sábado, 5 de agosto de 2017

Manual de sobrevivência entre crápulas e canalhas


* Por Clóvis Campêlo


Meus caros amigos:

Escrevo estas mal traçadas linhas ao som de Chet Baker, 
Time After Time. O som me acalma a alma e o corpo. A canção não tem pressa. Nem eu. Tenho toda a manhã disponível, muito embora o sol do Recife me chame para as ruas. Difícil não atender a esse pedido, depois de meses de frio e chuva, com os quais a cidade não combina. O som do trompete em surdina domestica a manhã e invade completamente o ambiente. Relaxo e deixo o corpo pousar suavemente por sobre a cadeira da sala. Aterrissagem perfeita. Nem um lexotan me faria melhor.

Baker, americano do Oklahoma e um dos melhores trompetistas da história do jazz, faz parte do lado bom do colonialismo cultural. Se ter que ser assim, escolhamos sempre o melhor. Afinal, nem ele nem eu temos culpa das tronchuras do mundo. Suas improvisações no instrumento são calmas, precisas  e serenas. Morreu em Amsterdã, em 1988, aos 58 anos, ao cair da varanda do hotel em que estava. Até hoje se discute se a sua morte foi um acidente ou suicídio. Uma lástima, na verdade.

Time After Time é um canção que fala do amor com satisfação. É uma nave que navega em mar de tranquilidade, em dia de calmaria. Repito a dose e entro numa quase letargia. É disso que eu gosto. É disso que eu preciso.
Quanto aos crápulas e canalhas, resolvi esquecê-los. Não me fazem bem.

PS.: Minhas homenagens ao Negro Gato, que esta semana partiu em busca da grande planícies, das terras de Manitu.


* Poeta, jornalista e radialista.




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