Arrojado monumento de fé
Após a conquista de Jerusalém, que estava, anteriormente, em poder dos jebuseus, em memorável campanha militar, comandada pelo rei Davi, faltava à cidade algo mais profundo e precioso, além do orgulho nacional, que a fizesse amada pela população e que se tornasse uma espécie de símbolo da nacionalidade. Era preciso ligá-la, de alguma forma, às tradições religiosas do povo hebreu. Afinal, seus antigos “proprietários” tinham seus próprios lugares santos, seus templos e monumentos, com o que os conquistadores não contavam.
Davi intuía que, para que a cidade crescesse e prosperasse, era indispensável unir, ao orgulho nacional da conquista, algo de mais profundo e transcendental para os israelitas. Sentiu que precisava vincular a povoação, de alguma forma, às mais arraigadas tradições nacionais. Algo, por exemplo, que tivesse vínculo emocional com o que era considerado o momento mais representativo e épico da nacionalidade, ou seja, a peregrinação hebréia, de 40 anos, pelo Deserto do Sinai, provação que lhe incutiu seu profundo sentido de nacionalidade, que sobrevive ainda nos dias de hoje, transcorridos quase quatro milênios. Mas... como fazer isso?
Davi, além de magnífico comandante militar, tinha aguçado senso político, algo raro para aqueles tempos. Pensou, pensou e pensou, até tomar uma decisão. Raciocinou: “Qual o símbolo mais sagrado, mais valioso e de maior apelo que Israel tinha? Ora, sem dúvida, era a ‘Arca da Aliança’”. Ela guardava em seu interior o que os israelitas consideravam a maior preciosidade da humanidade, as tábuas dos Dez Mandamentos que, conforme acreditavam, foram escritas pelo próprio Jeová e entregues ao seu líder máximo, ao libertador do povo, Moisés. Foi o que o rei fez. Ordenou que essa inestimável preciosidade dos israelitas fosse, de imediato, trasladada para a nova capital.
Os planos de Davi, porém, eram bem mais ambiciosos. Não queria abrigar a Arca da Aliança em uma simples tenda, como vinha sendo até então. Projetava erigir um templo condizente com o valor da relíquia para esse fim. E queria que este fosse suntuoso, imenso e monumental. Prático como era, sobretudo homem de ação, o rei não se limitou a fazer planos. Depois de escolher cuidadosamente o local em que o templo deveria ser erigido, o Monte Moriá, começou, incontinenti, a providenciar material para a ousadíssima obra.
Enormes blocos de pedra foram trazidos de imensas distâncias para Jerusalém, numa operação por si só bastante ousada, que demandava toda uma logística e impecável estratégia. Recorde-se a carência de transportes na época. Além disso, grande quantidade de cedros do Líbano (madeira das mais refinadas e requisitadas) e marfim procedente das mais remotas localidades da África foram adquiridos e transportados para a cidade e devidamente estocados.
Para a construção do Templo faltavam, além de um projeto arquitetônico definido e consolidado, sem o que obra alguma prospera e se concretiza, os artesãos encarregados do trabalho. Tudo fora planejado para que a monumental edificação fosse erigida com rapidez. O ousado projeto, porém, não foi concretizado pelo seu mentor. A conselho do profeta Natan, Davi deixou a tarefa para seu sucessor, seu filho Salomão.
A obra desse rei, que marcou passagem na história pela fama de imensa sabedoria, foi extraordinária em todos os sentidos. Pode-se dizer que seu reinado foi o apogeu do povo de Israel. Dotado de notável senso político e administrativo, transformou seu pequenino reino em potência de porte médio da época. Mesmo tendo por vizinhos poderosíssimos impérios, como Egito, Babilônia e Assíria, Salomão teve tirocínio para manter a independência de seu país graças, notadamente, a espantosa habilidade diplomática de que era dotado.
Todavia, o isolamento de Israel foi o principal e grande responsável pelo longo período de paz que caracterizou o reinado desse sábio rei, amante das artes e das letras (era exímio poeta). O reino progrediu em todos os sentidos, quer no econômico, quer no cultural, governado com serenidade e com justiça por um monarca culto e refinado.
O templo erigido por Salomão excedeu, em muito, o projeto original, que já era bastante arrojado, de seu pai. Para assegurar o requinte da obra, foram contratados os mais hábeis e reputados artesãos em pedra e madeira da época. Salomão não poupou despesas, nem na mão de obra e nem nos materiais empregados. Adornou o santuário com riquíssimos entalhes em pedra e em madeira, além de valiosíssimas obras de arte. E esbanjou ouro.
A inauguração de uma obra tão majestosa e suntuosa não poderia ser comum, trivial ou pífia. Tinha que ser memorável, ter majestosidade compatível com sua grandeza. E teve. Ocorreu em 953 AC, com esplêndidos festejos, quer religiosos, quer profanos, que culminaram com a chamada “Festa dos Tabernáculos”.
Pena que esse monumento de passado tão remoto, esse arrojado monumento de fé, não teria a perpetuidade, por exemplo, das pirâmides, do Colosso de Rodes ou da Acrópole, como foi projetada quer pelo seu mentor, Davi, quer por seu construtor, Salomão. Viria a ser destruído, sem que restasse “pedra sobre pedra”, assim como a cidade que o abrigou (e esta por várias vezes, após pacientes reconstruções). Mas... essa já é outra história, que fica para outra vez.
Boa leitura.
O Editor.
Após a conquista de Jerusalém, que estava, anteriormente, em poder dos jebuseus, em memorável campanha militar, comandada pelo rei Davi, faltava à cidade algo mais profundo e precioso, além do orgulho nacional, que a fizesse amada pela população e que se tornasse uma espécie de símbolo da nacionalidade. Era preciso ligá-la, de alguma forma, às tradições religiosas do povo hebreu. Afinal, seus antigos “proprietários” tinham seus próprios lugares santos, seus templos e monumentos, com o que os conquistadores não contavam.
Davi intuía que, para que a cidade crescesse e prosperasse, era indispensável unir, ao orgulho nacional da conquista, algo de mais profundo e transcendental para os israelitas. Sentiu que precisava vincular a povoação, de alguma forma, às mais arraigadas tradições nacionais. Algo, por exemplo, que tivesse vínculo emocional com o que era considerado o momento mais representativo e épico da nacionalidade, ou seja, a peregrinação hebréia, de 40 anos, pelo Deserto do Sinai, provação que lhe incutiu seu profundo sentido de nacionalidade, que sobrevive ainda nos dias de hoje, transcorridos quase quatro milênios. Mas... como fazer isso?
Davi, além de magnífico comandante militar, tinha aguçado senso político, algo raro para aqueles tempos. Pensou, pensou e pensou, até tomar uma decisão. Raciocinou: “Qual o símbolo mais sagrado, mais valioso e de maior apelo que Israel tinha? Ora, sem dúvida, era a ‘Arca da Aliança’”. Ela guardava em seu interior o que os israelitas consideravam a maior preciosidade da humanidade, as tábuas dos Dez Mandamentos que, conforme acreditavam, foram escritas pelo próprio Jeová e entregues ao seu líder máximo, ao libertador do povo, Moisés. Foi o que o rei fez. Ordenou que essa inestimável preciosidade dos israelitas fosse, de imediato, trasladada para a nova capital.
Os planos de Davi, porém, eram bem mais ambiciosos. Não queria abrigar a Arca da Aliança em uma simples tenda, como vinha sendo até então. Projetava erigir um templo condizente com o valor da relíquia para esse fim. E queria que este fosse suntuoso, imenso e monumental. Prático como era, sobretudo homem de ação, o rei não se limitou a fazer planos. Depois de escolher cuidadosamente o local em que o templo deveria ser erigido, o Monte Moriá, começou, incontinenti, a providenciar material para a ousadíssima obra.
Enormes blocos de pedra foram trazidos de imensas distâncias para Jerusalém, numa operação por si só bastante ousada, que demandava toda uma logística e impecável estratégia. Recorde-se a carência de transportes na época. Além disso, grande quantidade de cedros do Líbano (madeira das mais refinadas e requisitadas) e marfim procedente das mais remotas localidades da África foram adquiridos e transportados para a cidade e devidamente estocados.
Para a construção do Templo faltavam, além de um projeto arquitetônico definido e consolidado, sem o que obra alguma prospera e se concretiza, os artesãos encarregados do trabalho. Tudo fora planejado para que a monumental edificação fosse erigida com rapidez. O ousado projeto, porém, não foi concretizado pelo seu mentor. A conselho do profeta Natan, Davi deixou a tarefa para seu sucessor, seu filho Salomão.
A obra desse rei, que marcou passagem na história pela fama de imensa sabedoria, foi extraordinária em todos os sentidos. Pode-se dizer que seu reinado foi o apogeu do povo de Israel. Dotado de notável senso político e administrativo, transformou seu pequenino reino em potência de porte médio da época. Mesmo tendo por vizinhos poderosíssimos impérios, como Egito, Babilônia e Assíria, Salomão teve tirocínio para manter a independência de seu país graças, notadamente, a espantosa habilidade diplomática de que era dotado.
Todavia, o isolamento de Israel foi o principal e grande responsável pelo longo período de paz que caracterizou o reinado desse sábio rei, amante das artes e das letras (era exímio poeta). O reino progrediu em todos os sentidos, quer no econômico, quer no cultural, governado com serenidade e com justiça por um monarca culto e refinado.
O templo erigido por Salomão excedeu, em muito, o projeto original, que já era bastante arrojado, de seu pai. Para assegurar o requinte da obra, foram contratados os mais hábeis e reputados artesãos em pedra e madeira da época. Salomão não poupou despesas, nem na mão de obra e nem nos materiais empregados. Adornou o santuário com riquíssimos entalhes em pedra e em madeira, além de valiosíssimas obras de arte. E esbanjou ouro.
A inauguração de uma obra tão majestosa e suntuosa não poderia ser comum, trivial ou pífia. Tinha que ser memorável, ter majestosidade compatível com sua grandeza. E teve. Ocorreu em 953 AC, com esplêndidos festejos, quer religiosos, quer profanos, que culminaram com a chamada “Festa dos Tabernáculos”.
Pena que esse monumento de passado tão remoto, esse arrojado monumento de fé, não teria a perpetuidade, por exemplo, das pirâmides, do Colosso de Rodes ou da Acrópole, como foi projetada quer pelo seu mentor, Davi, quer por seu construtor, Salomão. Viria a ser destruído, sem que restasse “pedra sobre pedra”, assim como a cidade que o abrigou (e esta por várias vezes, após pacientes reconstruções). Mas... essa já é outra história, que fica para outra vez.
Boa leitura.
O Editor.
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