sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Pílulas literárias 137

* Por Eduardo Oliveira Freire

INVENÇÃO DA MEMÓRIA
Dudv: “ Lembra-se de quando a gente se perdeu em Praga?”
Ana: “ Nunca estivemos lá.”
Dudv: “ Foi com Antônia então. Caramba! Fundi vocês duas nas minhas lembranças.”


***

FUNÇÃO DA ARTE OU REFLEXO
José sempre teve uma relação de amor e ódio com seu país de origem. Tinhas ideias de ir embora, mas ao mesmo tempo não se via longe do Brasil por muito tempo. Um dia, quando encontrou o poema Portugal, os versos traduziram o sentimento conflituoso que sentira por vários anos.
Percebeu-se a dizer:
"Te amo, Brasil".

Portugal, de Jorge Sousa Braga

Portugal
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como se tivesse oitocentos. Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis ao norte de África só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais e nunca mais voltasse? Quase chego a pensar que é tudo uma mentira, que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente.
Portugal
Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional (que os meus egrégios avós me perdoem). Ontem estive a jogar pôquer com o velho do Restelo. Anda na consulta externa do Júlio de Matos. Deram-lhe uns electro-choques e está a recupera àparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de rosas
Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se contraía a febre do Império, mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado. Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr uma pérola que fosse das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém. Sabes, estou loucamente apaixonado por ti. Pergunto a mim mesmo: Como me pude apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu, mas que tem o coração doce ainda mais doce que os pastéis de Tentugal e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade?
Portugal estás a ouvir-me? Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete. Salazar estava no poder, nada de ressentimentos. Um dia bebi vinagre nada de ressentimentos
Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos? São castanhos como os da minha mãe;
Portugal
Gostava de te beijar muito apaixonadamente na boca.

* Eduardo Oliveira Freire é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, com Pós Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a escritor

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