terça-feira, 22 de abril de 2014

Amar e tratar de amor

O amor é tema recorrente na pauta de praticamente todos os escritores, não importa sua tendência, nacionalidade, estilo, gênero que adote ou época em que viva. Pode-se dizer que quase todos os textos literários (que ascendem aos bilhões, se não mais) têm esse sentimento como foco. Variam, apenas, as situações, ou seja, com ele sendo realizado em sua plenitude, ou impedido e contrariado por algo ou alguém. Não creio que reste qualquer aspecto original, a propósito, a ser dito ou escrito, que ninguém, em algum tempo ou lugar, não o tenha feito. Portanto, se houver quem se preocupe exclusivamente com originalidade, este é o tema menos oportuno a abordar. E por que o abordo com tanta insistência, se não há nada de novo a ser dito a respeito?

Bem, tenho uma série de motivos. Primeiro, não pretendo ser original, mas apenas apresentar minha visão pessoal de mundo, com clareza e honestidade. Segundo, porque sempre amei, amo e acredito que amarei até meu derradeiro momento na Terra. E a melhor maneira de escrever, de fazer Literatura minimamente boa e séria, é ter por base nossas próprias experiências. Ademais, creio que haja várias maneiras de amar e nem sempre a minha será a mesma (ou melhor ou pior) do que a do leitor. Terceiro, porque sou frequentemente – instado, ou pessoalmente, ou por telefone, ou por carta, ou, principalmente, por e-mail – a tratar do tema. É sinal de que minhas abordagens a respeito, se não são originais (e creio que não sejam) são, pelo menos, convincentes. E não sou diferente de nenhum escritor. Não escrevo para meu próprio deleite, mas para que outros (e quanto maior for seu número, tanto melhor) leiam.

Há inúmeras outras razões, mas entendo que as citadas sejam as principais. Das minhas mais de 2.600 crônicas, no mínimo metade versam sobre amor. Dos mil e tantos poemas, a totalidade trata desse sentimento, de uma forma ou de outra, assim como mais de uma centena de contos que já produzi. Haja originalidade, caso este fosse meu objetivo! Mas não é. Em música clássica, há muitas composições que não passam de “variações em torno do mesmo tema”. Nem por isso, são de qualidade inferior, ruim e/ou duvidosa, portanto, desprezíveis. Algumas (e não poucas) são geniais. É o que faço (ou pelo menos, busco fazer) em relação ao amor. Promovo uma incansável variação (e põe variação nisso!) em torno de um mesmíssimo tema.   

Até porque, amar, ao contrário do que possa parecer, não é tão fácil quanto se apregoa. Para que esse sentimento se manifeste e se realize, em sua plenitude, temos que abrir mão de grande parcela do nosso egoísmo, do nosso superlativo amor próprio e do nosso arraigado e não raro exacerbado egocentrismo.Precisamos fazer da pessoa a que amamos “o centro do mundo”, e não mais nós. Quantos estão dispostos, mas dispostos mesmo, a isso? Creio que poucos, pouquíssimos. Apregoar o amor não é difícil, pelo contrário. Senti-lo, também, não chega a beirar a impossibilidade e não envolve maior complexidade. Mas vivê-lo em sua plenitude é que são elas! Conservá-lo intacto, e se possível ampliá-lo cada vez mais ao longo de nossas vidas, é que é o grande desafio.

Para isso, temos que relevar, principalmente, os defeitos alheios, que a rigor não são maiores do que os nossos, sem ares de superioridade e sem tentativas de imposições. No início de relacionamentos, tudo isso nem é raro. O nível de tolerância é maior por causa da mútua atração, sobretudo a física. Eros comanda as coisas. O instinto erótico, ou seja, o da preservação da espécie, fala mais alto. Não raro, essa instintiva atração sexual é confundida com amor quando é, apenas, “uma” de suas características, uma espécie de “efeito colateral”.. Posso ser irresistivelmente atraído por determinada mulher sem amá-la (e vice-versa). Podemos até nos detestar e, ainda assim, gerarmos um filho. Isso é muito mais comum do que as pessoas ousam admitir.

Na sequência do relacionamento, na rotina do dia a dia, o que antes não incomodava (e se incomodasse, suportávamos com resignação) passa a incomodar bastante. Muitas vezes, torna-se intolerável. E daí para a ruptura (não raro dramática e às vezes até violenta) é só um piscar de olhos. Por maior e mais genuíno que seja o amor, a falta de “cultivo” lhe é fatal.,Ele esfria, amolece, míngua e se os outrora apaixonados não reacenderem a chama primitiva, caso ainda seja possível reacender, morre de morte natural. E há casos em que até se transforma em ódio, ora se há. Isso nem mesmo é raro. Aliás, é bastante comum.

Referi-me, até aqui, especificamente ao amor entre um homem e uma mulher, sempre guiado pelo instinto erótico, com vistas à reprodução, mesmo que o casal negue tal finalidade ditada pela natureza, e seja sincero na negativa, porquanto esse objetivo final é inconsciente. E em outros tantos casos, esse sentimento é mais presente, desinteressado, genuíno e resistente? Tenho lá minhas dúvidas. O escritor judeu Kalman Schulman foi extremamente feliz quando constatou: “Amar a humanidade é fácil, o difícil é amar seres humanos”. Ou seja, manifestar amor, em abstrato, genericamente, não envolve qualquer dificuldade. Complicado é exercitá-lo no dia-a-dia, com pessoas reais, concretas, de carne, osso e vísceras, com seus defeitos, idiossincrasias, interesses e contradições. Mas... este é outro assunto que fica para outra vez.

Boa leitura.

O Editor..


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Um comentário:

  1. Gosto de ler sobre o amor e suas variantes, mas escrevo muito mal sobre o tema.

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