terça-feira, 8 de novembro de 2016

Tóxicos


* Por Eduardo Oliveira Freire


...Fiquei muito contente ao me mudar para um condomínio meio campestre.  As casas não eram muito coladas e havia um bosque muito bonito.

Depois de me instalar, comecei a caminhar. Na rua, não havia ninguém e como era agradável andar sozinho!  Um dia, prestei atenção em uma casa ao lado da minha. Ela parecia ser de boneca e não tinha nada fora do lugar. Um casal de idosos ficava na varanda e me cumprimentava. Pareciam viver muito bem.

Sempre que caminhava, eles riam para mim e puxavam papo. Até que me convidaram para jantar e fiquei agradecido.

O jantar estava maravilhoso e conversamos sobre tudo. Porém, quando um se ausentava por algum motivo, o outro falava mal do que havia saído. "Ele já me traiu várias vezes", "ela é fria e foi péssima mãe. Meu filho mais velho se matou por causa dela...". Fiquei constrangido. A comida começou a revirar o estômago, senti-me intoxicado. Arrumei uma desculpa que precisava acordar cedo e fugi dali. Resolvi mudar o trajeto das minhas caminhadas e nunca mais passar por ali.

Meses se passaram e soube da notícia que foram encontrados mortos em casa. Foram envenenados por uma substância desconhecida. Será que um envenenou o outro ou foram se intoxicando durante anos até o momento fatal? Na reportagem da tevê, uma filha do casal comentou que todos da família já sabiam que era "uma tragédia anunciada".

De vez em quando, passo pela "casa de boneca" do casal de idosos e me pergunto por qual motivo as pessoas complicam tanto a vida e preferem viver relações tão tóxicas.

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/



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