sábado, 5 de agosto de 2017

Remissão


* Por Flora Figueiredo


Peço perdão
pelo ato impulsivo e leviano,
por ter ferido assim teu lado humano,
desafiado até tua carência.
Por ter te deixado minha ausência
depois desse amor puro e profano.
Eu me ajoelho
para beijar teu chão recém-pisado
e o resto de teu beijo ainda molhado
de uma lágrima tombada no caminho.
Eu me redimo
por ter emprestado meu carinho
num repente brutalmente recolhido.
Eu me condeno
por ter permitido esse veneno
fluir da alma gasta e já sofrida,
por ter atravessado tua vida
num momento plácido e ameno.
Eu te perdoo
por me fazer amar assim intensamente,
restaurar em vão meu poema cadente,
estender a mão a meu destino.
Agora, exaurida, extenuada,
continuo pela sombra minha estrada,
levando embora tua imagem de menino. 

In Florescência, 1987 

* Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida. 



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