quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Campo de batalha nas redes sociais

* Por Mara Narciso
 
No começo da década de 1990, primos e irmã frequentavam a internet. Não sabia que logo seria um instrumento universal no qual estaríamos todos inseridos. Quando palavras como surfar, site, link, e-mail, copiar e colar, download, nada significavam, eu, mergulhada na burrice digital, dizia não ter interesse naquilo.
 
Em 1999 decidi como tarefa de janeiro de 2000, comprar um computador e fazer um curso de informática. Tive 40 horas-aula em casa e passei a usar a internet para estudar Endocrinologia em sites americanos, fazer contato com outras pessoas através de e-mails, e usar o chat Mirc/ ICQ. Em 2001 comecei a frequentar salas de chat no Portal Terra e fiz amizades virtuais que duram até hoje.
 
Em 2005, frequentadora desde 2004, tive a oportunidade de ser vítima de linchamento virtual no Orkut, dentro da comunidade literária “Espancadores de teclados”. Muito opinativa, fiz um comentário, não depreciativo, que afirmava ser a autora do texto, possivelmente, portadora de TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, um assunto que me dominava na época. Todos se viraram contra mim, e com tal agressividade que saí arrasada, sumindo do site por três dias. Ficou a marca desde então, e sei o que isso significa. As ofensas soam como bofetadas e são inesquecíveis.
 
No curso de Jornalismo, terminado em 2010, tive diversas matérias voltadas para o mundo digital. Depois surgiu o Facebook, no qual entrei em janeiro de 2011. Desde então, venho assistindo a escalada da violência verbal até superar o nível máximo. Os usuários, que poderiam ser positivos para educar e construir, fazem elogios automáticos e mentirosos, muitas vezes invejosos, ou cutucam o “amigo” com comentários irônicos. Isso no campo pessoal. Noutros campos são ainda mais agressivos. Circulam mensagens religiosas, assim como críticas debochadas a outras religiões ou aos ateus. Alívio: deixam anjinhos, florezinhas e bichinhos, com suas bobagens do tempo do Orkut nas mensagens inbox. Assim não poluem a Linha do Tempo.
 
Eu uso o Facebook durante seis horas por dia, e já alcancei diversas vezes o número máximo permitido de 5000 contatos. Então, depois de quase 18 anos de internet, posso assegurar aos recém-chegados, que, atualmente, a maior diversão é derrubar mitos, deixar a reputação de um político ou celebridade, ou pessoa menos votada, mas de algum destaque, em frangalhos.
 
O que importa não é opinar, é destruir. Os contendores parecem estar dentro das quatro linhas de um ringue, levando o inimigo para as cordas, dando-lhe milhões de sopapos, até vê-lo desfalecido. Podem se valer do anonimato de um fake, desferir os maiores despautérios, até o tiro de misericórdia. O motivo do xingamento é a pessoa ter opinião diferente da do ofensor. E trazendo a surrada comparação da árvore cheia de frutos, de fato, quem não é nada e não produziu nada, dificilmente será atacado, exceto em casos específicos.
 
O gosto de quem ataca é ler a resposta, para aumentar o poder de fogo. Quando a pessoa está ausente ou não faz parte daquela rede social, os covardes, confiantes, se fortalecem. É fácil desferir o golpe fatal. Os ídolos são os alvos numa época em que não mais se acredita no que se ouve, nem no que se vê (vídeos inclusos), em que as autorias são trocadas e falsas notícias dominam a festa da infâmia, assim, tirar um deles de circulação é a meta dos brigões. Poucos se calam diante de uma provocação. É automático revidar, no entanto, a melhor arma dentro de uma rede social, que vale como uma bomba atômica às avessas é se calar, e à Justiça, cabe rastrear as ofensas e punir os agressores com a força da lei.

* Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”



3 comentários:

  1. Você expressou, com a habilidade, competência e clareza de sempre, o que sempre achei das redes sociais, mas que nunca quis escrever a respeito, para evitar dores de cabeça. Nestes sete anos que participo do Facebook, fui “agredido”, apenas, três vezes, todas neste ano, mas mesmo sendo poucas as agressões, elas “doeram” muito (e continuam doendo). Um dos agressores teve a grandeza de se retratar e estamos numa boa. Este não conta mais. Outro foi o Nei Duclós, e esta foi a agressão que doeu mais. Ele queixou-se, de forma muito agressiva, sem medir palavras, que não o tratei com o devido respeito no Literário, o que verifiquei, mais tarde, após rever todos os textos dele que postei no blog, e conclui tratar-se de inverdade e, mais, de deslavada mentira. Vá se entender a cabeça alheia! Até agora, não entendi com o que ele ficou ofendido. Finalmente, a terceira agressão veio de uma pessoa que jamais participou da minha página, que eu nem sabia que era minha seguidora, que alegou que a maltratei, por não responder a um comentário que alegou ter feito em uma das minhas reflexões. Só que a tal pessoa nunca fez nenhum comentário, a nada do que escrevi, em ocasião alguma. Por isso, não houve jeito de eu tê-la maltratado. Portanto, mentiu, e muito. Entre outras coisas, ela afirmou que “aqui se faz e aqui se paga”, para explicar porque, no seu entendimento, minha página, de uns três meses para cá, está às moscas, o que, segundo disse, a vingava. Delirou, claro. Deve ter lá seus problemas domésticos e me escolheu, desconfio que aleatoriamente, para bode expiatório. Confesso que tenho medo, muito medo das redes sociais e só participo delas para divulgar minha produção literária. Alguns entendem isso numa boa. Outros, porém… Parabéns, Mara, por sua objetividade, sinceridade e equilíbrio. Como sempre, você “arrasou”!!!

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  2. Poucos têm coragem de externar suas decepções. O lado pavão das pessoas também precisa ser considerado. Apesar dos desacertos, vamos firmes na nossa busca. Obrigada, Pedro!

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  3. Eu diria que esse comportamento antissocial nas redes sociais é particularmente brasileiro. Tanto que o próprio Zuckerberg disse que os usuários do Brasil estavam conseguindo deturpar o Facebook... Abraços, Mara.

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