sábado, 12 de novembro de 2016

Além do módulo lunar

* Por Clóvis Campêlo


No dia em que o homem chegou à Lua, eu posei no seu coração.

Todos a chamavam de Lenita e durante longos meses flertei com ela em silêncio, tímido e apaixonado.

Nunca imaginei que a conquistaria um dia. Afinal, ela tinha namorado com os caras mais gabaritados do udigrudi recifense, intelectuais e cineastas, e eu era apenas um rapaz latino-americano que morava no subúrbio e gostava de jogar futebol e curtir a praia.

Vimos tudo pela televisão, em preto e branco (o homem na lua).

Depois a beijei na escada do prédio onde morava. Na parede do corredor, havia uma guelra de baleia. Ela foi a testemunha muda de tudo o que houve naquela noite.

Depois de beijos e abraços, ela, completamente cínica e excitada, pediu para ir ao banheiro. Era só um pretexto para tirar a calcinha.

Sentou-se no primeiro vão da escada e deixou que eu acariciasse os seus pelos pubianos.

Respirava sofregamente quando lhe alcancei o clitóris e introduzi os dedos na sua rubra vagina.

Gozou ali mesmo, nos pés da escada, enquanto Armstrong enfiava o mastro da bandeira americana no solo lunar.

Um grande passo para a humanidade e eu cheirando os dedos atrevidos que havia invadido aquele espaço precioso.

Naquela noite não lavei às mãos ao chegar em casa. Aquele cheiro delicioso me perturbou por várias horas. Só me acalmei depois do gozo solitário.

Aquela seção maravilhosa se repetiria por muitas noites, até que um dia acabamos o namoro.

Depois, sempre que passava por ali e a via na janela do apartamento, sorria de satisfação.

Ela também sorria, acho que curtindo as mesmas lembranças.

Recife, 2008

* Poeta, jornalista e radialista.


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