domingo, 30 de setembro de 2012

Cachaceiros sem fronteiras

* Por Ruth Barros

Anabel está pensando seriamente em fundar uma ONG, coisa que já andou mais na moda, mas continua em alta em vários círculos, que vão desde os abnegados passando pelos idealistas e englobando patricinhas e peruas riquinhas em busca de ocupação. Como não tenho nada contra ninguém, principalmente contra madames que querem dar um pouco de si (sem trocadilho, por favor), quando poderiam estar esbanjando em lojas grã-finas, elas também são bem vindas.

Pois estou acariciando a idéia de lançar a pedra fundamental da tolerante CACHACEIROS SEM FRONTEIRAS (CSF). A principal e talvez única condição para fazer parte dos quadros da entidade seria encarar um copo, ou melhor, vários copos, de preferência cheios. Assim como não descriminaríamos ninguém, com exceção dos abstêmios – e até os abstêmios teriam um lugar ao sol, quer dizer, ao copo, desde que não fossem daqueles chatos que acham que bebida é coisa do demônio – também teríamos os copos abertos a qualquer tipo de drink de qualquer lugar do mundo.Como o próprio nome da entidade indica, nossas fronteiras seriam internacionais, ou melhor, internacionalmente abolidas. Vinho francês, vodka russa, uísque escocês, retsina grega, arak árabe, nossa popular cachaça, cervejas sem pátria, todos teriam direito a voto em nossa instituição.

Reservo um especial lugar para a tequila mexicana. Conheci a tequila através de um amigo mexicano adorável, que costumava dizer “com tequila no te quedas borracho, te quedas louco” (traduzindo feito meu nariz, com tequila você não fica bêbado, fica louco). Escriba amiga de fornecer informações e esclarecimentos, Anabel vai explicar. A tequila é produzida com uma substância alucinógena, a mescalina, aquela mesma do Carlos Castaneda, que os mais entrados em anos (com e sem trocadilho) vão se lembrar como autor do best-seller A Erva do Diabo. Extraída de um cacto, conhecido popularmente como peyote, nome de origem asteca que significa "planta divina", é utilizada desde remotos tempos na América Central em rituais religiosos indígenas.

O peyote não existe no Brasil, o que deixa infelizmente deixa a tequila de fora da próxima proposta de Anabel: para não sermos acusados de anti-patrióticos nem esnobes, dado o preço do dólar e dos euros necessários para abastecer a adega de tais maravilhas, similares nacionais serão extremamente desejáveis no estatuto da CSF. Agora, a pergunta que não quer calar – para que serve a CSF? Resposta fácil: para melhorar o entendimento entre os povos e as pessoas do mundo.

Antes que me acusem de estar fomentando o alcoolismo, vou explicar. Existe coisa que desarme mais os espíritos que uma boa bebida? Dá pra imaginar uma festa, uma reunião, um jantar de paquera, qualquer coisa que passe por um social sem um belo drink, a não ser que você seja crente ou muçulmano?

Tá certo que a bebida é acusada de provocar brigas, acidentes, tumultos e violência, mas dessa vez eu acho que a culpa é da imprensa. A grande maioria das bebedeiras termina em paz, na pior das hipóteses em uma grande ressaca. Nem paz nem ressaca são notícia, então só se fala de bebedeiras que acabaram em tragédia, nunca das que têm final feliz. E uma das categorias que seria extremamente simpática a nossa causa seria justamente a dos taxistas – se for dirigir não beba, se beber não dirija, seria um lema que poderíamos também adotar para a CSF.

Anabel Serranegra sugere dois presidentes brasileiros para patronos da CSF, o atual titular da pasta e o falecido Jânio Quadros.

 
* Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.

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