domingo, 6 de novembro de 2016

Cinema


* Por Fábio Maia


Anibaldo sempre foi um rapaz alegre, divertido. Fazia sucesso com as mulheres e gostava não só de estar presente nas festas e reuniões com os amigos, como também sabia tirar proveito de cada tipo de situação. O que ninguém sabia, no entanto, é que ele sofria de um mal: filmes de terror.

Anibaldo não conseguia assistir a este tipo de filme. Acreditava em espíritos e morria de medo deles. Tinha medo até de escovar os dentes, pois “nunca se sabe se alguém irá aparecer atrás de mim quando eu fechar o espelho”. E, no meio de tanto pavor, acabou por conhecer Cléa, a menina mais bonita da escola.

Combinaram de sair e foram ao cinema. O problema é que os ingressos para a comédia romântica que ela tanto queria assistir já estavam esgotados. O filme de super-heróis? Só os assentos de frente ao telão estão disponíveis, senhor. Sobrou o filme de terror. “Bom, já que viemos até aqui, vamos assistir esse de espíritos, mesmo”, disse Cléa, enquanto Anibaldo tirava um terço do bolso.

Compraram três ingressos: um para ela, um para ele e outro para o cagaço que Anibaldo estaria prestes a sentir. Sentaram-se na última fileira. Os trailers passaram rápido. O filme começa.
– Nossa, eu tô todo cagado. – diz Anibaldo.
– O quê?
– Eu tô todo excitado! Esse filme! Nossa, parece ótimo…
– Ah, sim. Eu tinha entendido outra coisa.
– É porque você está amaldiçoada.
– O quê!?
– Você é abençoada! Meu Deus, que alegria. Dá até menos medo de assistir esse filme com você do meu lado!
– Você está com medo do filme, Aní? – ela o chamava de “Aní”. – Porque não tem problema nenhum se você estiver…
– Medo? Que isso. Eu tô tranquilíssimo. É só essa…

Uma cena surpreende Anibaldo, que não se aguenta:
– Puta que pariu! Quequié isso, minha gente? Vamos embora.
– Aní, você tem certeza que está tudo bem? As pessoas estão olhando…
– Elas não são pessoas. São mensageiros do mal.
– Aní, já chega! Você está surtando! É o nosso primeiro encontro e você está me fazendo passar vergonha. Por favor, você pode se comportar e assistir o filme até o final?
– Tudo bem. Mas tem um preço.
– E qual é o preço, Aní?
– Eu não vou conseguir dormir sozinho à noite…


* Jornalista.

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