domingo, 20 de abril de 2014

In Memoriam


* Por Nikolai Marchuk
                         

I

Pela eternidade a semente brotará
-- rompendo a lápide fria da tumba,
espalhando os seus galhos floridos.
E, então, o coração responderá...

Gemem flautas, choram salgueiros
em lágrimas sucumbem os jardins,
arquivos cobrem-se empoeirados --
apagam-s os passos. -- Por que?..

Infelizmente, as coisas acontecem,
enquanto, silenciando, o povo sofre.
-- Um vivo, a outro vivo, cova entalha;
depois, mete-lhe a bala. Amortalha!

Não reconhecem ideais de outrem!
-- Alma dos outros é tão estranha...
Por terras, glórias mil se diluiram --
fontes do saber e livros destruiram.

Esvairam-se em sangue... Nossos
espaços, não medidos, borrifaram!
Memórias apenas e, tão somente,
nos deixaram. Estas não mataram!

O mundo branco continua sua vida.
Com toda nossa força, preservado!
E, caso possa uma oração a quem
se dedicar, a bétula será lembrada.


II


Eram milhões, durante os dias e durante as noites;
passado um ano, não os terá contado todos. Tantos!
Em terra úmida, seus gritos se contorcem doidos --
justiça clamam, aos que ficaram. Em vão tombaram?

Do estéril e baldio gulag, ouviram-se os gritos inúteis
-- distantes, perdidos... Movendo-se a passos traidos.
Pesadelo de um sonho que, qual uma estrela caida,
dos céus os horizontes -- os seus extremos singrou!..

Das minas de carvão dos Urais, das terras de Comi,
as vozes nos chegam, pedindo a nossa atenção!..
Não consigo afinar os ouvidos ao tom. Será nominal
ou será de bemóis, sustenidos?.. Haverá diapasão?

Mas, também eu já fui perseguido. Pueril, já sofri...
Conheci o inferno da morte -- pilhas de defuntos eu vi!
Meus parentes, vizinhos e muitos, que mais adorava,
por entre os escombros humanos, perdidos senti.


* Poeta ucraniano

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