Metrópole que conserva a identidade
A Jerusalém atual, a do início do século XXI, é uma vibrante metrópole, como tantas outras que há mundo afora. Divide-se, pois, basicamente, em dois setores: o antigo, que pode ser classificado como imenso “museu” a céu aberto e o, digamos, moderno, cortado por amplas e movimentadas avenidas e por grandes edifícios, além de escolas, hospitais, hotéis, aeroporto, universidades e tudo o que há numa cidade importante e cosmopolita do Ocidente ou do Oriente. Em qualquer aspecto que se considere, é uma povoação singular. Singularíssima.
Abriga, atualmente, uma população fixa de 732.100 habitantes em seus 125,1 quilômetros quadrados. Acolhe vários milhões de turistas e de peregrinos, anualmente, das três religiões que a consideram santa: cristianismo, judaísmo e islamismo. É, pois, uma metrópole dinâmica, vibrante, cheia de vida e não se limita, portanto, a viver do passado, embora, compreensivelmente, este seja onipresente. Jerusalém tem história. E que história.
Pode-se dizer, em sentido metafórico (mas nem tão figurado assim), que seu solo sagrado está embebido de sangue, muito sangue. Para justificar essa expressão, basta dizer que no correr de sua milenar (e violenta) história, a cidade foi destruída, por completo, duas vezes. Foi sitiada em outras 23 oportunidades. Os ataques que sofreu e que resistiu foram, ao todo, 52. Além do que foi capturada e recaptura em 44 ocasiões. Qual outra cidade mundial, incluindo Roma, Atenas e tantas outras, que testemunhou (ou, na verdade, foi vítima) de tanta violência? Não encontro nenhuma que se lhe iguale nesse aspecto, por mais que pesquise.
O setor antigo de Jerusalém – foco de interesse de historiadores, antropólogos, teólogos, arqueólogos etc. e dos milhões de peregrinos que a visitam anualmente – está perfeitamente delimitado, dividido em quatro zonas, tendo por referência os pontos cardeais. A Noroeste, por exemplo, localiza-se a área cristã; a muçulmana situa-se a Nordeste; a armênia (cristã ortodoxa) fica a Sudoeste e a judia a Sudeste. Entre seus mais procurados centros de peregrinação destacam-se a Igreja do Santo Sepulcro, a Via Dolorosa (Via Sacra), a Piscina de Betsaida, o Jardim do Getsêmani, os túmulos do Rei Davi e da Virgem Maria e tantos outros.
A guarda dos mais reverenciados santuários das três religiões é feita, em conjunto, por cristãos e muçulmanos. Mas alguns dos locais sagrados, como o tradicional sítio em que se ergueu o primeiro Templo, estão, agora, ocupados por mesquitas. É o caso do Santuário da Pedra, terminado em 691 AD pelo califa Abd-al-Malik, que está no lugar exato em que um dia existiu o primeiro e suntuoso santuário construído por Salomão.
Outros pontos de adoração islâmicos (para os quais Jerusalém é tida como a terceira cidade mais santa do Islã, abaixo, somente, de Meca e de Medina), são o Haram-ash-Sharif, a mesquita Al-Aqsa (que data de 710 AD), e outras tantas menos famosas, mas não com menor apelo místico que os citados. Não se pode omitir, entretanto, a Mesquita de Omar, comparável, em santidade, pelos muçulmanos, à Kaaba de Meca.
Em resumo, Jerusalém conta com 1.204 sinagogas, 152 igrejas cristãs e 73 mesquitas. A parte inferior Oeste da muralha de Haram-ash-Sharif é o Muro das Lamentações. É para onde os judeus (notadamente os ortodoxos) se dirigem diariamente para fazer suas preces e formular seus pedidos a Jeová – escritos em papéis inseridos nos vãos das pedras – além de agradecerem as benesses recebidas. No aniversário da destruição do Templo, se reúnem em grandes grupos no local para recitar, solenemente, as Lamentações do profeta Jeremias.
Os armênios, além de cultuarem os lugares sagrados comuns às três religiões que consideram Jerusalém cidade santa, têm, na Igreja de São Tiago, o Grande, seu maior pólo de atração.
Várias cidades do mundo têm rica tradição: ou histórica, ou artística, ou científica, ou cultural ou outra qualquer, Muitas são, também, veneráveis centros de oração, como ocorre na Índia, no Tibete e em outras partes. Algumas são focos de interesse de historiadores por terem sido palcos de episódios que mudaram os rumos políticos da humanidade. Mas nenhuma, rigorosamente nenhuma reúne, simultaneamente, todas essas características, e por tanto tempo, como Jerusalém. Modernizou-se, mas jamais abdicou de suas tradições, de suas lembranças, de seu memorabilíssimo passado.
Trata-se de moderna metrópole, sem dúvida, com o que há de melhor na atual sociedade globalizada de consumo. Mesmo não reconhecida oficialmente pela comunidade internacional, é, para a Israel contemporânea, sua eterna e irrenunciável capital. O mesmo status, porém, é reivindicado pelos palestinos, que querem fazer da parte oriental da cidade seu centro de poder para o tão sonhado Estado independente pelo qual tanto lutam, desde a criação da nação judia contemporânea, ao cabo da Segunda Guerra Mundial.
Cogitou-se, inúmeras vezes, em sua internacionalização, conferindo-lhe um status que na verdade já goza, posto que informalmente. Esta “solução”, todavia, é enfaticamente descartada pelos principais interessados, pelos dois inconciliáveis “primos”, que reivindicam, sem trégua, sua soberania, posto que com recursos rigorosamente desiguais.
Israel, transformada em virtual potência militar do Oriente Médio, graças ao apoio dos Estados Unidos, defende, renhidamente, seu direito histórico sobre a cidade. E, sobre ela inteira. Ou seja, unificada, incólume, como atualmente é.
Os palestinos, por seu turno, querem-na dividida. Reivindicam que sua parte oriental se constitua na capital do Estado que ainda não têm, mas que tanto acreditam que um dia terão. Como conciliar, pois, posturas aparentemente tão antagônicas e, portanto, inconciliáveis? Talvez jamais haja solução. Ou, porventura, há?
Boa leitura.
O Editor.
A Jerusalém atual, a do início do século XXI, é uma vibrante metrópole, como tantas outras que há mundo afora. Divide-se, pois, basicamente, em dois setores: o antigo, que pode ser classificado como imenso “museu” a céu aberto e o, digamos, moderno, cortado por amplas e movimentadas avenidas e por grandes edifícios, além de escolas, hospitais, hotéis, aeroporto, universidades e tudo o que há numa cidade importante e cosmopolita do Ocidente ou do Oriente. Em qualquer aspecto que se considere, é uma povoação singular. Singularíssima.
Abriga, atualmente, uma população fixa de 732.100 habitantes em seus 125,1 quilômetros quadrados. Acolhe vários milhões de turistas e de peregrinos, anualmente, das três religiões que a consideram santa: cristianismo, judaísmo e islamismo. É, pois, uma metrópole dinâmica, vibrante, cheia de vida e não se limita, portanto, a viver do passado, embora, compreensivelmente, este seja onipresente. Jerusalém tem história. E que história.
Pode-se dizer, em sentido metafórico (mas nem tão figurado assim), que seu solo sagrado está embebido de sangue, muito sangue. Para justificar essa expressão, basta dizer que no correr de sua milenar (e violenta) história, a cidade foi destruída, por completo, duas vezes. Foi sitiada em outras 23 oportunidades. Os ataques que sofreu e que resistiu foram, ao todo, 52. Além do que foi capturada e recaptura em 44 ocasiões. Qual outra cidade mundial, incluindo Roma, Atenas e tantas outras, que testemunhou (ou, na verdade, foi vítima) de tanta violência? Não encontro nenhuma que se lhe iguale nesse aspecto, por mais que pesquise.
O setor antigo de Jerusalém – foco de interesse de historiadores, antropólogos, teólogos, arqueólogos etc. e dos milhões de peregrinos que a visitam anualmente – está perfeitamente delimitado, dividido em quatro zonas, tendo por referência os pontos cardeais. A Noroeste, por exemplo, localiza-se a área cristã; a muçulmana situa-se a Nordeste; a armênia (cristã ortodoxa) fica a Sudoeste e a judia a Sudeste. Entre seus mais procurados centros de peregrinação destacam-se a Igreja do Santo Sepulcro, a Via Dolorosa (Via Sacra), a Piscina de Betsaida, o Jardim do Getsêmani, os túmulos do Rei Davi e da Virgem Maria e tantos outros.
A guarda dos mais reverenciados santuários das três religiões é feita, em conjunto, por cristãos e muçulmanos. Mas alguns dos locais sagrados, como o tradicional sítio em que se ergueu o primeiro Templo, estão, agora, ocupados por mesquitas. É o caso do Santuário da Pedra, terminado em 691 AD pelo califa Abd-al-Malik, que está no lugar exato em que um dia existiu o primeiro e suntuoso santuário construído por Salomão.
Outros pontos de adoração islâmicos (para os quais Jerusalém é tida como a terceira cidade mais santa do Islã, abaixo, somente, de Meca e de Medina), são o Haram-ash-Sharif, a mesquita Al-Aqsa (que data de 710 AD), e outras tantas menos famosas, mas não com menor apelo místico que os citados. Não se pode omitir, entretanto, a Mesquita de Omar, comparável, em santidade, pelos muçulmanos, à Kaaba de Meca.
Em resumo, Jerusalém conta com 1.204 sinagogas, 152 igrejas cristãs e 73 mesquitas. A parte inferior Oeste da muralha de Haram-ash-Sharif é o Muro das Lamentações. É para onde os judeus (notadamente os ortodoxos) se dirigem diariamente para fazer suas preces e formular seus pedidos a Jeová – escritos em papéis inseridos nos vãos das pedras – além de agradecerem as benesses recebidas. No aniversário da destruição do Templo, se reúnem em grandes grupos no local para recitar, solenemente, as Lamentações do profeta Jeremias.
Os armênios, além de cultuarem os lugares sagrados comuns às três religiões que consideram Jerusalém cidade santa, têm, na Igreja de São Tiago, o Grande, seu maior pólo de atração.
Várias cidades do mundo têm rica tradição: ou histórica, ou artística, ou científica, ou cultural ou outra qualquer, Muitas são, também, veneráveis centros de oração, como ocorre na Índia, no Tibete e em outras partes. Algumas são focos de interesse de historiadores por terem sido palcos de episódios que mudaram os rumos políticos da humanidade. Mas nenhuma, rigorosamente nenhuma reúne, simultaneamente, todas essas características, e por tanto tempo, como Jerusalém. Modernizou-se, mas jamais abdicou de suas tradições, de suas lembranças, de seu memorabilíssimo passado.
Trata-se de moderna metrópole, sem dúvida, com o que há de melhor na atual sociedade globalizada de consumo. Mesmo não reconhecida oficialmente pela comunidade internacional, é, para a Israel contemporânea, sua eterna e irrenunciável capital. O mesmo status, porém, é reivindicado pelos palestinos, que querem fazer da parte oriental da cidade seu centro de poder para o tão sonhado Estado independente pelo qual tanto lutam, desde a criação da nação judia contemporânea, ao cabo da Segunda Guerra Mundial.
Cogitou-se, inúmeras vezes, em sua internacionalização, conferindo-lhe um status que na verdade já goza, posto que informalmente. Esta “solução”, todavia, é enfaticamente descartada pelos principais interessados, pelos dois inconciliáveis “primos”, que reivindicam, sem trégua, sua soberania, posto que com recursos rigorosamente desiguais.
Israel, transformada em virtual potência militar do Oriente Médio, graças ao apoio dos Estados Unidos, defende, renhidamente, seu direito histórico sobre a cidade. E, sobre ela inteira. Ou seja, unificada, incólume, como atualmente é.
Os palestinos, por seu turno, querem-na dividida. Reivindicam que sua parte oriental se constitua na capital do Estado que ainda não têm, mas que tanto acreditam que um dia terão. Como conciliar, pois, posturas aparentemente tão antagônicas e, portanto, inconciliáveis? Talvez jamais haja solução. Ou, porventura, há?
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Uma viagem por dentro da história. Lugar apaixonante, Pedro. Atraente como poucos.
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