Tóxicos
* Por
Eduardo Oliveira Freire
...Fiquei muito
contente ao me mudar para um condomínio meio campestre. As casas não eram muito coladas e havia um
bosque muito bonito.
Depois de me instalar,
comecei a caminhar. Na rua, não havia ninguém e como era agradável andar
sozinho! Um dia, prestei atenção em uma
casa ao lado da minha. Ela parecia ser de boneca e não tinha nada fora do
lugar. Um casal de idosos ficava na varanda e me cumprimentava. Pareciam viver
muito bem.
Sempre que caminhava,
eles riam para mim e puxavam papo. Até que me convidaram para jantar e fiquei
agradecido.
O jantar estava
maravilhoso e conversamos sobre tudo. Porém, quando um se ausentava por algum
motivo, o outro falava mal do que havia saído. "Ele já me traiu várias
vezes", "ela é fria e foi péssima mãe. Meu filho mais velho se matou
por causa dela...". Fiquei constrangido. A comida começou a revirar o
estômago, senti-me intoxicado. Arrumei uma desculpa que precisava acordar cedo
e fugi dali. Resolvi mudar o trajeto das minhas caminhadas e nunca mais passar
por ali.
Meses se passaram e
soube da notícia que foram encontrados mortos em casa. Foram envenenados por
uma substância desconhecida. Será que um envenenou o outro ou foram se
intoxicando durante anos até o momento fatal? Na reportagem da tevê, uma filha
do casal comentou que todos da família já sabiam que era "uma tragédia
anunciada".
De vez em quando,
passo pela "casa de boneca" do casal de idosos e me pergunto por qual
motivo as pessoas complicam tanto a vida e preferem viver relações tão tóxicas.
*
Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante
a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
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