quinta-feira, 12 de junho de 2014

Três por quatro

* Por Vitor Orlando Gagliardo

João Pedro estava com pressa. Correndo até a sala, pediu ajuda à mãe na hora de dobrar a camisa. Sem entender a correria do filho, Dona Sônia o questionou. João apenas disse que se tratava de uma entrevista de emprego.

Ela então o ajudou, beijou-lhe a testa e disse que estaria rezando por seu sucesso.

João chegou dez minutos antes do combinado. Suas pernas tremiam, ora pelo nervosismo, ora pelo ar-condicionado. A sala estava cheia. Ficou ansioso.

Não era a primeira que passava por aquele processo seletivo. Pelo contrário. João era um experiente em entrevistas, mas sua disposição para trabalhar era de um novato.

Os minutos passavam, as pessoas entravam e saiam, outras chegavam e suas pernas tremiam cada vez mais.
Finalmente chegou sua vez. Após inúmeros insucessos, resolveu agir de forma diferente. Em vez de falar de suas experiências na área, resolveu apostar em uma resposta que estava treinando nos últimos dias.

Como de praxe, o entrevistador perguntou:
- Fale um pouco sobre você.

João respirou fundo e começou:
- Para minha mãe ... sou bonito. Para meu pai ... sou esforçado. Para meus familiares ... sou jornalista. Para meus amigos ... sou fã da Legião Urbana. Para os estranhos ... sou calvo, uso óculos e sou comunicativo.

E continuou:
- Para os fãs de Caetano ... sou superbacana. Para os fãs de Lulu ... sou o último romântico. Para os fãs de Cazuza ... sou exagerado. Para os fãs de Raul Seixas ... sou a luz das estrelas. Para os fãs de Belchior ... sou apenas um rapaz latino americano ...

Terminada a entrevista, João foi para a casa. Sentia fome. Ao chegar em casa, falou para a mãe:
- Para os empresários ... não tenho experiência. Para o governo ... sou apenas um número entre tantos outros desempregados.

Inutilia Truncat (1)
Acabe com as inutilidades.

*Jornalista - govitor@yahoo.com.br



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