Triste fim
* Por
Mateus Modesto
Não havia ninguém acima
dela naquele dia. Estava levemente sensual. Totalmente charmosa. Feita para ser
admirada. Não se sabia o que a motivou naquela produção. Todos reconheciam sua
majestade.
Do início ao fim da
rua, os homens ficavam boquiabertos. As mulheres, mordendo-se de ciúmes.
Algumas até elogiavam, mas em pensamento. Carros andavam mais devagar, o sol
perdera sua extrema temperatura, as nuvens rendiam-se à sua beleza. As árvores
balançavam em harmonia com o vento, os pássaros cantavam mais alegres, as
borboletas improvisavam um balé no ar. Tudo estava perfeito.
Ela andava sem pressa.
Apesar de olhar para baixo, percebia o que acontecia ao redor. Não conseguia
esconder seu sorriso. E que sorriso! Seus deslumbrantes olhos verdes combinavam
com sua pele, com sua maquiagem, com a cor do cabelo... Detalhes encaixando-se
romanticamente. Seu perfume, a maciez da pele, o formato do rosto. As mãos
lisas, os pés pequenos, o corpo desenhado. E ela seguia devagar, graças ao salto,
que não a permitia extrapolar na velocidade.
A rua alongava a cada
passo seu. Como uma passarela sem fim. Até a lua surgira – não queria perder o
espetáculo. E uma linda e reconfortante música, com sua melodia preenchendo o
momento com um toque de delicadeza.
Mas tudo tem um fim. E
o dela chegou ao final daquela rua. Infelizmente.
Seus olhos resolveram
vistoriar o espaço. E seu rosto foi elevado até seu nariz. Dessa forma, o trono
começou a ruir. Os passos não estavam mais suntuosos. Seus pés pisavam com
rudez. O sorriso, agora sinistro, perdia seu brilho, juntamente com a nobreza
de seu rosto.
Mais à frente,
inadmissível, um pequeno e poderoso buraco. Mal de toda cidade. A imponência da
bela dama se esvaiu. E sentiu na pele as marcas da soberba. A humildade ainda continua
sendo a maior das belezas.
*
Jornalista
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