que agirem como filhos da puta. É a PM que deve temer os cidadãos, jamais o contrário.
Chega dessa estupidez de reverenciar homens fardados. Se a polícia quer tratamento de “autoridade”, que faça por merecer. Sabemos que é majoritariamente honesta, sofrida e trabalhadora, mas as pessoas que ela empurra e achaca também são. Repudiemos a truculência que as autoridades de segurança destinam ao público de grandes eventos (shows, partidas de futebol, manifestações), antes que eles sejam esvaziados por causa da incompetência de quem deveria protegê-los.
A coreografia de saudações nazistas que ondula na sociedade civil quando alguém ameaça confrontar Sua Majestade O Soldado explica muito sobre o atual clima de cerceamento de direitos e criminalização da divergência. Enquanto aceitamos arrotos moralistas como se fossem anedotas de botequim político, a sanha reacionária irrompe da esfera ideológica e se transforma em leis e políticas oficiais.
Tudo isso faz parte de uma tentativa articulada para refrear a inevitável descriminalização das drogas, particularmente da maconha, que já pode ser cultivada e consumida em quase todas as democracias estáveis do mundo. Apologia é defender uma legislação que viola direitos individuais e fomenta o crime organizado. O discurso da legalidade absoluta serve fácil para o baseado alheio; se ameaçam prender quem trafica músicas e seriados pela internet, viram todos revolucionários.
Que uma artista do porte de Rita Lee Jones seja ouvida e respeitada não apenas pelo que ela representa na história cultural do país, mas também pela coragem de afrontar o sono do bom-mocismo provinciano, da falsa rebeldia com arreios, das liberdades cerceadas por escudos e cassetetes.
*Jornalista e escritor, autor dos livros “O colar da Carol ta na grama”, “A colina da Providência”, “Pantomima”, “Acrimônia” e “Crisálida”.
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