terça-feira, 1 de agosto de 2017

A gota d’água


* Por Francisco Simões


Uso o titulo de uma das maravilhosas composições de Chico Buarque como título deste texto porque julgo que ele cabe muito bem no que vou argumentar. Que me desculpem os que discordarem de mim, e sei que haverá alguns até porque já me escreveram antes dizendo sua opinião contrária a minha em conversas virtuais.

Não importa, sou democrata e tenho que aceitar críticas com discordâncias sejam elas quais forem, mesmo que eu não concorde. Isto é outro ponto. Entre aceitar e respeitar impõe-se também o discordar evidentemente. Afinal a crítica é também um comportamento democrático de quem discorde dos meus argumentos e reconheço o direito de assim se expressarem desde que educadamente, claro.

Ultimamente eu tenho evitado escrever sobre política só o fazendo eventualmente para um ou outro amigo em troca de opiniões. O quadro que aí está, tanto no plano federal como no Estadual, em me referindo ao nosso Rio de Janeiro, é desanimador. Alianças impensáveis estão a ser feitas por partidos políticos.

Afinal o PMDB, apoiando o PT no âmbito Federal há 14 amos, decide agora no Rio apoiar Aécio Neves, PSDB, numa troca de interesses em que se alia também ao Cesar Maia, ex candidato a Governador e agora a Senador no lugar do Cabral.

Cesar chegou a se dizer “honrado” com o convite de Pezão, Governador do Rio quando Cabral saiu. E pensar que Cesar Maia o criticava até a algumas semanas caçando votos para si. O Prefeito do Rio, que não foi consultado e é do PMDB chamou toda esta tramóia de “suruba eleitoral”. Uma vergonha.

São muitos os críticos de nossa mídia que indicam e condenam o comportamento e as decisões do atual governo federal. Estou com eles, pois embora no passado mais distante eu tenha apoiado o PT, como tantos milhões de brasileiros o fizeram, ou seja, muitos também que hoje criticam já apoiaram o próprio PT antes, a verdade é que de há muito o governo petista entre acertos e erros vem desagradando creio que à maioria do povo brasileiro.

Antes, quando Lula foi eleito, é bom lembrar aos de memória fraca que o que mais contribuiu para o PT chegar ao poder foi o lamentável segundo mandato do governo FHC, lembram? Sem falar nos muitos escândalos e denúncias que se não geraram naquele tempo um “mensalão” do PSDB foi justamente porque o Procurador Geral da República de então atuou diferentemente do atual.

Gosto de relembrar aos que na época também se queixavam, inclusive a mim em pleno governo FHC, que a mídia em geral tratou de rotular o então Procurador da República, de “Engavetador Geral da República”. Fizeram-no justamente porque as denúncias, e foram dezenas delas, acabaram nunca saindo de debaixo tapete.

Lembro também que em pleno primeiro mandato, pela primeira vez na história deste país, um Presidente da República, no caso o ilustre FHC, empenhou-se e muito num projeto para se criar a reeleição. Boa parte da mídia o acusou de estar agindo em proveito próprio. Claro que foi, pois o real estava em grande evidência e seria fácil para ele se reeleger. Não deu outra.

Entretanto o projeto da reeleição teve muitas denúncias semelhantes às do “Mensalão do PT”, quando até políticos denunciaram que estavam “leiloando” votos para aprovarem o tal projeto do PSDB no Congresso. Em que deu? Em nada, o projeto foi aprovado e FHC reeleito.

Acredito que alguns não vão gostar dessas lembranças porque no momento o foco é atacar o atual governo, com o que eu concordo, mas não sou desmemoriado e faço questão de recordar o que outros preferem “engavetar” em suas recordações. Apagar esta memória não dá e seria até desonesto.

Vai aqui mais um pouco de “munição” para os eventuais “desmemoriados” que o Lula se candidatou e perdeu três, repito três eleições seguidas para Presidente da República. A maioria de nosso povo procurava evitar um incerto governo do PT. Eles não confiavam no programa nem nas promessas dos petistas e assim foram barrando as intenções de Lula ser alçado ao poder maior.

Quando Lula foi enfim eleito pela primeira vez seu opositor era o José Serra, este que sempre carrega um índice elevado de rejeição. Lembro muito bem que o ilustre FHC, recém saído do Governo, não se empenhou na campanha de Serra e deixou mesmo de comparecer até em horários eleitorais desse. Nosso povo não tinha opção, ou repetia uma linha de governo que já o desagradava ou permitia a mudança que tanto evitara antes. Nossa gente resolveu então arriscar.

Não adianta agora ficar a chamar os eleitores que ajudaram o PT a ser alçado ao poder maior disto e daquilo, porque foram justamente os muitos votos de tantos que antes votaram em FHC que depois ajudaram Lula a ser Presidente. Desmentir isto é ir contra a verdade histórica.

Pior é verificar que mesmo estourando o tal “Mensalão do PT” em pleno primeiro mandato de Lula, nossa gente o reelegeu anos depois e acabou ainda entregando o Governo a D. Dilma. Vão se queixar do quê? Havia então uma convicção de que o PT era o melhor para o país, ou não? Eu não votei em Lula para o segundo mandato nem em D. Dilma antes e não votarei agora. Repito o que já disse antes.

Pôr a culpa só nas costas do que chamam de nosso povão é injusto, porque por trás dos bastidores sempre houve e continua a haver a participação e o apoio de empresários, industriais, banqueiros, etc em naturais trocas de interesses. Não são apenas os programas assistencialistas que têm ajudado a eleger e reeleger governos do PT. Afirmar isto é demonstrar um desespero de quem tenta evitar um novo governo petista, todavia não sabe como agir na oposição.

Muitos dos que andam a se dizer oposicionistas não têm nem cacoete para tal. Refiro-me tanto ao que me contam se passa nas redes sociais que eu não freqüento assim como os que ficam a repassar coisas horríveis, mal feitas, com letras coloridas imensas, verdadeiros “carros alegóricos” que mais prejudicam do que ajudam numa campanha desorganizada, mal elaborada, etc. Devem pensar que todo mundo é idiota ou aceita qualquer lixo como bandeira de oposição.

Nas ruas não vejo manifestações organizadas como no passado quando lutamos por tantas causas em plena ditadura. Não se firma posição respeitável com badernas, arruaças, quebra-quebra, e pior, sem lideranças que se imponham. Por outro lado adotam agora o xingar grosseiramente quem governa usando palavras de baixo calão seja em ambiente público ou na internet.

Como poderemos cobrar ética de políticos se nós nos comportarmos sem ética, sem educação, sem compostura, sem mostrarmos uma oposição que se faça respeitar? Assim não iremos a lugar algum. Não é à toa que recentes pesquisas, se derrubam os índices anteriores de Dilma, não elevam tanto os de seus opositores, mas mostram uma grande insatisfação com os políticos em geral quando optam por votar em branco, nulo, ou se absterem de votar. Posso me incluir neste grupo.

Cuidado. Pensem bem antes de agir e o façam ao menos com competência. Até para se fazer oposição há que ter ética respeito aos demais concorrentes e agir com firmeza sem exagerar nos termos e/ou acusações irresponsáveis que acabam por nos colocar no mesmo nível daqueles que nós queremos ver derrotados.

Gente acorda e aprendam a se comportar como respeitável oposição. Mudem esta tática de uma guerrilha verbal e de atitudes agressivas das piores que tenho visto. Para finalizar quero lhes lembrar que esta próxima eleição pode ser a gota d’água na política brasileira ou quiçá no regime vigente. Dizem que quem avisa amigo é.

Faço questão de lembrar que sou e serei sempre contra esta excrescência que é o voto obrigatório. Nenhuma nação desenvolvida, ou do primeiro mundo, adota isto. Sou pelo voto facultativo.


(Artigo escrito em 2014, em plena campanha para as eleições presidenciais).


* Jornalista, poeta e escritor.




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