Três por quatro
* Por
Vitor Orlando Gagliardo
João Pedro estava com
pressa. Correndo até a sala, pediu ajuda à mãe na hora de dobrar a camisa. Sem
entender a correria do filho, Dona Sônia o questionou. João apenas disse que se
tratava de uma entrevista de emprego.
Ela então o ajudou,
beijou-lhe a testa e disse que estaria rezando por seu sucesso.
João chegou dez minutos
antes do combinado. Suas pernas tremiam, ora pelo nervosismo, ora pelo
ar-condicionado. A sala estava cheia. Ficou ansioso.
Não era a primeira que
passava por aquele processo seletivo. Pelo contrário. João era um experiente em
entrevistas, mas sua disposição para trabalhar era de um novato.
Os minutos passavam, as
pessoas entravam e saiam, outras chegavam e suas pernas tremiam cada vez mais.
Finalmente chegou sua
vez. Após inúmeros insucessos, resolveu agir de forma diferente. Em vez de
falar de suas experiências na área, resolveu apostar em uma resposta que estava
treinando nos últimos dias.
Como de praxe, o
entrevistador perguntou:
- Fale um pouco sobre
você.
João respirou fundo e
começou:
- Para minha mãe ...
sou bonito. Para meu pai ... sou esforçado. Para meus familiares ... sou
jornalista. Para meus amigos ... sou fã da Legião Urbana. Para os estranhos ...
sou calvo, uso óculos e sou comunicativo.
E continuou:
- Para os fãs de
Caetano ... sou superbacana. Para os fãs de Lulu ... sou o último romântico. Para
os fãs de Cazuza ... sou exagerado. Para os fãs de Raul Seixas ... sou a luz
das estrelas. Para os fãs de Belchior ... sou apenas um rapaz latino americano
...
Terminada a entrevista,
João foi para a casa. Sentia fome. Ao chegar em casa, falou para a mãe:
- Para os empresários
... não tenho experiência. Para o governo ... sou apenas um número entre tantos
outros desempregados.
Inutilia
Truncat (1)
Acabe com as
inutilidades.
*Jornalista
- govitor@yahoo.com.br
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