Famosos não são corintianos
* Por Fábio de Lima
Calma, caro
leitor. Não faça julgamento precipitado. Não quero com esse texto denegrir a
imagem do Corinthians ou de qualquer outro time de futebol. Só quero refletir
um pouco sobre o status concedido a jogadores de futebol nos últimos tempos. E
essa minha reflexão começou na semana passada quando todos os jornais
anunciaram que os jogadores do Corinthians não pretendem falar mais com a
imprensa até o final do Campeonato Brasileiro.
Tudo foi
informado através de um abaixo-assinado com os nomes de todos os jogadores do
time e fixado num pedaço de madeira encostada ao tronco de uma árvore na Fazenda
Santa Filomena, cidade de Jarinu, interior de São Paulo, e onde o Corinthians
treinou durante toda a semana passada. As TVs mostraram as imagens de um monte
de jornalistas, na frente da árvore, com os olhos arregalados e a boca aberta,
enquanto liam o manifesto. Tudo ridículo do começo ao fim.
O brasileiro
Alberto Santos Dumont, inventor do avião, entre outras invenções, inteligente,
culto e rico, com certeza não seria um corintiano – visto que atendia
jornalistas do mundo todo para explicar suas engenhocas, principalmente, aquela
máquina capaz de voar como um pássaro.
O americano
Walt Disney, criador do desenho animado Mickey Mouse, entre outros desenhos, inteligente
e criativo, com certeza não seria um corintiano – visto que atendia jornalistas
do mundo todo para comentar seus desenhos animados – para falar sobre a
Disneylândia – e sobre o encanto que seu trabalho gerava nas crianças.
O alemão
naturalizado suíço e americano Albert Einstein, inventor da Teoria Geral da
Relatividade, com certeza não seria um corintiano – visto que atendia
jornalistas do mundo todo para explicar o conceito de que a velocidade da luz é
constante em qualquer situação, assim como a importância disso para o avanço da
ciência.
O austríaco
Sigmund Freud, não se perca pelo sobrenome, psicanalista e defensor de idéias
até hoje revolucionárias sobre o inconsciente das pessoas, com certeza não
seria um corintiano – visto que atendia jornalistas do mundo todo para explicar
o que era Id, Ego e Superego, além das suas teorias sobre sexualidade infantil,
repressão, inconsciente e origens sexuais da psicopatologia.
O inglês Alfred
Hitchcock, cineasta, considerado o gênio do suspense, ousado como poucos, com
certeza não seria um corintiano – visto que atendia jornalistas do mundo todo
para analisar o quanto trechos de um filme poderiam fazer daquela produção uma
obra de arte, desde que fosse uma “filmagem pura”, com ingredientes técnicos
que mexessem com o sistema nervoso das pessoas.
O italiano
Luciano Pavarotti, cantor, considerado o maior cantor de ópera de sua época,
com certeza não seria um corintiano – visto que sempre atendeu jornalistas do mundo
todo para cantar alguns trechos de músicas e demonstrar seu potencial de voz,
além da classe em seu jeito de cantar.
A inglesa
Virgínia Woolf, escritora que como poucos artesãos da palavra souberam
descrever a mulher e, ao mesmo tempo, a importância de fatos corriqueiros da
vida, com certeza não seria uma corintiana – visto que atendia jornalistas do
mundo todo para conversar sobre seus livros e sobre a importância que dava para
a realidade na ficção e para a ficção na realidade.
O brasileiro
Edson Arantes do Nascimento, Pelé, o maior jogador de futebol de todos os
tempos, mais de 1200 gols marcados, com certeza não seria um corintiano – visto
que sempre atendeu jornalistas do mundo todo para comentar suas jogadas e
conversar sobre sua maior paixão, o futebol.
Portanto,
quando deparei com a notícia do boicote das palavras dos “famosos” jogadores de
futebol do Corinthians para com a imprensa, fiquei estarrecido. Não pelo que
eles deixariam de falar – mas pela total falta de importância do que eles falam
diariamente. Penso que a imprensa deveria unir-se (sei que isso é utópico) e
ela fazer questão de não ouvir o que esses “famosos” inúteis têm para falar.
Afinal, os famosos não seriam corintianos – nem palmeirenses – são-paulinos – santistas
ou afins. Famosos são gênios e jogador de futebol, falando ou mudo (dá na
mesma), não é ninguém.
(*) Jornalista e escritor ou
“contador de histórias”, como prefere ser chamado. É Diretor de Programação da
CINETVNET (www.cinetvnet.com.br), TV pela internet. Está escrevendo seu
primeiro romance, DOCE DESESPERO.
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