Carta
de Pero Vaz – A resposta
* Por
Marcelo Sguassábia
Meu
caro Pero,
Tua
carta, relatando a descoberta de novas e tão ricas terras para a
Coroa lusitana, causou grande satisfação ao nosso Rei, Dom Manuel.
Fui testemunha bem próxima – muito mais próxima do que podes
imaginar – dos pulos de alegria que dava a cada parágrafo lido.
Era tanto contentamento que se mijava nas ceroulas, ora pois.
Deves
estar estranhando o fato de eu, tua esposa, estar a responder-te, e
não o Rei. Mas explico-te em poucas linhas, que espero suficientes
para que jamais voltes a pisar o solo português e nem olhes na
minha cara novamente.
Saibas
que escrevo-te estas mal-traçadas no leito imperial, onde o monarca
agora está a ressonar profundamente após uma alucinante noite de
amor comigo. Peço-te o favor de não sentires ciúmes de mim. Como
vês, não valho nada, nunca vali, e não sou digna nem mesmo do teu
desprezo. Do mesmo modo, estejas certo de que nunca reclamarei
direito algum se vieres a deitar, nas redes aborígenes que
encontrares, com as índias nuas que te apetecerem. Mas aconselho-te
a sempre teres contigo um farto e variado estoque de espelhinhos,
apitos e outras quinquilharias a que os selvagens daí parecem
gostar tanto. Primeiro, para tornares mais fáceis as tuas
conquistas – já que não és nenhum modelo de formosura. Segundo,
para acalmares os ânimos dos índios não acostumados a emprestarem
suas mulheres para portugueses de segunda categoria como tu.
Afirmas
em teu relato que, aí onde te encontras, em se plantando tudo dá.
Assim, sugiro que por aí permaneças para iniciar uma nova etapa da
tua vida e quem sabe fazer a fortuna que não conseguiste nestas
paragens. Sim, Pero Vaz, estou a dar-te uma banana. E desejo que a
transformes em abacaxis, palmeiras, cocos, carambolas, macaúbas e
tudo mais que puderes cultivar na Terra de Santa Cruz (ou seria Ilha
de Vera Cruz?). E que te tornes tão rico e poderoso quanto Dom
Manuel I, meu amante desde os tempos em que ainda eras um reles
aspirante à esquadra de Cabral.
*
Marcelo
Sguassábia é redator publicitário. Blogs:
WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e
WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).
Antigamente as mulheres seriam fáceis? Difícil era a linguagem de Pero Vaz de Caminha. Boas falas, Marcelo!
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